O presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, disse nesta sexta-feira (6), em primeira fala após tentativa frustrada de autogolpe, que agiu motivado por desespero e que não vai declarar nova lei marcial.
Em curto comunicado televisionado, Yoon afirmou que não se esquivará de processos jurídicos e que encarrega a administração do governo ao seu partido —mas não renunciou, apesar de grande expectativa em torno disso. Yoon pediu desculpas e se curvou frente às câmeras antes de encerrar o pronunciamento.
“Sinto muito e gostaria de me desculpar às pessoas que ficaram chocadas”, disse Yoon no comunicado. “Deixo a cargo do meu partido a estabilização da situação política, incluindo a questão sobre minha permanência na Presidência.”
Yoon vai enfrentar em poucas horas uma votação de impeachment no Parlamento, marcada para as 7h deste sábado no horário de Brasília (19h locais). Para conseguir os dois terços da Casa necessários para remover Yoon (200 de 300 deputados), a oposição precisa convencer apenas oito membros do partido governista a mudar de lado.
Essa possibilidade parece cada vez mais certa, uma vez que o presidente do partido governista, Han Dong-hoon, disse logo após o discurso de Yoon que sua renúncia se tornou inevitável. “Está claro que ele não está mais em condição de exercer suas funções”, afirmou Han.
Se Yoon renunciar ou for removido do cargo, o primeiro-ministro Han Duck-soo assume as funções presidenciais, conforme determina a Constituição sul-coreana. Caso a Corte Constitucional chancele a decisão do Legislativo, o que é provável, novas eleições para o cargo de chefe do Executivo precisam ser realizadas em até 60 dias.
Nos dias que se seguiram à tentativa de golpe, o líder da bancada governista na Assembleia, o deputado Choo Kyung-ho, havia dito que se esforçaria para tentar barrar um impeachment, mas que isso não significava concordância com a “lei marcial inconstitucional” de Yoon.
O presidente recorreu a esse expediente na noite de terça-feira (3) pelo horário local, a primeira vez que uma medida assim foi tomada desde o fim da ditadura do país, em 1987. O texto suspendia atividades políticas e liberdades civis e levou militares às ruas de Seul, que chegaram a invadir o Parlamento, mas recuaram. Milhares de manifestantes se voltaram contra a decisão, e horas depois Yoon recuou diante da rejeição do Legislativo.
A medida, classificada como tentativa de autogolpe pela oposição e por analistas, tinha o objetivo de anular politicamente a oposição, com quem Yoon vive sob atrito desde que venceu em 2022 por margem apertada. Impopular e alvo de acusações de corrupção, o presidente perdeu as eleições legislativas em abril deste ano e governa sem maioria no Parlamento.
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