quarta-feira , 25 dezembro 2024
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Existe bebida alcoólica sustentável? – 18/12/2024 – Tinto ou Branco


A data para o Organic Festival Trancoso 2025, no sul da Bahia, já está marcada: 29 de outubro a 2 de novembro. Anotem. Estive lá na edição de outubro passado. Vale muito a pena. Paraíso hippie entre as décadas de 1970 e 1990, Trancoso hoje é conhecido por ser um destino turístico de super luxo e tem na sustentabilidade uma das suas maiores ferramentas de marketing. “O Organic Festival surgiu em 2018, com a vontade de promover um encontro genuíno entre chefs e pessoas ligadas ao alimento e ao turismo sustentável, valorizando o destino como uma referência no Brasil e no mundo”, conta o consultor em alimentos e hospitalidade Charles Piriou, idealizador do festival junto a Lili Torres, na época gerente de alimentos e bebidas da Uxua Casa Hotel & Spa.

O evento mescla oficinas, palestras e visitas técnicas a produtores locais (gratuitos), com almoços e jantares (cerca de R$ 300,00) de chefs renomados. Este ano, por exemplo, cozinharam Janaína Torres, Roberta Sudbrak, Onildo Rocha, Ricardo Lapeyre e Gabriela Barreto, entre outros. Instigados a usar produtos locais e, de preferência, orgânicos, os chefs são o atrativo, mas a reflexão mesmo acontece nas palestras e afins. Por fim, há dois grandes eventos de encerramento: no sábado, o piquenique no quadrado, onde chefs e pequenos produtores da região montam barracas e vendem comida a preços bastante acessíveis, e, no domingo, o luau num bar na praia aberto ao público.

Participei de duas visitas técnicas. Na primeira, estive em quatro hortas em sistema de agrofloresta. No outro dia, visitei a horta orgânica da Reserva Particular do Patrimônio Natural Rio do Brasil, do grupo OCanto, o mesmo da Pousada Tutabel, um projeto que busca criar alternativas sustentáveis que possam ser replicadas pela população local.

Boa parte do que comi, nos almoços e jantares, no piquenique e no luau, veio dessas hortas. Mas e o que bebi? Quase nada era local. “Procuro ter o mínimo de desperdício”, conta Cynthia Soledad Zamora, mais conhecida como Chula Barmaid, a mixologista que criou a maioria dos drinques que animaram as tardes e as noites do festival, que, garanto, foram bem animadas. “É o que dá para fazer. O que sobra das frutas, por exemplo, passo no desidratador para serem usadas em outros drinques. Mas a maioria dos destilados são importados e, se forem orgânicos, fica muito caro.”

Ainda assim, o festival serve para instigar a reflexão sobre o tema. Há muito sobre o que refletir. A começar pelo fato de que, ao falarmos em bebidas importadas, falamos de uma pegada de carbono gigante. As garrafas cruzam o Atlântico em navios movidos a petróleo. Isso, porém, está começando a mudar. Em 2024, veleiros de carga começaram a transportar marcas de luxo, como o champanhe Perrier Jöet e os borgonhas da Maison Drouhin, da França para os Estados Unidos.

Enquanto não trocarem toda a frota de cargueiros do mundo por veleiros, porém, podemos concluir que consumir bebidas nacionais é mais sustentável. Claro! No caso dos vinhos (e de alguns destilados também), felizmente, o produto nacional hoje já tem muita qualidade. No festival, encontramos vinhos gaúchos, produzidos na maior parte com uvas orgânicas e biodinâmicas, com mínima intervenção, pela vinícola Vivente Vinhos Vivos, de Diego Cartier e Micael Eckert.

Diego deu uma pequena palestra com degustação na programação da tarde do festival. Lotou. Havia desde chefs vindos de São Paulo até turistas e moradores. No meio do público, um casal de São Paulo, que está montando um bar de vinhos em Trancoso e que descobriu ali o vinho natural. Esse é o papel do festival!

A Cia dos Fermentados, dos sócios Fernando Goldenstein Carvalhaes e Leonardo Andrade, também estava presente. A dupla, que começou fazendo kombucha, hoje produz uma série de bebidas alcoólicas, como os fermentados de frutas, com ou sem borbulhas, os vermutes, hidromel, etc.

Eles também deram uma aula aberta. “A nossa intenção principal é mostrar que as pessoas podem fazer a sua própria bebida”, diz Fernando. “No Brasil, tanta jabuticaba e tanto caju, por exemplo, viram lama porque o produtor não consegue vender tudo”, diz Leo. “Fermentar é uma forma de preservar”.

Boa parte do público era de produtores locais de frutas. “Muito bacana”, diz Fernando. “Uma moça de Porto Seguro nos trouxe o melomel (hidromel com frutas) que ela fez com o que aprendeu na nossa palestra de 2023. Emocionante.”

Da minha parte, espero nas próximas edições ver a bebida ocupando cada vez mais espaço e aparecendo com uma diversidade ainda maior. Como o objetivo é a reflexão, quanto mais vozes, melhor.


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