Nos últimos anos, as tendências políticas nas eleições presidenciais na América do Sul têm oscilado muito.
Em 2022, a esquerda venceu os dois pleitos para presidente realizados no subcontinente (na Colômbia e no Brasil). Em 2023, a direita e a centro-direita saíram vitoriosas nas três eleições presidenciais sul-americanas do ano (Paraguai, Equador e Argentina).
Este ano, a esquerda “venceu” na Venezuela e no Uruguai – as aspas são aqui utilizadas porque o mundo inteiro sabe que a eleição que manteve o ditador venezuelano Nicolás Maduro no poder foi fraudada.
Hoje, a esquerda e a centro-esquerda governam sete países da América do Sul (Brasil, Colômbia, Venezuela, Chile, Bolívia, Guiana e Suriname) e a direita e centro-direita, os cinco restantes (Argentina, Equador, Paraguai, Uruguai e Peru) – placar que mudará para oito a quatro em março, quando o centro-esquerdista Yamandú Orsi tomará posse no Uruguai.
Uma pesquisa da CB Consultoria Opinião Pública, da Argentina, divulgada na quarta-feira (25), mostrou que três presidentes de direita (o argentino Javier Milei, o uruguaio Luis Lacalle Pou e o paraguaio Santiago Peña) foram os líderes mais bem avaliados da América do Sul em dezembro, enquanto alguns de esquerda ficaram em posições mais baixas, incluindo o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, classificado em quinto lugar.
Em 2025, cinco eleições presidenciais serão realizadas na América do Sul, com quatro das cadeiras de presidente hoje ocupadas pela esquerda e centro-esquerda no subcontinente em disputa. Dessa forma, a direita e a centro-direita têm a chance de equilibrar e até virar o jogo político sul-americano. Confira onde ocorrerão esses embates:
Equador
A primeira eleição presidencial de 2025 na América do Sul será no Equador, em 9 de fevereiro. Se necessário, um segundo turno será realizado em 13 de abril.
O presidente Daniel Noboa, que concorrerá à reeleição, está há apenas 13 meses no cargo porque o Parlamento foi dissolvido e eleições presidenciais e legislativas foram convocadas no Equador em 2023 pelo então mandatário Guillermo Lasso, em meio a uma crise política que quase resultou no seu impeachment.
Além disso, em abril, a população do Equador aprovou em referendo propostas do governo para combate à criminalidade, como a participação das Forças Armadas em apoio à polícia na luta contra o crime organizado e o aumento das penas para crimes como terrorismo e seu financiamento, tráfico de pessoas, entre outros.
As pesquisas indicam que a grande adversária de Noboa na eleição deve ser novamente a correísta Luisa González, derrotada pelo atual presidente no segundo turno de 2023.
Bolívia
A Bolívia terá sua eleição presidencial em 17 de agosto, em meio a uma disputa política fratricida dentro da esquerda.
O atual presidente, Luis Arce, e o ex-mandatário Evo Morales (2006-2019) integram o partido Movimento ao Socialismo (MAS), rachado devido às ambições de ambos de serem o candidato da legenda na eleição presidencial do ano que vem.
O líder cocaleiro acusou seu afilhado político de corrupção e de se desviar dos preceitos socialistas do MAS.
No início deste ano, o Tribunal Constitucional da Bolívia decretou a inelegibilidade de Morales, apontando que o ex-presidente não poderia mais se candidatar por já ter ocupado a presidência por dois mandatos. Mesmo assim, o ex-mandatário segue exercendo pressão política, por meio de marchas e até invasão de quartéis.
Em junho, após uma mobilização militar frustrada contra Arce, o comandante que coordenou a ação disse que se tratava de um “autogolpe” para gerar apoio ao atual presidente. Morales disse concordar com essa versão. Depois, o ex-presidente foi acusado de estupro de vulnerável e tráfico de pessoas por um episódio de 2016.
Com a disputa dentro da esquerda e a crise econômica na Bolívia, a direita e a centro-direita tentam voltar ao poder. No último dia 18, os ex-presidentes Carlos Mesa (2003-2005) e Jorge Quiroga (2001-2002) anunciaram um acordo com dois líderes da oposição, o empresário Samuel Doria Medina e o ex-governador de Santa Cruz Luis Fernando Camacho, que está preso desde dezembro de 2022, para apresentar uma candidatura única de oposição em 2025.
Chile
O presidente de esquerda Gabriel Boric, no poder de 2022, tem um mandato conturbado, com duas propostas de novas constituições para o Chile (uma de viés esquerdista, outra conservadora) sendo rejeitadas nas urnas; acusações de corrupção contra membros do seu governo e de assédio sexual contra ele; e aumento da violência, que já vinha do final do mandato do conservador Sebastián Piñera, puxada pela atuação de gangues transnacionais.
Para tentar remediar esse problema, o governo de Boric aumentou a segurança nas fronteiras e as deportações de imigrantes (especialmente venezuelanos) por infração de normas migratórias e crimes.
A legislação chilena não permite mandatos presidenciais consecutivos, portanto, Boric não poderá concorrer à reeleição.
No campo da esquerda, entre os nomes cogitados para a disputa de 16 de novembro, estão Camila Vallejo, ministra da Secretaria Geral de Governo; Carolina Tohá, ministra do Interior e da Segurança Pública; e a ex-presidente Michelle Bachelet (que já presidiu o Chile por dois mandatos, 2006–2010 e 2014–2018).
No campo conservador, os nomes de maior destaque são Evelyn Matthei, prefeita de Providencia, e José Antonio Kast, derrotado por Boric no segundo turno de 2021.
Guiana e Suriname
Os dois países menos populosos da América do Sul terão eleição presidencial, com o esquerdista Irfaan Ali buscando a reeleição na Guiana, em pleito em data ainda a ser definida, e o centro-esquerdista Chan Santokhi tentando o mesmo no Suriname.
Neste país, o presidente é eleito de forma indireta, escolhido pelo Parlamento definido nas eleições legislativas, que em 2025 serão realizadas em 25 de maio. Na Guiana, o indicado (definido antes do pleito) do partido ou aliança com mais votos na eleição para o Parlamento se torna presidente.
Os dois países vivem a euforia da descoberta de grandes reservas de petróleo e gás. Essa riqueza tem levado a Guiana a ostentar os maiores aumentos de PIB do mundo nos últimos anos, o que atraiu a atenção da Venezuela, que retomou uma reivindicação sobre a região guianense do Essequibo que vem desde o final do século XIX – inclusive com ameaças de invasão por parte de Maduro.
No Suriname, um projeto de perfuração offshore, chamado de Bloco 58 e realizado entre 2019 e 2023, descobriu grandes reservas de petróleo e gás, cuja produção deve começar em 2028.
Eleições parlamentares
Todos os países citados terão também eleições legislativas nacionais, enquanto Argentina e Venezuela terão apenas pleitos parlamentares em 2025.
Na Argentina, em 26 de outubro, haverá eleição para 127 das 257 cadeiras na Câmara dos Deputados e 24 dos 72 assentos no Senado.
O partido A Liberdade Avança (LLA, na sigla em espanhol), do presidente Javier Milei, espera ampliar suas bancadas nas duas casas, já que possui apenas 40 cadeiras na Câmara e sete no Senado – o que obriga o governo a depender do apoio do Proposta Republicana (PRO), do ex-presidente Mauricio Macri, com quem Milei vem se desentendendo.
Na Venezuela, em data ainda a ser definida, haverá eleição para a Assembleia Nacional, mas espera-se o cenário de sempre: opositores impedidos de participar, perseguição ou veto à observação independente e resultados fraudulentos.
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