Muitos busólogos —como são chamados os aficionados por ônibus— são capazes de diferenciar Volvo de Mercedes pelo ronco do motor. Outros estão dispostos a passar horas na beira de uma estrada ou alugar um carro e viajar pelo interior do país para apreciar e fotografar um modelo raro.
Há quem esteja interessado no chassi, no interior e mudanças tecnológicas dos veículos ou no design dos mais variados modelos de ônibus, o transporte mais popular do Brasil.
“Descobri que não sou o único doido por isso”, diz Henrique Barreto, um administrador de empresas que lidera o grupo FortalBus, com milhares de busólogos, e organiza anualmente um encontro em parceria com a empresa Guanabara.
Era ele quem estava recebendo fãs de ônibus de diferentes lugares do Brasil no 15º Encontro de Busólogos no sábado (30), em Fortaleza. “Bem-vindos ao mundo do hobby”, dizia a mais de uma centena de participantes na capital do Ceará.
Barreto conta que a paixão por ônibus começou cedo. Na adolescência, ele trocava cartas sobre o tema por uma caixa postal disponibilizada pela revista Na Poltrona, da empresa Itapemirim. Com as redes sociais, viu que o hobby não era incomum e criou o grupo FortalBus.
É lá que costuma juntar amigos para viajar pelo interior do Ceará em busca de modelos raros de ônibus, geralmente encontrados por imagens no noticiário ou na internet. “A gente faz foto, registra e é muito bom”, diz. Embora não haja dados precisos, Barreto estima que hoje há mais de 100 mil busólogos em todo o país.
Eles se reúnem em comunidades virtuais e realizam encontros presenciais para compartilhar informações e experiências de um hobby trabalhoso, exercido por meio de fotografia, desenho, coleção de miniaturas e de um conhecimento técnico especializado e autodidata. Tudo deve ganhar a chancela da comunidade online.
“Não é simplesmente desenhar, mas colocar todos os detalhes dos ônibus. A gente busca a excelência”, diz o analista financeiro Wellington Castro, que afirma ter feito mais de mil desenhos, todos na escala correta, graças à facilidade de encontrar informações como tamanhos e número de janelas e poltronas de cada modelo na internet.
Aos 40 anos, ele viajou mais de 3.000 quilômetros para encontrar com outros busólogos em Fortaleza. ‘Venho quase todo ano, desde 2013. Venho para encontrar as pessoas porque a busologia também é sobre amizade”, afirma.
No auditório lotado da empresa Guanabara, os busólogos ouvem palestras sobre motores e os últimos avanços tecnológicos para reduzir a emissão de gases.
Escutam tudo silenciosamente, vestidos com a camisa do evento, que traz nas costas um verso de uma música famosa de forró: “Pega o Guanabara e Vem”.
Foi isso que fez a motorista Vaniberg Barros Alves, 36. Uma das poucas mulheres no evento majoritariamente masculino, ela conta que pagou a própria passagem e viajou durante toda a madrugada de Natal, no Rio Grande do Norte, até Fortaleza para participar do encontro.
Alves trabalha dirigindo um Caio para transportar estudantes até as escolas. Para ela, o ofício é um “espetáculo” e traz uma sensação de poder. “Podemos fazer as mesmas coisas que os homens”, diz. “Comecei numa van e agora estou num ônibus. Cada vez mais, o brinquedo vai crescendo”, celebra.
A memória de seu celular está quase sempre cheia, repleta de fotos e vídeos de ônibus. “Não sei explicar essa minha paixão. Meu sonho é ser motorista rodoviária”, afirma.
Natural do Rio de Janeiro, Ricardo Lessa diz que é apenas um colecionador e admirador dos veículos. Na casa onde mora, em Fortaleza, um cômodo inteiro é destinado a mais de 1.200 miniaturas de ônibus, todas na escala 32 vezes menor que o veículo original.
“Vou fazendo a história e a linha do tempo das empresas [rodoviárias]”, conta o gerente comercial, que investe de R$ 400 a R$ 7.000 em cada peça.
A busologia tem crescido nos últimos anos com o avanço da tecnologia dos telefones celulares, que possibilitam fotos cada vez mais nítidas, e a facilidade de comunicação por meio das redes sociais.
Há 15 anos, a empresa Guanabara decidiu apoiar a realização do evento em uma parceria com o grupo FortalBus, e levar grupos para dentro de sua sede. O evento já aconteceu em Fortaleza, Belo Horizonte e Brasília.
“A nossa atividade é transportar pessoas através do ônibus rodoviário. É muito prazeroso reunir essas pessoas que têm uma paixão pelo modal, entendem a dinâmica de transportes e vibram com a marca”, explica Rodrigo Mont’Alverne, porta-voz da empresa. “Era um hobby desconhecido. Hoje temos um dia para valorizar os fãs de ônibus”.
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