“É absolutamente uma nova empresa.” Esse é o impacto que o diretor de negócios do Airbnb, Dave Stephenson, enxerga para a companhia com a estratégia de expandir a atuação no setor de viagens.
Em evento em Los Angeles na terça-feira (13), o Airbnb apresentou a maior atualização de seu aplicativo em 17 anos, com funcionalidades que vão além da locação de quartos e apartamentos. A ideia é se tornar um superapp, começando com a oferta de experiências e serviços como cabeleireiro e personal trainer pela plataforma.
Dave é o responsável por encaminhar essa nova fase. Após ocupar a cadeira de diretor financeiro do Airbnb durante a pandemia, ele assumiu o novo cargo com a missão de expandir os negócios, aproveitando a experiência que acumulou na Amazon na época em que a empresa buscava ampliar sua atuação para além da venda de livros.
Em entrevista à Folha, o executivo afirma que o Airbnb está deixando de ser sinônimo de hospedagem para se tornar uma nova companhia, focada em experiências, serviços e turismo. “Sempre tivemos essa ambição e agora estamos finalmente expandindo para além do núcleo.”
Dave evita dizer que o Airbnb queira se tornar uma “Amazon das viagens”, mas admite que a jornada da big tech serve de inspiração, principalmente pelo sucesso em mudar a percepção das pessoas sobre o que a empresa é e faz.
“Hoje, quem pensa em Airbnb pensa em hospedagem. Agora, as pessoas vão pensar sobre nós de maneira diferente.”
Mas, antes, ele precisará fazer com que as pessoas simplesmente pensem no Airbnb. Segundo Dave, a maior preocupação da companhia hoje é fazer com que turistas considerem o aplicativo como primeira opção quando forem viajar.
“Nove em cada dez noites ao redor do mundo as pessoas ainda passam em hotéis. E elas vão para hotéis porque talvez sintam que terão comodidades que não conseguiriam em um Airbnb. Por isso estamos lançando as experiências e serviços, para que as pessoas possam ter o Airbnb como primeira escolha”, afirma.
O desafio é fazer isso em meio ao atual cenário econômico. No começo de maio, em carta aos acionistas após os resultados do primeiro trimestre, a companhia alertou que “incertezas econômicas amplas” estavam levando consumidores a reduzir os gastos com viagens nos Estados Unidos.
Questionado sobre esse impacto, Dave diz continuar percebendo resiliência no setor de turismo, com as pessoas ainda querendo gastar dinheiro viajando.
“Outra coisa interessante é que, quando a economia está mais desafiada, temos mais ofertas, porque há mais anfitriões que querem ganhar renda com suas casas”, afirma. “Fomos fundados na grande recessão de 2009. Isso faz parte do nosso DNA, gerenciar esses desafios.”
A resiliência, porém, será testada não só por incertezas econômicas. Nos últimos anos, o Airbnb viu crescer uma onda de legislações pelo mundo contra os aluguéis de curta temporada para casas e apartamentos.
Em Nova York, por exemplo, uma lei de 2023 restringiu a modalidade na cidade. Barcelona e municípios na França também tomaram medidas semelhantes.
As regulamentações vieram na esteira de pressões do setor hoteleiro em cidades turísticas, além de reclamações de moradores locais, que se queixam da alta de preços dos aluguéis, comportamentos de turistas em unidades residenciais e aumento nas contas de água e luz dos condomínios.
Dave diz que o Airbnb tem equipes dedicadas a trabalhar com os mercados locais nesse tema, ajudando os atores envolvidos na discussão sobre aluguel de curto prazo. No entanto, o executivo diz ver muito mais benefícios na atividade do Airbnb do que o contrário.
“Permitimos que as pessoas compartilhem suas casas e obtenham ganhos econômicos com isso. Beneficiamos as comunidades locais fazendo com que as pessoas gastem dinheiro na própria região e não em um hotel que talvez seja de propriedade de uma empresa estrangeira.”
Atualmente, discussão semelhante acontece no Rio de Janeiro. Projeto de lei do vereador Salvino Oliveira (PSD) prevê a criação de um cadastro que exigirá, entre outras coisas, que o proprietário apresente a convenção de condomínio autorizando a hospedagem.
O Rio é hoje a principal cidade do Airbnb no Brasil, país que está entre os cinco maiores mercados globais da companhia.
“O Brasil é incrivelmente importante, tem crescido como fogo”, diz Dave. Segundo o diretor, o país teve alta de 27% no faturamento no primeiro trimestre de 2025 e é responsável por parte relevante dos novos usuários da plataforma.
Raio-x | Airbnb
Fundação: 2008
Lucro líquido 2024: US$ 2,6 bilhões
Funcionários: 7.300
O repórter viajou a convite do Airbnb
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