O ditado diz que águas passadas não movem moinhos. Mas se você ingerir muita água que passarinho não bebe, o moinho que vai ficar girando é o da sua cabeça, e podemos tê-lo sentido nas últimas festas.
Neste espírito, quando rolo meu feed do Instagram agora em janeiro, me sinto pressionada: parecem infinitos os posts que falam no “dry january”, o janeiro seco, que pressupõe uma trégua na ingestão de bebidas alcoólicas depois da esbórnia das festas de fim de ano.
A maior parte dos posts vem do hemisfério norte. Mais tranquilo falar de restringir drinques na tristeza do inverno do que no clima festivo do verão. Tá fácil para eles. Para gente, nem tanto.
Pior que, neste ano, a tendência está ainda mais forte, pois traz uma fundamentação científica que tem a carinha de 2024, quando descobriu-se que qualquer quantidade de álcool ingerida é insegura, com pesquisas que ligam seu consumo a muitos problemas de saúde.
Ninguém da área do vinho quer ouvir falar no assunto, e muitos rebatem de forma veemente e irracional. Claro que não gostei do que li, mas acredito na ciência. Acho bobo e inútil esse negacionismo, me parece terraplanismo. Faz mais sentido, para mim, pensar sobre o que aprendemos, pesar as consequências e agir de forma consciente. Saber que em tudo nessa vida há prós e contras, que nossos atos trazem consequências, e que há riscos em tudo, com pesos e medidas diferentes.
Uma resolução para este novo 2025, por exemplo, é beber menos e melhor. Tenho batido muito nessa tecla: mais vale uma garrafa bem produzida, de forma menos intervencionista e mais ética, do que muitas que são tão construídas e ultraprocessadas quanto uma Coca-Cola. Ou, ainda, que são mais baratas porque trazem o peso de uma produção irresponsável e até criminosa.
Como já se sabe também que uma tacinha por dia não tem tantos benefícios assim, vale escolher melhor os momentos de vinho. Para quem tem força de vontade, vale tirar esse mês inteiro para uma trégua. Para quem está de cabeça nas férias e no verão, lembro que o Carnaval deste ano é só em março e que, portanto, fevereiro, um mês até mais curto, pode ser perfeito para uma pausa alcoólica.
Agora, se você vai abrir uma garrafa de vinho, escolha bem o rótulo e aproveite cada gotinha. Um vinho interessante gera assunto, enche a alma, tem a capacidade de descontrair e aproximar quem o compartilha. Momentos genuínos de conexão podem surgir de boas taças. Nem precisam ser muitas.
Vai uma taça?
Em dias de calor, os vinhos menos alcoólicos, mais leves, bem resfriados, são os que caem melhor. Para manter a taça com a temperatura certa, sirva pouco e mantenha a garrafa num baldinho de gelo. Quem não embarcar no dry january pode provar um desses cinco rótulos:
Se você está na praia e vai comer frutos do mar, uma ideia é o Entre Mundos Kaipu Chardonnay 2023 (R$ 44 na Wine.com.br). É refrescante e, como tem passagem por madeira, é capaz de acompanhar uma moqueca com altivez.
Para seguir na linha da baixa intervenção, siga com o pét nat gaúcho Casa Viccas Glera (R$ 140 na Boutique do Vinho Artesanal), que traz as notas de fermentação e um azedinho gostoso.
Já o francês Domaine de la Combe Vendange Nocturne Melon Blanc (R$ 160 na Wines4U) é levíssimo, faz salivar por minutos a fio e é uma beleza para os dias de calor extremo. Vai bem sozinho ou com algo muito leve.
Para quem gosta de algo com uma ponta de açúcar a mais, o Miguel Torres Rosé Ándico (R$ 91 na Shopper), feito com pinot noir e monastrell no Chile, é orgânico e uma delícia para os aperitivos. Se der para gastar um pouco mais, o Quinta do Crasto Rosé DOC Douro (R$ 149 na Altruísta) é chiquérrimo.
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