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Marido de funcionária do consulado brasileiro em NY era informante do FBI; três brasileiros foram cooptados




Nos anos 1960, pelo menos dois empregados, além do marido de uma funcionária, foram cooptados pela inteligência americana para repassar informações ao governo dos EUA. Assassinato de Kennedy: veja versão oficial e especulações
Documentos confidenciais do Departamento Federal de Investigação americano (FBI) mostram que, durante os anos1960, os Estados Unidos mantiveram pelo menos três informantes dentro da Embaixada do Brasil em Washington, D.C. De acordo com um dos memorandos do FBI, um dos informantes era marido de uma funcionária do consulado brasileiro em Nova York.
O número de informantes aparece em uma tabela que está em um dos milhares de documentos que vieram a público nesta semana relativos à investigação da morte do ex-presidente dos EUA, John F. Kennedy. A liberação dos arquivos foi autorizada pelo presidente Donald Trump em janeiro deste ano. Os documentos envolvem relatórios de diversos órgãos americanos, como a CIA e o FBI.
Tabela em documento do FBI de 1964 mostra que os EUA mantinham três informantes na embaixada brasileira.
Reprodução
Segundo o documento, um dos informantes atuava como intermediário entre agentes do FBI e a esposa, repassando informações para os agentes americanos e evitando que tivessem contato direto com a mulher.
Documento mostra que marido de funcionária do consulado brasileiro em NY era informante do FBI em 1959.
Reprodução
Além dele, pelo menos dois outros informantes estavam ativos na embaixada capital americana. Nos relatórios do departamento, eles eram classificados como “fontes desenvolvidas”. O FBI também estava investigando e avaliando oito funcionários para decidir se tentaria cooptá-los.
A operação foi autorizada pelo Departamento de Estado, com o objetivo de monitorar os movimentos políticos do Brasil em um período de instabilidade política no país e no cenário internacional. A cada operação, o FBI produzia relatórios com justificativas e formalização do pedido para executar suas operações, já que temiam que a abordagem de funcionários da embaixada interferisse na política externa americana.
Os documentos analisados pelo g1 mostram que o programa de desenvolvimento de fontes em endereços ligados a “países aliados” dos EUA teria começado em 1954 e foi intensificado entre 1955 e 1958.
Documento de 1958 mostra diretor do FBI pedindo ao Departamento de Estado autorização para buscar informantes na diplomacia brasileira.
Reprodução
De acordo com documento de setembro de 1958, diretor do FBI pediu ao Departamento de Estado autorização para buscar informantes na diplomacia brasileira. No pedido, ele alega que há forte presença do Partido Comunista no Brasil e que relatórios apontavam um “forte sentimento a favor do aumento das atividades comerciais entre o Brasil e a Rússia”.
“Esta solicitação está sendo feita em vista da existência de um forte Partido Comunista no Brasil e da ausência de relações diplomáticas entre o Brasil e a URSS. Parece provável que a cidade de Nova York seja um local lógico para contatos entre brasileiros pró-comunistas e oficiais russos. Além disso, relatórios nos últimos meses indicaram que há um forte sentimento a favor do aumento das atividades comerciais entre o Brasil e a Rússia”, diz o documento.
Documento de 1958 mostra FBI preocupado com ligações entre o Brasil e Rússia que pudessem afetar os EUA.
Reprodução
Ainda de acordo com os arquivos, o Escritório de Campo de Washington do FBI (WFO, na sigla em inglês), o Brasil “poderia facilmente alinhar-se com o bloco de países soviéticos e, assim, criar uma situação internacional que afetasse os Estados Unidos”.
“Pelo exposto, parece que devemos tentar nos colocar em uma posição para obter dados de inteligência atualizados sobre o Brasil”, diz um dos documentos.
‘Golpe militar é preferível’
Trecho de documento da CIA aponta que golpe militar seria “preferível” à continuação do ex-presidente João Goulart.
Reprodução CIA
Outro documento elaborado pela Agência Central de Inteligência americana (CIA, em inglês) em 1963 apontava que conselheiros do presidente americano John F. Kennedy estavam preocupados com a situação do Brasil durante o governo de João Goulart e pareciam preferir um golpe militar.
João Goulart, também conhecido como Jango, assumiu a Presidência no Brasil após a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, e teve seu governo interrompido pelo golpe de 1964.
Os documentos ainda mostram que o Brasil era considerado um dos países mais estratégicos para a coleta de inteligência, ao lado de nações como a Venezuela, Argentina e México.
O programa de monitoramento foi reavaliado diversas vezes. A última reavaliação anual presente no documento e que cita o Brasil data de 1966 e recomenda que o programa siga em atividade até a próxima reavaliação prevista para 1968.
“Este programa, de forma contínua, produz informações de considerável valor para a Casa Branca, o Departamento de Estado, outras agências e para o Bureau no cumprimento de nossas responsabilidades investigativas e de inteligência”, indica a reavaliação de 1966.



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