Depois de ordenar uma invasão da Síria logo após a queda do ditador Bashar al-Assad, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, anunciou nesta quinta-feira (12) que as Forças Armadas de seu país não recuarão da área que ocupam no país vizinho até que “uma nova força” cumpra as exigências de segurança de Tel Aviv.
O termo vago, sem identificar se essa “nova força” seriam os rebeldes que derrubaram o regime de Assad, somado à falta de objetivos militares claros, indica que Netanyahu prepara uma longa ocupação da Síria para garantir “a segurança de comunidades israelenses”, a exemplo do que acontece hoje na Faixa de Gaza.
O governo do premiê, ao conduzir a guerra no território palestino, também apresenta diretrizes militares opacas e tem objetivos considerados pouco realistas, arrastando o conflito iniciado em 7 de outubro de 2023 e prolongando os ataques que já mataram quase 45 mil pessoas.
Críticos temem que a presença prolongada de militares israelenses tanto em Gaza quanto na Síria indiquem um novo movimento expansionista de Tel Aviv —membros do governo Netanyahu falam abertamente em conquistar Gaza, e o país ocupa as Colinas de Golã desde 1967.
Esse território é reconhecido como parte da Síria por toda a comunidade internacional, com a exceção dos Estados Unidos, principal aliado e fiador diplomático e militar de Israel. Desde 1981, Tel Aviv aplica a lei civil israelense no local, o que significou na prática uma anexação do território sírio, e cerca de 25 mil colonos moram em assentamentos judeus ali.
Foi a partir das Colinas de Golã que as Forças Armadas israelenses invadiram a Síria na última terça-feira (10) após ataques aéreos contra bases militares e a frota naval do país vizinho. O objetivo declarado era destruir arsenais que pudessem ser usados contra Tel Aviv por grupos extremistas que se instalassem na região de fronteira.
Desde então, soldados de Israel ocupam uma zona-tampão criada como área desmilitarizada pela ONU com o objetivo de separar as Colinas de Golã do resto do território sírio. Entretanto, relatos da mídia israelense mostram que as tropas já ultrapassaram até mesmo esse território, chegando até a cidade de Kodana, a menos de 90 quilômetros de Damasco.
Apesar de dizer nesta quinta que a presença no país vizinho é apenas temporária, Netanyahu não apresentou uma linha do tempo nem condições concretas para uma retirada, dizendo apenas que a derrubada de Assad “criou um vácuo na fronteira de Israel” e que não permitirá que jihadistas “preencham esse vácuo”.
Uma negociação entre os rebeldes que tomaram o poder na Síria e o governo Netanyahu para o cumprimento das exigências de segurança de Israel mencionadas pelo premiê parece improvável —na segunda (9), o chanceler Gideon Saar disse que a HTS (Organização para a Libertação do Levante), principal grupo rebelde à frente da derrubada de Assad, é motivado por “uma ideologia extremista e islamista radical”.
O movimento de Netanyahu contra a Síria contou com o apoio do governo Joe Biden. O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, disse nesta quinta em Tel Aviv que as ações de Israel são tomadas em legítima defesa, e que o aliado tem o direito de agir para mitigar riscos para a própria segurança.
O assessor de Biden disse ainda ter certeza que a presença israelense em território sírio é apenas temporária. Sullivan está em Israel para, segundo o governo Biden, reforçar o cessar-fogo entre Tel Aviv e o grupo armado libanês Hezbollah, em vigor desde o último dia 27.
Também visita a região nesta quinta o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. De saída do cargo com o fim do governo Biden em janeiro, Blinken esteve na Jordânia e se encontrará com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, principal apoiador dos rebeldes sírios.
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