A questão fiscal é o principal risco à estabilidade financeira do país para os próximos três anos, dizem 89 instituições ao Banco Central em pesquisa divulgada nesta quinta-feira (5).
A sondagem foi realizada entre 21 de outubro e 8 de novembro, simultaneamente às negociações do pacote de medidas de contenção de despesas elaborado pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O plano foi detalhado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) no último dia 28.
Os participantes da pesquisa incluem bancos, cooperativas, instituições de pagamento, gestoras de recursos, seguradoras e entidades fechadas de previdência complementar.
Além das instituições reguladas pelo BC, o levantamento passou a considerar também entidades reguladas por CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Susep (Superintendência de Seguros Privados) e Previc (Superintendência Nacional de Previdência Complementar).
Em comparação com a pesquisa anterior, realizada em agosto, a avaliação das instituições é que os riscos fiscais são preponderantes nos próximos anos, destacando-se preocupações com a sustentabilidade da dívida pública e o arcabouço fiscal e seus impactos nos preços de ativos e na política de juros.
A dívida bruta do Brasil fechou outubro em 78,6% do PIB (Produto Interno Bruto) e exibe uma alta acumulada de 4,2 pontos percentuais desde o início do ano. O próprio governo Lula já admitia uma dívida bruta acima de 81% do PIB a partir de 2026.
A pesquisa mostrou também que os riscos do cenário internacional ganharam maior relevância, aumentando as preocupações associadas às eleições nos Estados Unidos.
A vitória de Donald Trump em 6 de novembro levou o mercado financeiro global a precificar juros mais altos por mais tempo, com a promessa do republicano de elevar tarifas de importações e dificultar a imigração –o que teria impacto inflacionário.
Persistem também, entre as instituições ouvidas pelo BC, preocupações com a escalada dos conflitos geopolíticos. Depois da pesquisa, o conflito na Ucrânia se intensificou após autorização dos EUA para que os ucranianos pudessem disparar mísseis de fabricação norte-americana contra o território russo.
A sondagem liderada pelo BC mostrou ainda que, na visão das instituições financeiras, os riscos de inadimplência e atividade continuam limitados, embora com maior probabilidade de se materializarem, refletindo preocupações com alavancagem e inadimplência de famílias e empresas e impactos do aumento de juros.
Em 6 de novembro, o Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu intensificar o ritmo de alta de juros e elevou a taxa básica (Selic) em 0,5 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano.
Há entre as instituições, por outro lado, uma visão ainda mais positiva sobre o ciclo econômico, com aumento de percepções de economia em fase de expansão e “boom”.
Dados do PIB divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na última terça (3) mostraram que a economia brasileira cresceu 0,9% no terceiro trimestre, frente aos três meses imediatamente anteriores.
Analistas dizem que a atividade ainda mostra sinais de força, com destaque para componentes como consumo das famílias, investimentos e setor de serviços.
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