O ex-ministro da Defesa de Israel Moshe Ya’alon, um general linha-dura que ocupou o cargo entre 2013 e 2016, acusou Tel Aviv de cometer crimes de guerra e limpeza étnica na Faixa de Gaza.
“Sou obrigado a alertar sobre o que está acontecendo lá e está sendo ocultado de nós”, disse Ya’alon à emissora pública israelense Kan, no último domingo (1º). Ele afirma que radicais de extrema-direita no governo estão tentando expulsar palestinos do norte do território para restabelecer assentamentos judaicos ali. “No final das contas, estão sendo cometidos crimes de guerra.”
Antes, no sábado (30), o militar já havia alertado em uma entrevista à Democrat TV que a nação estava em uma encruzilhada e que o governo estava buscando “conquistar, anexar e realizar uma limpeza étnica”.
Ex-chefe do Estado-Maior do Exército, Ya’alon se tornou um crítico contundente de Binyamin Netanyahu após compor o segundo governo do atual premiê, entre 2009 e 2021. Antes disso, Bibi, como o primeiro-ministro também é chamado, havia governado Israel entre 1996 e 1999; depois, conseguiu voltar ao poder em 2022 com um gabinete mais à direita do que nunca.
As reações vieram no mesmo dia. O Likud, partido de Netanyahu, acusou Ya’alon de espalhar “mentiras caluniosas”, enquanto o ministro das Relações Exteriores, Gideon Sa’ar, disse que suas acusações eram infundadas.
“Tudo o que Israel faz está de acordo com a lei internacional, e é uma pena que o ex-ministro Ya’alon não perceba o dano que causou e não retire suas declarações”, disse Sa’ar em uma conferência organizada pelo jornal Israel Today.
A guerra na Faixa de Gaza já matou mais de 44 mil pessoas, segundo relatório do Ocha, escritório de ajuda humanitária da ONU, com base em dados de autoridades do território. Desses, 40 mil foram identificados, dos quais mais da metade seria formada por mulheres, crianças e idosos.
Em janeiro deste ano, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) considerou que a ocorrência de um genocídio em Gaza atualmente é plausível, apesar de não ter decidido se Israel é culpado ou não pelo suposto crime —julgamento que pode se arrastar por anos.
O tribunal, mais conhecido com Corte de Haia, determinou na ocasião que o Estado judeu tomasse medidas para evitar violações à convenção sobre esse tipo de crime.
Já o Tribunal Penal Internacional (TPI) —que, ao contrário do CIJ, julga indivíduos, não Estados— emitiu no mês passado mandados de prisão contra Netanyahu e seu ex-chefe de defesa Yoav Gallant por supostos crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
O procurador do tribunal, Karim Khan, acusa os líderes de “extermínio e/ou assassinato” e de “matar deliberadamente os civis” de Gaza de fome —o território palestino sofre uma crise humanitária sem precedentes desde que a entrada de ajuda foi restringida por Tel Aviv, no início do conflito.
Há muito os palestinos acusam Israel de tentar expulsá-los de partes de Gaza.
A campanha militar do Estado judeu, uma resposta aos ataques terroristas do Hamas que mataram cerca de 1.200 pessoas no sul de Israel, deixou mais de 44 mil mortos em Gaza e deslocou quase toda a população do território.
Nas últimas semanas, os israelenses voltaram ao norte de Gaza, dizendo que estão mirando combatentes do Hamas que se reagruparam.
“O que está acontecendo lá? Não há Beit Lahiya, não há Beit Hanoun, eles estão operando agora em Jabaliya e basicamente limpando a área de árabes”, disse Ya’alon à Democrat TV, referindo-se a bairros palestinos ao norte da Cidade de Gaza. Ele afirma que membros radicais do gabinete de Bibi querem estabelecer assentamentos judaicos em Gaza 19 anos após Israel se retirar do território.
O ministro da Habitação israelense, Yitzhak Goldknopf, visitou a fronteira do território na última quinta-feira (28) e apoiou uma iniciativa para restabelecer assentamentos. “O assentamento judaico aqui é a resposta ao terrível massacre de 7 de outubro de 2023 e a resposta ao Tribunal Penal Internacional em Haia”, afirmou, segundo a imprensa israelense.
Dois dias antes, um dos membros mais extremistas do governo, o ministro das Finanças Bezalel Smotrich, afirmou que Tel Aviv deveria conquistar a Faixa de Gaza e “reduzir pela metade” a população palestina com a “emigração voluntária”.
“Podemos e devemos conquistar Gaza. Não devemos ter medo desta palavra”, disse Smotrich em um evento organizado pelo Conselho Yesha, organização que representa os colonos na Cisjordânia ocupada. “Podemos criar uma situação na qual, em dois anos, a população de Gaza será reduzida pela metade,”
A maioria das potências mundiais considera os assentamentos construídos em território que Israel capturou na Guerra dos Seis Dias, em 1967, ilegais e vê sua expansão como um obstáculo à paz, já que consomem terras que os palestinos desejam para um futuro Estado.
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