O presidente da Argentina, Javier Milei, disse que a noite desta quarta-feira (4) foi uma noite de festa. “Há tempos queríamos fazer a Cpac aqui em Buenos Aires”, disse, em referência à Conferência de Ação Política Conservadora, da qual foi o anfitrião nesta edição. “Essa cúpula nos faz mais fortes, precisamos espalhar as ideias da liberdade por toda a América Latina.”
Em seu discurso, que encerrou o ciclo dos principais convidados, misturou a propaganda política interna e externa ao comemorar antecipadamente seu primeiro ano como presidente. “Um ano depois, termos conseguido tudo o que conseguimos sem política mostra que nosso plano tinha sentido, ele funciona”, disse, reiterando a retórica outsider que ele chama de anticasta —que ele mantém mesmo sendo o líder do país.
Mais do que isso, disse à plateia que está fazendo “o melhor governo da história, falando a verdade”. Fez graça com os que ele chama de politiqueiros e também com “jornalistas corruptos”, dizendo que sabia que no dia seguinte a imprensa sairia choramingando ou dando manchetes esdrúxulas.
“No modelo da casta, a sociedade é vítima dos políticos sanguessugas. O político tradicional tem como objetivo dar as costas aos cidadãos. São esses com quem não vamos mais ter relações.”
Neste primeiro ano de gestão, Milei disse que nunca se permitiu negar suas convicções para ganhar votos. “Não serve de nada. As pessoas logo se dão conta quando você abandona as coisas nas quais acredita. E deixam de votar em você.”
O argentino também elogiou seu assessor especial, Santiago Caputo, de quem teria ouvido, antes das eleições presidenciais, que ele não deveria mudar nada, “ir em frente com a verdade, mesmo que não agrade a alguns”. Disse que, durante a campanha, sua equipe permanecia atenta às pesquisas, mas não se fiava nelas. “Sempre tivemos a convicção de bancar o risco político de nossas decisões, e foi assim que fomos conquistando os números que temos hoje.”
Milei afirmou ainda ter vencido a inflação. “Fizemos todo o contrário [dos antecessores, hoje na oposição], e nos saímos muito melhor.” Foi aplaudido de modo efusivo.
Mais cedo, seu ministro da Economia, Luis Caputo, também discursou na Cpac e disse que a Argentina ganhará a batalha dos discursos e a batalha contra a inflação. Afirmou ainda que o governo projeta um crescimento da economia em 5% neste ano, “o maior dos últimos 15 anos”.
“Fizemos isso sem pedir ajuda a ninguém, foram os argentinos que fizeram, todos”, disse Caputo, sendo também aplaudido pela público, que incluía jovens estudantes vestidos de terno e gravata e bonés com os dizeres “Make Argentina Great Again” (faça a Argentina grandiosa novamente), uma paródia do slogan de Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos.
Ironicamente, Caputo foi funcionário do governo de Mauricio Macri e um dos responsáveis pelo empréstimo de mais de US$ 60 bilhões ao FMI em 2018. Em sua nova versão, libertária, o ministro parece ter sido perdoado e esse assunto pouco vem a tona.
O presidente argentino também voltou a criticar os meios de comunicação tradicionais, mas celebrou os influenciadores digitais que estavam presentes. Sob nova salva de aplausos, Milei disse que iria ao programa de Gordo Dan, um influencer local famoso no X e apoiador ferrenho do presidente, além de articulador do grupo Las Fuerzas del Cielo, ao qual ele se refere como “um braço armado” da Liberdade Avança, o partido de Milei.
O discurso foi uma mistura de lugares-comuns usados durante a campanha, como “não vim guiar cordeiros, vim a treinar leões” e “sempre que recebermos golpe, temos de nos levantar e dar mais três”. O presidente também ticou itens caros à agenda conservadora: criticou o aborto, o “radicalismo ambiental” e as chamadas pautas identitárias “levadas adiante pela esquerda radical”.
Culpou inclusive os políticos centristas. Segundo ele, “ao serem moderados, acabam impulsionando a esquerda criminosa”.
“Defender uma causa é um mandato muito complexo para um político mediano, ele não o compreende. O jogo é demasiado complicado, e é melhor que vá para casa”.
No final de sua fala, Milei disse que o mundo está vivendo uma mudança de era pois a sociedade está dizendo basta a soluções antigas. “É necessário ter líderes que mantenham os socialistas longe do poder. E para isso, devemos estar juntos, com braços por todos os lados do mundo, uma internacional direitista.”
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