Venezuelanos acusados de fazerem parte de gangue foram deportados dos Estados Unidos para megaprisão de Bukele em El Salvador no fim de semana. Os Estados Unidos irão impor “sanções novas, severas e progressivas” à Venezuela caso Nicolás Maduro se negue a aceitar voos de deportação, anunciou o Departamento de Estado americano nesta quarta-feira (19).
Em uma coletiva de imprensa, a porta-voz do órgão, Tammy Bruce, disse que o presidente venezuelano, que criticou a deportação de venezuelanos para El Salvador no fim de semana, afirmou:
“A Venezuela é obrigada a aceitar seus cidadãos repatriados dos Estados Unidos. Esta não é uma questão para debate ou negociação, nem merece qualquer recompensa. A menos que o regime de Maduro aceite um fluxo consistente de voos de deportação sem mais desculpas ou atrasos, os EUA imporão novas, severas e crescentes sanções”.
A porta-voz ainda fez acusações a Maduro e disse que o venezuelano “mantém laços estreitos com narcoterroristas” da Tren de Aragua, grupo acusado de extorsão, homicídios e de tráfico de drogas e de migrantes.
“A TDA está intimamente associada, alinhada e, de fato, se infiltrou no regime de Maduro. Maduro mantém laços estreitos com narcoterroristas. O regime de Maduro deve aceitar de volta todos os estrangeiros venezuelanos deportados pelos Estados Unidos, especialmente seus assassinos, estupradores, criminosos, traficantes de pessoas e outros criminosos presentes ilegalmente nos Estados Unidos. Fim da discussão”, disse.
Após a deportação de domingo (16), exibida nas redes sociais pelo presidente salvadorenho, Nayib Bukele – que, segundo o governo Trump, recebeu US$ 6 milhões para receber os venezuelanos em sua megaprisão -, Maduro exigiu que o governo Donald Trump pare com a “perseguição” e as “violações dos direitos humanos” contra os deportados.
Ele chamou a operação de “humilhação”, acusou Washington de enviá-los para um “campo de concentração” e também pediu a Bukele que “não seja cúmplice desse sequestro” e não apoie a “crueldade” cometida contra esses migrantes.
Maduro descreveu os expulsos, que segundo a Casa Branca são membros da Tren de Aragua, como “jovens trabalhadores”.
Deportados foram enviados a El Salvador no fim de semana
Trump deporta imigrantes baseado em lei de guerra
Mais de 200 pessoas identificadas como membros de uma gangue venezuelana foram deportadas pelos EUA e enviadas a El Salvador neste domingo (16), onde foram levadas a uma prisão de segurança máxima, disse o presidente salvadorenho.
A deportação aconteceu apesar de um juiz federal em Washington, D.C., ter bloqueado no último sábado (15) a aplicação da chamada “Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798” por 14 dias, dizendo que o estatuto se refere a “atos hostis” perpetrados por outro país que são “equivalentes à guerra” (entenda mais abaixo).
Em uma rede social, o presidente de El Salvador, Nayib Bukele, escreveu que 238 membros da gangue venezuelana Tren de Aragua haviam chegado, junto com 23 membros da gangue internacional MS-13.
O governo de Donald Trump firmou um acordo com Bukele para a operação, pagando US$ 6 milhões por um ano para que os imigrantes fossem mantidos na mega-prisão CECOT, em um arranjo que não seria possível com a Venezuela.
Policiais de El Salvador escoltam membros da gangue Tren de Aragua, deportados pelos EUA, no Aeroporto Internacional de El Salvador, antes de serem levados à prisão CECOT, como parte de um acordo entre os governos.
Secretaria de Prensa de la Presidencia via REUTERS
Na sexta-feira (14), o presidente dos EUA, Donald Trump, invocou a lei de guerra para deportar rapidamente os supostos membros do Tren de Aragua, uma organização criminosa ligada a sequestros, extorsão, crime organizado e assassinatos por encomenda.
O momento exato da partida dos voos dos EUA e da chegada a El Salvador não foi confirmado, mas uma publicação de Bukele sugeriu que a deportação já estava em andamento antes da ordem do juiz americano.
“Ops… tarde demais”, publicou Bukele em resposta à ordem.
O Departamento de Segurança Interna dos EUA, o Departamento de Estado e o governo de El Salvador não comentaram o caso.
O governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro disse que rejeitava o uso da lei “anacrônica” dos EUA para deportar supostos membros de gangues, afirmando que violava os direitos dos migrantes.
Donald Trump, presidente dos EUA, e Nicolás Maduro, líder do chavismo na Venezuela
Kevin Lamarque e Manaure Quintero/Reuters
A “Lei de Inimigos Estrangeiros” – mais conhecida por seu uso para justificar campos de internamento para pessoas de descendência japonesa, alemã e italiana durante a Segunda Guerra Mundial – permitiria que o governo Trump contornasse os tribunais de imigração dos EUA e removesse rapidamente os migrantes.
O governo Trump apresentou um recurso contra a decisão judicial de sábado no Tribunal de Apelações dos EUA para o Distrito de Columbia.
‘Lei de Inimigos Estrangeiros’
A “Lei de Inimigos Estrangeiros de 1798” só foi usada três vezes na história americana: na Primeira Guerra Mundial, na Guerra de 1812 e na Segunda Guerra Mundial, para a internação forçada de americanos de ascendência japonesa em campos de detenção.
Grupos de direitos civis e alguns democratas imediatamente criticaram a ideia de reativá-la para incentivar deportações em massa.
Já no sábado, o juiz federal James Boasberg emitiu uma ordem de restrição temporária por 14 dias. Segundo ele, o ato “não fornece uma base para a proclamação do presidente, dado que os termos invasão, incursão predatória realmente se relacionam a atos hostis perpetrados por qualquer nação e proporcionais à guerra”.
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