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Festa e política marcam reabertura de Notre-Dame – 06/12/2024 – Mundo


Cinco anos, sete meses e 23 dias após o incêndio que a devastou, Notre-Dame será reaberta oficialmente neste sábado (7) às 19h de Paris (15h de Brasília), no primeiro de dois dias de comemoração, com um esplendor talvez nunca visto em seus 861 anos de história.

Marco zero da capital francesa, palco da coroação de Napoleão em 1804 e da celebração da expulsão dos nazistas em 1944, inspiração do escritor Victor Hugo, a catedral gótica construída entre os séculos 12 e 14, antes escura, vai impressionar os futuros 15 milhões de visitantes anuais por sua luminosidade.

Em 16 de abril de 2019, dia seguinte ao desastre, o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou: “Reconstruiremos Notre-Dame ainda mais bela. Quero que esteja terminado daqui a cinco anos.”

Na época, muitos duvidaram. Hoje, ainda presidente, mas em meio a uma grave crise política, Macron tenta capitalizar ao máximo os louros pela reforma. “É a prova de que sabemos fazer grandes coisas, que sabemos fazer o impossível. É a mesma coisa que é necessária para a nação.”

Depois do êxito dos Jogos Olímpicos de Paris, em julho e agosto, Macron esperava coroar 2024 com a reinauguração da igreja, mas chega ao fim do ano impopular e enfraquecido, depois que na quarta-feira (4) a Assembleia Nacional derrubou o primeiro-ministro indicado por ele, Michel Barnier.

Driblando a tradição francesa de separação entre religião e Estado, o presidente discursou dentro da catedral, na semana passada, com o pretexto de homenagear os 2.000 operários. Fará novo pronunciamento neste sábado, também na parte interna, por causa da previsão de rajadas de vento de até 80 km/h na hora da cerimônia. O show musical que estava previsto será gravado na noite desta sexta.

Espera-se a presença de 35 chefes de Estado e de governo atuais e de um futuro, no caso o mais importante dos convidados: Donald Trump. A visita do presidente eleito dos EUA levou a França a reforçar ainda mais um esquema de segurança que está sendo comparado com o dos Jogos Olímpicos. Serão 6.000 policiais, o dobro do número de fiéis que a catedral comporta. Representando o governo que se despede da Casa Branca estará a primeira-dama, Jill Biden.

O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, também estará presente e será recebido por Macron no Palácio do Eliseu, assim como Trump.

A Ilha de la Cité, onde fica a igreja, será completamente fechada à circulação de veículos e pedestres. As estações de metrô próximas ficarão fechadas. Além dos convidados das cerimônias, apenas 40 mil pessoas poderão assistir a tudo por um telão instalado no entorno.

No domingo (8), Dia da Imaculada Conceição, serão celebradas duas missas, uma pela manhã com as autoridades e outra à noite, para o público que reservou pela internet —as vagas se esgotaram em poucos minutos.

Passadas as cerimônias de reabertura, o acesso dos turistas exigirá uma reserva online pelo site da catedral, com 48 horas de antecedência. A diocese promete manter uma fila presencial para quem não puder reservar —e se dispuser a esperar bastante.

O governo francês merece parte do crédito pela celeridade da obra, sobretudo por ter aprovado leis acelerando os processos burocráticos e por ter aberto uma subscrição que arrecadou € 825 milhões (cerca de R$ 5,3 bilhões), de 340 mil doadores do mundo inteiro —inclusive 81 do Brasil, que contribuíram com modestos € 4.135 (cerca de R$ 26 mil).

Mas ao longo destes cinco anos a relação entre Macron e a Igreja Católica se esgarçou. O governo chegou a propor um concurso de arquitetura para uma nova flecha (ou agulha), elemento marcante no topo da igreja, mas recuou. Sugeriu cobrar € 5 (cerca de R$ 31) pela entrada, ideia rechaçada pela diocese. O papa Francisco rejeitou o convite para a reinauguração, o que foi interpretado como uma represália ao presidente francês.

Macron também roubou parte do efeito surpresa da reabertura, ao mostrar em primeira mão o interior da catedral, durante sua visita de duas horas na semana passada, transmitida para o mundo inteiro pela TV e pela internet.

As imagens mostraram uma Notre-Dame resplandecente, sobretudo pela retirada de séculos de poeira que enegreciam o edifício de pedra. Isso se traduziu em um visual completamente novo, embora a catedral esteja quase idêntica, à exceção de algumas peças modernas de mobiliário.

O que não pôde ser salvo das chamas, como o telhado e a flecha, foi reconstituído tal e qual no passado, salvo mudanças exigidas pela segurança contra um novo incêndio. As principais relíquias —a estátua da Virgem, a suposta coroa de espinhos de Jesus Cristo e o órgão do século 19— foram recuperadas e devolvidas aos lugares de origem.

A causa do incêndio nunca foi inteiramente esclarecida, mas a hipótese principal é um acidente —uma ponta de cigarro acesa ou um curto circuito— relacionado aos andaimes então instalados para uma reforma da catedral.



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