Há meses Roma vem se preparando para 2025. Cidade mais visitada da Itália, a capital passa por uma série de obras de melhorias urbanas e restaurações de monumentos para receber o Jubileu da Igreja Católica, evento que ocorre há mais de sete séculos, a cada 25 anos. Entre peregrinos e turistas, o Vaticano espera receber 32 milhões de pessoas, cerca de 7 milhões a mais do que em 2000.
Não só o papa mudou desde o Jubileu anterior, convocado por João Paulo 2°. Em 25 anos, o turismo sofreu transformações que permitem estimar um público maior, como a massificação das plataformas digitais de aluguel breve, do tipo Airbnb. Está mais fácil viajar, e o evento tem forte apelo entre católicos. Alguns vaticanistas veem o Jubileu como um “gran finale” do pontificado de Francisco, que acabou de completar 88 anos.
Será ele a promover a abertura oficial do evento. Na véspera do Natal, no dia 24, às 19h (15h em Brasília), o papa abrirá uma das portas da basílica de São Pedro, no Vaticano, que esteve fechada com concreto.
Nos dias seguintes, portas santas, como são chamadas, serão reabertas nas outras três basílicas mais importantes de Roma –São João de Latrão, Santa Maria Maior e São Paulo Fora dos Muros. Gesto inédito, Francisco elevará à condição de porta santa uma entrada da capela da penitenciária de Rebibbia, no dia 26.
No ano do Jubileu, diz a tradição, os católicos podem obter a “indulgência plenária”, com a remissão de seus pecados, se eles realizarem algumas práticas, como se confessar, peregrinar, visitar um lugar sagrado ou se envolver em atos de caridade. Simbolicamente, aquele que atravessa uma porta santa está apto a ser perdoado.
“O Jubileu é o evento mais importante do catolicismo sem dúvida nenhuma”, diz Mirticeli Medeiros, historiadora e vaticanista brasileira que mora em Roma.
O acontecimento de inspiração judaica teve início em 1300 com o papa Bonifácio 8º, diante de um clamor popular. “Na Idade Média, as pessoas viviam uma espiritualidade muito voltada para o sacrifício, para a expiação dos pecados. O homem medieval pensava muito no fim do mundo, e o Jubileu surge nesse contexto. Foi um movimento para que as pessoas se preparassem para o fim”, conta Medeiros.
Embora as indulgências possam ser recebidas sem precisar sair da própria cidade –em São Paulo, a arquidiocese indicou 12 igrejas para peregrinação–, a ida a Roma num ano jubilar é entendida como a participação em um momento histórico.
Até janeiro de 2026, quando as portas santas serão fechadas por mais 25 anos, o Vaticano preparou uma intensa programação. Há dias específicos para receber peregrinos de diferentes categorias, como trabalhadores, empresários, doentes, avós e crianças, imigrantes, católicos LGBTQIA+ e influencers.
Dois dos momentos mais esperados –e com grande potencial de lotar a cidade– são aqueles que reunirão adolescentes, em abril, e jovens, entre julho e agosto. Durante ambos, dois jovens serão canonizados e passarão a ser considerados santos: Carlo Acutis (1991-2006) e Pier Giorgio Frassati (1901-1925).
Outro marco pode ser o Jubileu dos Governantes, em junho, com chefes de Estado e de governo, uma oportunidade para a promoção da paz. “O Jubileu é um momento no qual o papa promove iniciativas nunca antes vistas. Em 2000, João Paulo 2º pediu perdão pelos pecados cometidos pela Igreja. Há a expectativa de que Francisco faça algo assim. Estamos em um contexto de guerra, certamente ele vai focar nisso”, diz Medeiros.
Por tudo isso, Roma virou, no último ano, uma cidade em reconstrução. Foram mais de mil canteiros públicos de obras, sendo uma centena deles de grande dimensão. Desde a Fontana di Trevi até trechos inteiramente requalificados, a capital foi coberta com tapumes e cercas, e nem todos foram removidos a tempo do início do Jubileu.
“A cidade se transformou. Aos poucos, Roma está se redescobrindo, e ainda tem muito para ser visto. Estamos em contagem regressiva”, conta Edna Costa, guia turística credenciada na capital há mais de dez anos. Lugares centrais, no entanto, como a praça Veneza, continuam em obras, devido à ampliação do metrô, prevista para ser entregue em 2026.
Ao turista que pretende visitar a cidade, uma dose de paciência é recomendada, já que os canteiros afetam o trânsito, a circulação de meios de transporte e táxis. Sem falar nas aglomerações nos pontos mais famosos, como o Vaticano e o Coliseu.
Mas, como lembra Costa, Roma não é só isso. Algumas das atrações que ela costuma indicar estão nas redondezas da capital, uma chance de escapar de multidões. Entre elas, o parque arqueológico de Ostia Antica e as vilas Adriana e D’Est, em Tivoli. Os três locais ficam a cerca de uma hora de trem da estação central de Roma Termini.
