Lar Turismo Dete Lima: estilista coroa as deusas do ébano do Ilê Aiyê – 16/02/2025 – Guia Negro
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Dete Lima: estilista coroa as deusas do ébano do Ilê Aiyê – 16/02/2025 – Guia Negro


O bloco afro Ilê Aiyê elegeu ontem (15/02) sua rainha do carnaval, a deusa do ébano, na 44ª Noite da Beleza Negra. Entre as 15 concorrentes, a vencedora foi a dançaria, escritora, pesquisadora e comunicadora Lorena Bispo, 22 anos. Quem fez os turbantes e figurinos das apresentações e que vai coroar a nova deusa do ébano na saída do bloco no sábado de carnaval (01/03) é a estilista de moda afro Dete Lima.

Aos 71 anos, ela foi homenageada na Noite da Beleza Negra ao lado de deusas do ébano eleitas em anos anteriores e que já coroou. Dete tem orgulho de dizer que nasceu dentro do Terreiro Jitolu e de que não precisou ir para a maternidade. Ela é segunda dos seis filhos de Mãe Hilda Jitolu, que tem como primogênito Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, que em 1974, com o apoio da mãe e irmãos fundou o primeiro bloco afro no Brasil, o Ilê Aiyê.

Dete conta que na infância sentava para ouvir as histórias dos mais velhos, além das brincadeiras de correr e de brincar de boneca. Ela já fazia roupas para os brinquedos e improvisava panos da própria casa na cabeça. “Vocês são lindos e tem que ter orgulho disso, orgulho de ser negro”, dizia Mãe Hilda aos filhos na época.

Desde a juventude, Dete participava de grupos de mortalha que saíam no carnaval. Quando Vovô resolveu fundar o bloco afro, ela não foi necessariamente convidada para fazer as roupas. “Eu já fui determinando que eu ia fazer o figurino. Na época não tinha máquina industrial, era máquina de casa”, conta. O primeiro ano do bloco foi com cerca de 100 pessoas desfilando, tendo a comunidade e família envolvidas na produção.

Depois de quatro festas de rainha, o vizinho da família Sérgio Roberto idealiza a noite da beleza negra, um concurso para eleger a deusa do ébano, como passa a ser chamada a rainha do bloco. Desde 1980 mulheres negras dançam, exibem roupas afro e falam sobre a importância da negritude numa noite dedicada a elas e sua beleza. “É um momento de muita emoção. De exaltar a história de cada uma, que está realizando o sonho da mãe, da avó”, conta Dete.

Com 44 festas, a estilista lembra de um ano em que não teve tempo de produzir o turbante de uma das candidatas que, aos prantos, relatou a frustração com o ocorrido. “Passei a me dedicar ainda mais e hoje temos uma equipe que ajuda não só com os figurinos das candidatas, mas também da banda e apresentadores. É importante passar esse legado”, afirma.

Ela relata que foi uma das primeiras a trabalhar com tranças profissionalmente e que fica feliz de ver o penteado ter se popularizado nos salões de cabelereiros. Dete já foi matéria na Vogue e desfilou no São Paulo Fashion Week ao lado da estilista Isa Isaac Silva, que criou uma coleção em sua homenagem. “É uma realização. Ver que seu trabalho está sendo respeitado, que estão dando a importância que merece”, ressalta. Mãe de 4 filhos e avó de sete netos, ela é a ekedi (zeladora dos orixás) mais velha e braço direito de Mãe Hildelice Santos, sua irmã biológica, que substituiu a mãe à frente do Terreiro Jitolu.

Vovô diz que a contribuição de Dete no bloco é criar fantasias, com respeito e conhecimento. Ele lembra que a Noite da Beleza Negra começou na rua, pequena e se tornou o evento pré-carnavalesco mais importante de Salvador. “Mas, infelizmente, os 50 anos dos blocos afros não tiveram o mesmo destaque dos 40 anos do axé music”, reclama Vovô.

Já a apresentadora Val Benvindo, sobrinha e afilhada de Dete, considera que a madrinha revolucionou a história da estética negra e funciona como farol na trajetória das mulheres negras da família. “Tive o privilégio de ver tudo isso de dentro de casa”, afirma.

Filha de oxum, Dete Lima carrega uma elegância e doçura e um tom de voz baixo como quem pede respeito para ouvi-la. Para ela, o Ilê Aiyê é “o ar que respira e o sangue que corre nas veias”, e define beleza negra como “empoderamento, fortalecimento, riqueza. (Beleza negra) é poder fazer o que você gosta de fazer, entrar em qualquer lugar com a cabeça erguida, é você ser elegante, olhar sempre para o futuro, não esquecer que é negra, que é bonita e pode ser o que quiser ser”.


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