O Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), principal indicador da qualidade da educação básica brasileira, foi criado para estabelecer um ciclo de metas que igualasse o nível nacional à média de países desenvolvidos.
O cálculo leva em consideração a taxa de aprovação escolar e a média de desempenho nas provas de matemática e língua portuguesa do Saeb (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica). Dessa forma, quanto maiores forem a taxa de aprovação e a proficiência nas avaliações, maior o Ideb.
Após a divulgação dos resultados de 2023, é hora de transformar os números em realidade. Como minha expertise é letramento, vou me limitar aos resultados da prova de língua portuguesa.
Em uma primeira análise, o que se vê é que desigualdades entre alunos das redes pública e privada não são imensas, mas vão se aprofundando com o passar dos anos. Ao final do primeiro ciclo, a diferença é de 33,3 pontos, colocando todos os alunos que encerraram o quinto ano no nível cinco de nove da escala Saeb.
No próximo ciclo, a diferença aumenta pouco mais de quatro pontos, para 37,4, o suficiente para que alunos das redes municipais fiquem em nível três de oito, e os da rede privada cheguem ao nível quatro. No ensino médio, a diferença aumenta para 44,07 pontos, descendo os alunos das redes estaduais para o nível dois de oito, enquanto os da rede privada permanecem no nível quatro.
Na prática, esses desempenhos mostram que, na média, uma criança de 11 anos consegue, por exemplo, identificar o tema de um texto e inferir efeito de humor em tirinhas e histórias em quadrinhos.
Com mais quatro anos de ciclo escolar, adolescentes de 15 anos que encerram os anos finais da educação básica apresentam habilidades textuais que incluem reconhecer expressões características de linguagens diferentes, como a científica e a jornalística, e comparar textos de gêneros variados sobre o mesmo tema.
Mas, com um nível a mais de proficiência, aqueles que se formaram em escolas privadas conseguem, também, reconhecer opiniões distintas sobre o mesmo assunto em reportagens, contos e enquetes.
Ao fim do ensino médio, alunos provenientes de escolas estaduais sabem reconhecer a finalidade de recurso gráfico em artigos e a ideia comum entre textos de gêneros diferentes. Já aqueles que saíram de escolas privadas conseguem reconhecer opiniões divergentes sobre o mesmo tema em diferentes textos.
Para além das habilidades, precisamos jogar luz sobre o que os brasileiros não conseguem fazer diante de um texto, independentemente da rede escolar. Novamente retomando a média, nossas crianças de 11 anos são incapazes de interpretar linguagem verbal e não verbal em histórias em quadrinhos ou de reconhecer assunto comum entre textos de gêneros diferentes.
Nossos adolescentes de 15 anos não identificam a relação de causa e consequência em contos nem diferenciam fatos de opiniões ou mesmo opiniões diferentes em artigos e notícias.
E jovens de 18 anos não sabem localizar informação explícita em resumos nem reconhecer o tema de contos e fragmentos de romances.
Em linguagens, não há segredo: a prática leva à proficiência. Vale recuperar dado do Pisa 2018, ano em que a avaliação internacional com alunos de 15 anos deu ênfase à leitura.
A taxa de alunos brasileiros que não leram nenhum tipo textual em sala de aula ao longo de um mês ficou acima dos 20%. Além disso, praticamente quatro em cada dez alunos nunca haviam lido texto de ficção, como um conto.
Dados oferecidos por provas e indicadores são ótimos ao apontar o problema. Precisamos usá-los para encontrar, também, soluções, e usar evidências para orientar políticas públicas para a educação.
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