Morreu nesta segunda (28), aos 90 anos, Eulália da Silva Soares, que criou o bolinho de arroz mais famoso de Cuiabá. A cozinheira teve duas paradas cardíacas.
Seu café, localizado bairro da Lixeira, seguirá tocado pela família. “A missão de levar o bolinho como uma tradição de Cuiabá ficou ainda maior”, diz a neta Danielle Soares de Moura, 46. “Tentaremos seguir o exemplo que ela nos passou, de humildade e de muito amor pela família e pelos ingredientes.”
A prefeitura da capital mato-grossense lamentou, por meio de rede social, o falecimento. “É com profundo pesar que nos despedimos de dona Eulália, uma figura icônica da nossa cuiabania. Aos 90 anos, ela nos deixa legado de força, carinho e amor por nossa terra.”
O Governo de Mato Grosso decretou luto oficial de três dias no estado.
“É um ícone quando se fala em regionalidade”, afirma a Ariani Malouf, do restaurante Mahalo. “Ela marcou nossa cultura não só com a comida, mas por ser afetiva, amorosa.”
“Eulália deixa um legado formidável porque soube passar o conhecimento para filhos e netos. Seu bolinho virou um patrimônio mato-grossense e nacional”, destaca a chef cuiabana.
Comida e caminho de vida
A receita que leva arroz, mandioca, açúcar, coco e canela foi ensinada pela tia à cuiabana, que começou a cozinhar para complementar a renda da família em 1958. Deu tão certo que Eulália não parou nunca mais de fazer, e o bolinho se tornou patrimônio da cidade.
O segredo, além do entusiasmo da senhora e de seus familiares, que seguem fielmente os passos, é sempre assar o quitute à lenha –os fornos ficam à vista dos clientes, adornando o salão simples, com mesas de plástico amarelo, localizado no Lixeira.
Todas as terças, quintas, sábados, domingos e feriados, o café Dona Eulália e Família abre as portas e recebe clientes de todas as classes sociais, vindos dos quatro cantos de Cuiabá e de outras cidades, que se sentam para provar o bolinho famoso.
Além do de arroz, há bolo de queijo e chipa. Os salgados custam R$ 5 cada um, e por mais R$ 5 o cliente se serve de café e chá à vontade. A procura é tamanha que, aos finais de semana, o bar chega a vender mil unidades em um único dia.
Em entrevista à Folha, em setembro, Eulália lembrou da importância da cozinha e da receita famosa para sua vida e família. “Isso aqui significa muita coisa, né? O bolinho criou meus filhos, meus netos. Ajudou a todos nós”, disse na ocasião a nonagenária, apoiada sobre sua bengala, sorrindo orgulhosa ao lado de seus quitutes.
Dona Eulália deixa oito filhos, 22 netos, 34 bisnetos e um tataraneto.
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