Até dias atrás, observadores do mercado financeiro se perguntavam: o que será capaz de fazer o dólar cair abaixo de R$ 6? Os acontecimentos desta semana trouxeram a resposta. O que “aliviou” os operadores foi, primeiro, a especulação sobre a saúde do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). E, depois, a “pancada” do Banco Central, que promoveu a maior alta de juros em dois anos e meio.
Coincidência ou não, o dólar voltou a subir após a notícia de que o procedimento realizado em Lula nesta manhã foi bem-sucedido.
Sob influência da alta dos juros, que costuma atrair investimento estrangeiro em renda fixa, a divisa norte-americana havia começado o dia abaixo de R$ 5,90. Porém, se recuperou mais para o fim da manhã e passou a oscilar entre R$ 5,99 e R$ 6 por volta de 13h. Na sequência, o câmbio beirou os R$ 6,05 e por volta de 15h era vendido a R$ 6,03, em alta de aproximadamente 1%.
Há relatos de que importadores aproveitaram o momento de cotações mais baixas para comprar dólares, o que empurrou a moeda novamente acima dos R$ 6. Nesta quinta-feira (12), o BTG Pactual divulgou relatório afirmando que o risco fiscal tende a manter o dólar acima de R$ 6 e pode mesmo levá-lo acima de R$ 7. O banco revisou suas estimativas e agora prevê a divisa cotada a R$ 6,25 ao fim de 2025 e R$ 6,36 em dezembro de 2026.
Dólar caiu por dois dias em meio a notícias sobre saúde de Lula e expectativa pela Selic
Na segunda-feira (10), o dólar alcançou sua maior cotação nominal de fechamento, de R$ 6,08, sob influência da paralisia do pacote fiscal no Congresso. A melhora do mercado começou no dia seguinte, quando se soube da cirurgia feita às pressas para drenar uma hemorragia dentro do crânio do presidente. O dólar fechou em queda de 0,6%, cotado pouco abaixo de R$ 6,05. A B3, Bolsa de Valores, subiu 0,8%.
“Fico até sem jeito de falar isso uma vez que se trata da vida de alguém, mas nitidamente a Faria Lima vê com bons olhos essa piora do quadro clínico do presidente”, escreveu o economista André Perfeito em comentário enviado à sua lista de transmissão. “A leitura é que as chances de Lula concorrer em 2026 diminuem e assim nomes da direita tendem a ganhar força na corrida eleitoral, o que poderia indicar ajustes fiscais mais fortes lá na frente”, acrescentou.
Na tarde de quarta (11), o mesmo economista resumiu da seguinte forma as negociações: “Bolsa sobe 2 mil pontos e dólar cai abaixo dos R$ 6 depois de notícia sobre novo procedimento em Lula. Pronto, o comentário era esse. E todos nós sabemos o que isso quer dizer”. A Bolsa fechou o dia em alta de 1%. O câmbio, em baixa de 1,3%, vendido a R$ 5,97. Além da saúde do presidente, a expectativa de forte alta da taxa básica de juros (Selic) também parece ter influenciado as operações.
Nesta quinta, o médico de Lula informou que o procedimento realizado de manhã cedo “foi um sucesso” e que o presidente deve ter alta no início da semana que vem. O que, a julgar pelo comportamento dos últimos dias, pode abalar o humor das mesas de investimentos.
O dólar começou o dia em nova queda, chegando a cair abaixo de R$ 5,90, também sob influência de um leilão de dólares promovido pelo BC. Por volta de 11h30, porém, a moeda era vendida perto de R$ 5,95, aproximando-se da cotação da véspera. Uma hora depois, a cotação já estava em R$ 5,99. E chegou à casa dos R$ 6 perto de 13h, testando novos patamares em seguida.
A máxima do dia até a última atualização deste texto foi de R$ 6,05. Segundo o noticiário financeiro, importadores aproveitaram a cotação mais baixa em duas semanas para comprar a moeda norte-americana, o que elevou o preço.
Ao subir Selic em 1 ponto, Copom deu aviso mais “duro” desde 2016
No início do dia, o mercado reagiu ao aumento de 1 ponto porcentual da Selic e, principalmente, a um aviso dado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do BC. Segundo o comunicado, a tendência é de que 2025 comece com duas altas do mesmo tamanho.
Segundo a consultoria LCA, o texto divulgado nesta quarta foi o mais “hawkish” (“duro”) desde 2016, ano em que Dilma Rousseff (PT) foi deposta. A Selic ficou 15 meses estacionada em 14,25% ao ano entre julho de 2015 e outubro de 2016 – e é para esse patamar que o BC pretende levar a taxa no começo do próximo ano.
O economista-chefe da G5 Partners, Luiz Otávio Leal, descreveu o movimento do BC como “agressivo” e disse entender que ele tem dois objetivos: “O primeiro seria dar um choque de credibilidade, mostrando que o Banco Central vai fazer de tudo para trazer a inflação para a meta, independentemente da postura fiscal do governo. O segundo seria dirimir as dúvidas com relação à postura do BC quando da mudança da sua diretoria e, principalmente, do seu presidente”.
Em janeiro, Gabriel Galípolo, indicado de Lula, passa a comandar a autoridade monetária, em substituição a Roberto Campos Neto. Com outras substituições já programadas, o Copom terá sete integrantes nomeados pelo atual governo e dois remanescentes da gestão de Jair Bolsonaro (PL).
A maior dúvida do mercado era sobre as primeiras decisões do BC sob o comando de Galípolo. Com a sinalização feita nesta quarta, ficam “contratados” dois aumentos fortes na Selic já na largada, o que em tese tranquiliza investidores em relação à condução da política monetária.
Alta da Selic reduziria cotação do dólar no curto prazo, segundo previsão de economistas
Vários economistas ligados a bancos e casas de investimento afirmaram esperar queda do dólar no curto prazo após a decisão e o comunicado do Banco Central sobre a Selic. Mas, considerando o rápido “rebote” da moeda norte-americana nesta quinta, quando as cotações retomaram fôlego após começar o dia em forte baixa, a duração do alívio no câmbio é incerta.
“A decisão ousada e a orientação futura demonstram o compromisso do Banco Central em conter a inflação e as expectativas inflacionárias, além de recuperar sua credibilidade e a confiança dos investidores. Esperamos que o real reaja positivamente à notícia”, escreveu Eirini Tsekeridou, analista de renda fixa do banco suíço Julius Baer.
Para Claudio Pires, sócio-diretor da MAG Investimentos, com a decisão desta quarta o Banco Central se colocou “à frente do mercado” e não mais “atrás da curva”. “O BC antecipou muito mais do que o mercado acreditava, o que deve ser bem recebido pelo mercado”, apontou.
A Confederação Nacional da Indústria (CNI) usou palavras como “incompreensível” e “totalmente injustificada” para definir a escolha do Copom. “Não faz sentido no atual contexto econômico, marcado pela desaceleração da inflação em novembro e pelo pacote efetivo de corte de gastos apresentado pelo governo federal”, afirmou a entidade, em nota.
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