A Pompeia tem um bloco carnavalesco chamado Água Preta. Seu trajeto acompanha um córrego cuja água, dizem, é preta.
Difícil confirmar essa informação, pois o córrego Água Preta está canalizado, concretado, enrustido pela cidade. Ele só aparece —e como aparece!— quando os temporais de verão alagam as baixadas da zona Oeste.
São Paulo é assim: a natureza, que tentamos neutralizar, emerge da violência.
Aqui onde moro, não muito longe do Água Preta, estão cavoucando os morros para fazer metrô e umas 752 torres residenciais, cada uma com três subsolos de garagem.
As escavações fazem brotar água, muita água, que precisa ser drenada para fora da obra. As sarjetas de Perdizes se converteram em riachos permanentes —e espero que essa gente saiba o que está fazendo, não quero meu bairro tragado por uma voçoroca.
O paulistano, ridículo, se deslumbra quando a natureza teima em habitar nossa triste paisagem. Como as capivaras que ocupam os gramados da Marginal Tietê.
Houve um tempo em que o mesmo Tietê, no trecho urbano, teve um jacaré como morador. O bicho, apelidado de Teimoso, fazia o trânsito parar: centenas de bobalhões a tentar, da janela de seus carros, distinguir jacaré de cocô-drilo.
A fauna paulistana adota hábitos peculiares. Aqui os sabiás são insones por causa da iluminação artificial e cantam a madrugada inteira. A família de pássaros que mora na árvore colada à minha janela proporciona noitadas inesquecíveis.
Falando em árvore, o deleite do paulistano tonto (eu) é descobrir um pé de fruta nas calçadas mais fuliginosas.
As árvores frutíferas de São Paulo são antigas e, portanto, altas. Difícil apanhar fruta madura. O que os passarinhos não comem cai podre no chão.
Dependendo da época, a calçada fica forrada de abacate, de pitanga ou tingida de roxa pelas amoras. Agora, no Carnaval, é a época da goiaba.
Distraído que sou, já pisei em muita goiaba podre neste ano —e me dei por aliviado, pois é a pisada mais benigna das calçadas de Perdizes.
E descobri, num canto do parque da Água Branca, uma goiabeira carregada em alguns galhos que eu alcanço. Comida grátis e o maior Carnaval do mundo (segundo a propaganda oficial), o que mais o paulistano poderia querer?
SALADA DE GOIABA COM QUEIJO CURADO
Rendimento: 2 porções
Dificuldade: fácil
Tempo de preparo: 5 minutos
Ingredientes
1 maço de rúcula lavada
2 goiabas vermelhas ou brancas, não muito maduras
100 g de queijo minas curado
2 colheres (sopa) de castanha de caju
1 colher (sopa) de melado de cana
Suco de ½ limão-cravo
2 colheres (sopa) de azeite
1 colher (café) de sal
Modo de fazer
-
Distribua num recipiente a rúcula, a goiaba em pedaços, o queijo em lascas e a castanha de caju.
-
Prepare o molho: misture com o batedor de claras os ingredientes restantes, mexendo até emulsionar. Regue a salada com o molho e sirva.
LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar sete acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.
Deixe um comentário