Dentro da cidade, vale escapar para as termas de Caracalla, um bem conservado complexo termal construído no século 3. Para os peregrinos do Jubileu, uma parada quase obrigatória são as catacumbas cristãs, no entorno da via Appia Antica. Para as crianças, uma dica é o Museu Etrusco de Villa Giulia. “Tem ótimas descobertas, como objetos inventados há mais de 3.000 anos”, diz Costa.
Aos comprometidos com a peregrinação, um dos roteiros mais tradicionais, do século 16, é o que passa pelas sete igrejas mais importantes de Roma, incluindo as quatro basílicas papais, com cerca de 25 km. Para Medeiros, além da São Pedro, outra igreja merece atenção: “A Santa Maria Maior carrega grande simbologia neste Jubileu porque o papa Francisco escolheu ser enterrado lá”.
O JUBILEU DA IGREJA CATÓLICA
Os principais eventos em Roma e no Vaticano
24.dez
Início oficial, com a abertura pelo papa Francisco da porta santa da basílica de São Pedro, no Vaticano, às 19h (15h em Brasília)
26.dez
Abertura da porta santa do presídio de Rebibbia, pela primeira vez incluído no ritual do Jubileu
29.dez
Abertura da porta santa da basílica de São João de Latrão
1.jan
Abertura da porta santa da basílica de Santa Maria Maior
5.jan
Abertura da porta santa da basílica de São Paulo Fora dos Muros
21 a 23.fev
Jubileu dos diáconos
8 a 9.mar
Jubileu do voluntariado
5 a 6.abr
Jubileu dos enfermos e da saúde
25 a 27.abr
Jubileu dos adolescentes e canonização do primeiro santo millennial, Carlo Acutis
28 a 29.abr
Jubileu das pessoas com deficiência
1 a 4.mai
Jubileu dos trabalhadores
4 a 5.mai
Jubileu dos empresários
30.mai a 1.jun
Jubileu das famílias, crianças, avós e idosos
14 a 15.jun
Jubileu do esporte
20 a 22.jun
Jubileu dos governantes
23 a 27.jun
Jubileu de seminaristas, padres e bispos
28 a 29.jul
Jubileu dos influencers católicos
28.jul a 3.ago
Jubileu dos jovens e canonização do estudante Pier Giorgio Frassati
6.set
Peregrinação de grupos de acolhimento de cristãos LGBTQIA+
7.set
Canonizações (ainda sem detalhes)
15.set
Jubileu da consolação
4 a 5.out
Jubileu dos imigrantes
31.out a 2.nov
Jubileu da educação
16.nov
Jubileu dos pobres
14.dez
Jubileu dos detentos
PEREGRINAÇÃO
O caminho das Sete Igrejas, do século 16, inclui as quatro basílicas papais e tem 25 km
- Basílica papal de São Pedro (Vaticano)
O local, onde se encontra o túmulo de são Pedro, atrai peregrinos desde a Idade Média, quando a construção ainda era outra. Hoje, entre obras de Michelangelo e Bernini, estão enterrados ali quase 100 papas, incluindo João Paulo 2º e Bento 16
- Basílica papal de Santa Maria Maior (praça de Santa Maria Maior, Roma)
Erguido a partir do século 4, é o mais antigo santuário mariano do Ocidente. Abriga os restos mortais de são Matias e são Jerônimo e o túmulo de sete papas. A pedido, Francisco será sepultado aqui, onde costuma ir antes e depois de suas viagens
- Basílica de São Lorenzo Fora dos Muros (piazzale del Verano, 3, Roma)
Conserva as relíquias de são Lorenzo e o túmulo do papa Pio 9º. Fusão de duas estruturas erguidas nos séculos 6 e 13, foi inteiramente destruída durante a Segunda Guerra, tendo sido reconstruída depois
- Basílica de Santa Cruz em Jerusalém (praça da Santa Cruz em Jerusalém, Roma)
Mãe do imperador Constantino, santa Helena transformou uma residência imperial em capela para conservar relíquias como supostos fragmentos da cruz de Cristo, encontrados por ela na Terra Santa no século 4
- Basílica papal de São João de Latrão (praça de São João de Latrão, Roma)
Catedral de Roma, foi consagrada no ano 324 e dedicada ao Santíssimo Salvador e aos santos João Batista e João Evangelista. Foi sede principal do papado até o século 14, quando o poder foi transferido para o Vaticano.
- Basílica papal de São Paulo Fora dos Muros (piazzale São Paulo, Roma)
Há séculos como destino de peregrinos, é a segunda maior igreja de Roma. Foi erguida em 324 no lugar onde estaria enterrado Paulo, cujo túmulo se encontra dentro da atual basílica, inaugurada em 1854
- Basílica de São Sebastião Fora dos Muros (via Appia Antica, 136, Roma)
Idealizada pelo imperador Constantino no século 4, foi uma homenagem aos apóstolos Pedro e Paulo. Mais tarde, foi dedicada ao soldado martirizado são Sebastião
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É um cartão digital gratuito e nominal, exigido para participar dos eventos do Jubileu e para organizar a peregrinação à porta santa da basílica de São Pedro. Promete descontos em restaurantes e hospedagem
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Via della Conciliazione, 7, Roma, de terça a domingo, das 10h às 17h
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