Na psicanálise, um ato falho é um deslize no discurso ou nas ações de uma pessoa que acaba revelando algo inconsciente, reprimido ou negado. Como desejos ou pensamentos escondidos. Pois o IBGE do governo Lula cometeu um ato falho clássico. Lançou um mapa-múndi com o Brasil de cabeça para baixo. Que melhor metáfora poderia representar o estado de coisas hoje no país?
Ao explicar o capotamento cartográfico, o presidente do IBGE, Marcio Pochmann, tentou argumentar que a perspectiva destaca o novo papel de liderança do Brasil em importantes fóruns internacionais, como Brics e Mercosul.
Como observou o colunista da Gazeta do Povo Fernando Jasper, do ponto de vista técnico não há erro em virar o mundo de ponta-cabeça. Afinal, ele é redondo. Colocar o Norte no topo não foi uma escolha científica, mas histórica, cultural e política. De vez em quando, alguns historiadores e artistas se insurgem contra essa tradição. E lançam mapas invertendo a posição espacial dos países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.
De cabeça para baixo, no mapa e na política
No passado, eram comuns mapas com o leste no topo, orientados para o sol nascente, associados à suposta localização do Jardim do Éden e à simbologia da luz e da salvação.
Como argumenta Jasper, pôr o Sul no alto não é uma ofensa à ciência, à verdade ou coisa assim. A questão é: o que ganhamos? Será que agora o de baixo sobe e o de cima desce?
Essa nova versão do mapa mundi foi lançada numa semana em que todas as atenções estavam voltadas para a eleição do novo Papa e, claro, para o interminável escândalo de roubo dos aposentados e pensionistas do INSS. A cada dia descobre-se que o rombo é maior, seja na forma de descontos não autorizados, seja em empréstimos consignados forçados e renovados à revelia dos idosos e inválidos.
Por certo, algum marqueteiro do governo deve ter pensado: vamos combater o desgaste do escândalo do INSS lançando algo grandioso, que coloque o Brasil acima de tudo. Vamos fazer o povo esquecer que a apropriação indébita dos proventos dos aposentados – o roubo – se concentrou nestes dois anos do terceiro mandato de Lula. Vamos virar as coisas de cabeça para baixo.
Aos aposentados que estão aflitos com os descontos não autorizados de sindicatos em seus contracheques, o recado do governo parece ser: “Deixa para lá. Isso não tem importância. O importante é que o governo Lula está colocando o Brasil no topo do mundo. É só olhar as coisas ao contrário”.
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