As pesquisas eleitorais mais recentes apontam um favoritismo do partido de centro-direita União Democrata Cristã (CDU) – o mesmo que levou Angela Merkel (2005-2021) ao cargo de chanceler – nas eleições marcadas para este domingo (23).
Além do compartilhamento da legenda, no entanto, o atual candidato conservador, Friedrich Merz, não tem outras afinidades com a antiga liderança do país.
Nascido na cidade de Brilon, no oeste da Alemanha, no ano de 1955, Merz vem de uma família católica conservadora com algum destaque público: seu pai, também membro da CDU, foi juiz e uma inspiração para sua filiação à legenda ainda na adolescência.
O envolvimento político lhe rendeu uma bolsa para estudar Direito em uma fundação vinculada à CDU. Foi nessa instituição que ele conheceu sua esposa, Charlotte, que atua ainda hoje como magistrada.
A carreira política do candidato conservador teve início no final da década de 1980, quando foi eleito para o Parlamento Europeu, em 1989. Antes disso, atuou por muitos anos como advogado.
Em 1994, Merz renunciou para assumir uma cadeira no Bundestag, o Congresso alemão, sendo eleito deputado. Com a rápida ascensão, tornou-se líder da CDU nos anos 2000.
Foi nesse período que as divergência com Merkel, então líder geral do partido, começaram a surgir. Em 2002, a ex-chanceler derrubou Merz da posição de líder partidário devido à derrota eleitoral daquele ano.
O pesquisador associado do Programa Europa da Chatham House Sebastien Maillard explicou à emissora Sky News que Merkel, que tinha um perfil mais centrista na legenda, enxergou o político em ascensão como “um verdadeiro conservador – mais do que se esperaria de um democrata cristão”.
Com a vitória da ex-chanceler alemã em 2005, essa rivalidade apenas cresceu, levando Merz a se afastar da política por muitos anos, voltando a atuar na advocacia corporativa.
Mais de uma década depois, quando Merkel anunciou que não iria concorrer à reeleição, em 2018, Merz fez um retorno inesperado, tornando-se o novo candidato da CDU para as eleições do dia 23.
Combate à imigração, apoio à Ucrânia e recuperação econômica como prioridades
Friedrich Merz deixou claro nos últimos meses, em diferentes entrevistas, que a imigração e a recuperação da estagnada economia serão as prioridades se chegar ao cargo de chanceler.
Por ter atuado tantos anos no setor privado, a postura do candidato em relação ao setor econômico é mais liberal, sendo favorável ao corte de burocracia do Estado, por exemplo.
Nos anos 2000, Merz foi destaque da imprensa alemã após defender a redução das regras tributárias do país. Segundo ele, as determinações deveriam caber num verso de porta-copos de cerveja.
Em contraste com o crescimento dos últimos 50 anos, a Alemanha – considerada a terceira maior economia do mundo – enfrenta agora uma crise econômica, que se tornou tema crucial para as eleições antecipadas, marcadas após a ruptura da coligação governista, formada por liberais, verdes e sociais-democratas.
A crise migratória também é um dos focos de discussão entre os candidatos ao cargo de chanceler.
Nas últimas semanas, houve um alvoroço quando o partido de direita nacionalista Alternativa para a Alemanha (AfD) apoiou a proposta de Merz para endurecer a política migratória em meio aos ataques recentes no país, investigados como atentados. Rapidamente, críticos da CDU e da AfD apontaram uma aliança dos partidos.
Segundo a imprensa alemã, a agenda de Merz para frear a crise de refugiados no país envolve o estabelecimento de controles permanentes de fronteira, a rejeição de imigrantes nas fronteiras e a prisão por tempo indeterminado de criminosos que estejam sob ordens da Justiça para deportação.
Na política externa, o candidato a chanceler defende a continuidade de apoio à Ucrânia e uma maior união da União Europeia para se relacionar com o presidente dos EUA, Donald Trump, a quem ele rotulou de “previsivelmente imprevisível”.
Após a Conferência de Segurança em Munique, na semana passada, Merz disse que teve uma reunião com o vice-presidente americano, J.D. Vance, ocasião na qual apontou a necessidade de “estreita coordenação entre os EUA e a Europa” para resolver a guerra da Ucrânia.
Diferente do atual chanceler, Olaf Scholz, que também concorre à reeleição neste domingo e se recusou a enviar mísseis de longo alcance para Kiev, o candidato da CDU defendeu que poderia enviar mais armas para a Ucrânia se defender da Rússia.
Merz destacou na conferência que não concorda com Trump e outros líderes globais que não aceitam a adesão de Kiev à Otan. “Há um acordo dentro da Otan de que a Ucrânia tem a perspectiva de se tornar membro… Não concordo com ninguém que esteja descartando essa adesão”, pontuou. O candidato também defendeu mais gastos com a defesa nacional.
A possível vitória de Merz no dia 23 pode render à Alemanha uma guinada mais à direita conservadora.
As principais pesquisas eleitorais apontam que Merz tem aproximadamente 30% de apoio, enquanto a AfD, cuja candidata é Alice Weidel, aparece em segundo lugar (com cerca de 20%), e em terceiro aparece o Partido Social Democrata, do atual chanceler Olaf Scholz, com 16%.
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