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Lar Internacional Governador democrata se empolga com antivacina na Saúde – 29/11/2024 – Ezra Klein
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Governador democrata se empolga com antivacina na Saúde – 29/11/2024 – Ezra Klein


É um grande incômodo quando os políticos têm de ir lá e complicar sua narrativa sobre por que estão tendo sucesso.

Conversei com Jared Polis, governador democrata do Colorado, nos EUA. Enquanto outros estados como Nova York, Nova Jersey, Massachusetts, Califórnia e Illinois registraram quedas significativas na votação democrata em relação a 2020, o Colorado se destacou, com uma diferença de apenas 2,5 pontos. O que Polis, reeleito em 2022 com uma margem de 19 pontos, está fazendo certo?

Uma resposta —e essa, para ser honesto, era a que eu estava procurando— é focar incansavelmente no custo de vida.

“Você não pode simplesmente fazer uma política e esperar que, de alguma forma, as pessoas saibam disso”, Polis me disse. “Mas eles geralmente entendem o ritmo de 30, 40 coisas que você está fazendo, cada uma das quais reduz custos de uma maneira diferente. E essa tem sido nossa estratégia: reduzir custos.”

Mas durante nossa conversa, e nos dias que se seguiram, surgiu outra resposta —e para os democratas esta é um pouco mais desafiadora. Polis é um dissidente das tendências que varreram a governança democrata durante a pandemia.

Ele era incomum entre os governadores democratas pela ênfase que dava à responsabilidade e à liberdade pessoal. O Colorado reabriu cedo, desencadeando um boom turístico, e o governador tentou confiar mais em informações do que na compulsão.

“Eu certamente acredito em vacinas. Eu mesmo me vacino. Fiz isso publicamente contra a gripe e a Covid. Mas se você não consegue convencer as pessoas com os dados, então elas têm a liberdade pessoal de não fazê-lo. ‘Nossos corpos, nossa escolha’ se aplica não apenas aos fetos, mas também às decisões sobre cuidados de saúde, seja para se vacinar ou para quais alimentos você consome.”

Então ele disse algo que eu não esperava. “Fiquei triste ao ver RFK deixando nossa coalizão porque seus eleitores no Colorado são uma grande parte da minha coalizão. Quer dizer, eu tive que ameaçar vetar as vacinas obrigatórias, e conseguimos evitá-las. Estamos tentando legalizar o leite cru em nosso estado há vários anos e continuamos tentando porque isso se inclina a capacitar as pessoas a fazerem suas próprias escolhas.”

Achei surpreendente que Polis estivesse se esforçando para demonstrar sua afeição por Robert F. Kennedy Jr. —filho do procurador-geral Bobby Kennedy, morto em 1968, e sobrinho do ex-presidente John F. Kennedy, assassinado cinco anos antes—, mas não pensei muito sobre isso.

O Colorado é um lugar peculiar, e é fácil para Polis lamentar a perda de aliados. Mas ele falava sério. Poucos dias depois de nossa conversa, surgiram notícias de que Donald Trump planejava nomear Kennedy, antivacina, como secretário de Saúde —o presidente eleito confirmou a nomeação em 14 de novembro.

Os progressistas ficaram horrorizados. Polis foi o único democrata que eu vi que parecia empolgado.

“Estou animado com a notícia de que o presidente eleito nomeará Robert Kennedy Jr.”, escreveu Polis na plataforma X. “Ele nos ajudou a derrotar as vacinas obrigatórias no Colorado em 2019 e ajudará a tornar a América saudável novamente ao sacudir o HHS [Departamento de Saúde dos EUA] e o FDA [órgão que regula alimentos e medicamentos]. Espero que ele se incline para a escolha pessoal sobre vacinas em vez de proibições (que eu acho terríveis, assim como os mandatos), mas o que estou mais otimista é em enfrentar as grandes farmacêuticas e o oligopólio agrícola corporativo para melhorar nossa saúde.”

Os apoiadores progressistas de Polis ficaram indignados, e ele finalmente esclareceu o que pensava: “A ciência deve permanecer a pedra angular da política de saúde da nossa nação” —embora ele tenha acrescentado que se “seguirmos a ciência, também estaríamos muito mais preocupados com o impacto dos pesticidas na saúde pública, da política agrícola na nutrição e da falta de acesso a medicamentos prescritos devido aos altos preços”.

A confusão inesperada foi, no mínimo, um problema para o artigo que eu estava planejando escrever sobre Polis. Mas o apoio dele a Kennedy pode não ser menos significativo para seu sucesso do que sua atenção à acessibilidade.

Kennedy é um ex-apresentador da Air America —rede de rádio progressista. O ex-presidente Barack Obama chegou a considerá-lo para liderar a Agência de Proteção Ambiental. Ele se tornou mais excêntrico e conspiratório desde então, mas quando tentou concorrer à Presidência de forma independente neste ano, ele o fez inicialmente como um democrata.

A política antivacina e antimáscaras que ele representa costumava ter um lar no Partido Democrata. No entanto, a pandemia polarizou os americanos em relação à confiança nas instituições científicas e de saúde pública, além da postura em relação ao papel do governo nesse contexto.

A verdadeira ruptura de Joe Rogan com os progressistas ocorreu na luta contra o ceticismo em relação às vacinas. A mudança de Elon Musk para a direita pareceu —pelo menos para mim— se consolidar enquanto ele lutava contra os bloqueios e regras da Covid. E não se engane: não foram apenas os democratas que desenvolveram novos testes de lealdade.

A Operação Warp Speed [para acelerar o desenvolvimento, fabricação e distribuição de vacinas contra a Covid-19] foi a política mais bem-sucedida de Trump como presidente. Ela salvou um número extraordinário de vidas a um custo notavelmente baixo. Mas o Partido Republicano se voltou contra as vacinas.

Trump abandonou sua própria política e agora nomeou o principal cético em relação às vacinas do país para comandar o Departamento de Saúde. A Covid mudou as duas coalizões de maneiras que ainda não absorvemos totalmente.

A política é sobre o que você prioriza, e os progressistas, hoje, priorizam o respeito pelas instituições e pela expertise. “Nesta casa, acreditamos na ciência”, e assim por diante. Há mais sobreposição entre Kennedy e a maioria dos progressistas do que entre os liberais e qualquer outro indicado de Trump. Mas a relação com instituições e expertise é muito diferente. E instituições e expertise são o que realmente polarizou a política americana.


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