Dono de uma empresa que vende cafés brasileiros para diferentes países, Edgard Bressani passa metade do ano em viagem ao exterior. Por onde anda, faz questão de conhecer as cafeterias locais e a cultura cafeeira do país.
Por isso, conhece como poucos as boas cafeterias do mundo. Elenca duas como suas preferidas: uma em Paris; outra, em Istambul.
Avaliador profissional de café e jurado de competições internacionais de barista, ele é autor do livro “Guia do Barista”, uma das primeiras obras sobre a profissão no Brasil. Ele é um dos principais responsáveis pela difusão da cultura de barismo no país.
Com essa experiência, já tomou café com todos os perfis sensoriais imagináveis. Mas, se tivesse que escolher um para tomar pelo resto da vida, seria uma bebida com notas frutadas e baixíssimo amargor.
Mas ressalta: “há café maravilhoso no mundo todo. Até em Yunnan, na China, tomei cafés deliciosos”.
Esta é a seção “Um Café e Dois Dedos de Prosa”, na qual toda semana alguma personalidade –seja especialista ou mera apreciadora– responde cinco perguntas sobre a bebida.
Confira abaixo a entrevista com Brassani. Aliás, se você, leitor, pudesse indicar qualquer personalidade para participar desta seção, quem gostaria de ver por aqui?
Um café e dois dedos de prosa com… Edgard Bressani
1. Se tivesse que escolher um café para tomar pelo resto da vida, como seria?
Eu gosto muito de perfil de café mais frutado, seja arábica ou canéfora, independente de ser um café natural ou fermentado.
No Brasil, minha preferência, quando se trata do arábica, fica com os sabores dos cafés das variedades Geisha, Arara e Bourbon Amarelo. Do canéfora, aprecio bastante os clones R25, R10 e R15 dos Robusta Amazônicos. Café para mim sempre sem adição de levedura e não me agradam nada os infusionados.
Mas gosto muito dos cafés do Panamá, Quênia, Etiópia e outras origens. Há café maravilhoso no mundo todo. Até em Yunnan, na China, tomei cafés deliciosos. Para mim sempre uma bebida limpa e de preferência com baixíssimo amargor.
Em resumo, seria um bom café frutado o que busco no meu café da manhã e ao longo do dia nas cafeterias por onde passo durante os 180 dias que viajo ao redor do mundo ou mesmo no país. Nem sempre posso escolher, porque muita gente me oferece diferentes cafés para experimentar nas cafeterias, torrefações ou empresas que visito. Sou super aberto a provar qualquer café, mas acima falo sobre minha preferência pelo frutado quando posso escolher.
2. O que não pode faltar na sua pausa para o café?
Um bom livro ou uma boa prosa e algo para acompanhar, como um queijo, um pão de queijo ou um bolo quentinho. Isso quando estou no escritório. Nas cafeterias sou curioso pelos doces e aí fujo um pouco do trivial. Vou muito a cafeterias no Brasil também. Nunca faço reserva de hotel com café da manhã nem no Brasil e nem em outros países exatamente para poder conhecer as novidades. Sempre tem coisa nova.
3. Qual sua cafeteria preferida no mundo?
Eu tenho uma cafeteria preferida em cada país que vou. Mas a minha predileta é a Substance Café, na 30 Rue de Dussoubs, em Paris. Conheci o dono, Joachim Morceau, quando o julguei há anos no Campeonato Francês de Barismo. Depois fiquei sabendo que tinha aberto uma cafeteria e fui conhecer. Vou todo ano. Gosto tanto que tem uma foto no meu livro “O Guia do Barista”. Joachim é um showman. Serve apenas cafés acima de 88 pontos, que ficam pesados, porcionados e guardados em um “tubinho” lacrado em um freezer. Para entrar é preciso reservar no Instagram. Fazia fila e a espera era longa. Por isso passou a fazer reserva. Como ele trabalha sozinho, com cada café que ele prepara vem uma aula sobre a fazenda produtora e porque ele está preparando o café daquela maneira. É uma experiência sensorial incrível e inesquecível. Não há nada nada para comer. Apenas o café é o foco da casa.
A segunda loja é a loja conceito da Espresso Lab, em Istambul. É gigantesca e um lugar para ir para qualquer um que passe pela cidade. Imperdível. State-of-the-art! E eu volto sempre.
4. O café do futuro será…
Mais caro, eu acho. Não acredito que a produção conseguirá acompanhar a demanda, e temos questões importantes como: aquecimento global, alimentar a crescente população e o tema utilização da água para a produção de alimentos. Pode se tornar um produto de luxo. E se produção acompanhar demanda é preciso crescer com oferta cada vez maior de cafés especiais, diminuindo os comerciais porque demanda e qualidade caminham também de mãos dadas.
5. Se pudesse escolher qualquer pessoa, com quem gostaria de tomar um café e ter dois dedos de prosa?
Não tenho curiosidade em conhecer famosos. Uma pessoa que admirei foi a princesa Diana pelo carisma e causas que adotava. Seguindo a linha admiro a vida de abdicação do filho William, que não tem muita escolha, como sucessor, e precisa manter um regime e também pela adoção da causa dos sem-teto, meio ambiente e outras. Acho que gostaria de tomar um café e ter um dedo de prosa com ele por curiosidade de conhecer mais sobre como lida em ser privado de uma vida normal, sem privacidade, com notícias falsa o tempo inteiro e ainda ter que ter uma assessoria de imprensa para lidar com tudo isso por causa da boa imagem que precisa ter. Não tenho admiração pelo pai, que tem título mais importante. Por isso então escolheria o filho.
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