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o dia que Petraglia deu oportunidade para atacante


O presidente do Athletico, Mario Celso Petraglia, é conhecido por ter atitudes reprováveis pela torcida – uma delas foi mostar o dedo do meio para quem o criticava -, mas também tem suas histórias louváveis. Uma delas aconteceu com o ex-atacante Choco, revelado nas categorias de base do clube e que viveu problemas fora de campo.

Revelado pelo Rubro-Negro no final da década de 2000, Choco teve uma segunda breve passagem pelo CT do Caju em 2015. Após três temporadas no futebol europeu, o jogador retornou ao Brasil e sofreu com problemas causados pelas drogas. A tentativa de reinício na carreira foi através de um contato justamente com Petraglia.

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Choco pediu uma nova oportunidade no Athletico e teve um rápido contato com o presidente. “Eu me afundei na cocaína achando que ia resolver o problema e piorei. Perdi tudo que tinha conquistado. Em 2015, foi um pedido de socorro”, disse, em entrevista ao UmDois Esportes.

Choco, ex-atacante do Athletico

“Eu mandei um e-mail para o Petraglia, já tinha passado por uma internação em hospital psiquiátrico em Curitiba e estava me desfazendo das minhas coisas. Entrei em contato com o Petraglia e ele ligou no celular do meu pai em menos de 24 horas.

“Estava até sem falar, porque a dependência química destrói tudo. Lembro que meu pai falou que queriam falar comigo e era o Petraglia que disse: ‘Eu li seu e-mail, me emocionei e vem para cá’. Vou comprar uma briga com o pessoal do clube, a gente sabe da sua história e vai ajudar”, acrescentou.

O ex-atacante não escondeu a gratidão a Petraglia pela chance. “Podem falar o que quiser, mas o Petraglia é um cara muito humano, pelo menos comigo foi. É um cara que gosta de ajudar. Falou que ia ficar três meses no CT, só treinando e se recuperando. Eu conhecia alguns funcionários que gostavam de mim e compraram a bronca”, destacou.

Culpa do técnico pela falta de oportunidade e recaída

Choco assinou um contrato curto com o Athletico e tinha a esperança de recuperar a carreira no clube onde iniciou. No entanto, o ex-atacante lembra de uma promessa vazia do então técnico Milton Mendes.

“O Milton Mendes me chamou e falou que ia treinar com o grupo principal. Estava treinando no grupo B e até treinei umas três semanas com o Walter. Ele subiu nós dois, mas deu duas semanas de treino, voltei para o grupo B e fui emprestado”, contou o ex-atacante.

Sem chance no Athletico, Choco foi emprestado para o Inter de Lages, onde teve uma concorrência muito alta. Ele procurou novamente Petraglia para contar a situação, mas rescindiu o contrato.

O ex-jogador ainda jogou o Campeonato Goiano de 2016 pelo CRAC antes de encerrar a carreira. Choco voltou para o mundo das drogas e agora reinicia a carreira e a vida na Apaf, clube de Paranaguá que disputa a Série Bronze do Campeonato Paranaense de Futsal.

Choco: a polêmica saída do Coritiba para o Athletico na base

Ainda adolescente, Choco e o amigo e lateral-direito Raul eram dois dos destaques das categorias de base do Coritiba. Os dois receberam propostas do Athletico e trocaram um rival pelo outro.

A ida da dupla para o Rubro-Negro gerou muita polêmica. O então presidente do Coritiba, Giovani Gionédis, acusou o Furacão de “roubar” os jogadores. E o mandatário do Athletico, João Antônio Fleury, respondeu que “em momento algum fomos fazer a cabeça de alguém”.

Choco explicou os motivos que o fez trocar o Coritiba pelo Athletico. “Eu já estava meio saturado do Coritiba, sou grato ao clube e lembro até hoje, mas eles ‘comemoram mosca’ de não lapidar. Os colunistas diziam que o pessoal da época na categoria de base ‘comeu bola’ em não assinar contrato profissional com a gente. Nós éramos joias a serem lapiadadas e eles não prenderam com contrato”, contou.

“O Athletico veio até Paranaguá e ofereceu proposta. Fui conhecer, me apaixonei pela estrutura e foi um amor à primeira vista. A adaptação foi difícil, os Atletibas eram difíceis, porque sempre provocava e ia para cima. Mas foi questão de tempo. Assinei contrato profissional aos 16 anos, fui convocado para a seleção e tive evolução física muito grande no Athletico. Foi uma passagem muito bacana da minha vida e mexeu com o Paraná”, acrescentou o ex-atacante.

Confira a entrevista na íntegra com Choco, ex-atacante de Athletico e Coritiba

Troca do Coritiba pelo Athletico nas categorias de base

Choco: Na época, muita gente acompanhou pela imprensa, não tinha as redes sociais, e movimentou bastante. Foi momento ímpar na minha vida e na do meu amigo Raul. Nós tínhamos 15 anos e poderíamos assinar contrato profissional com 16 anos. Eu me destaquei no futsal e recebi convite do Coritiba. Treinava futsal de manhã e campo de tarde. Comecei a ser lapidado, fiquei seis anos no Coritiba e recebi essa proposta do Athletico.

Raul já tinha sido convocado para a seleção brasileira sub-15 pelo Coritiba e eu ainda não. O Athletico veio para Paranaguá, fez uma proposta para a minha família a princípio para conhecer a estrutura. Isso foi depois de um campeonato que disputamos em Londrina pelo Coritiba. Raul se machucou e já voltou tratando no Athletico. Eu já estava meio saturado do Coritiba, sou grato ao clube e lembro até hoje, mas eles ‘comemoram mosca’ de não lapidar. Os colunistas diziam que o pessoal da época na categoria de base ‘comeu bola’ em não assinar contrato profissional com a gente. Nós éramos joias a serem lapiadadas e eles não prenderam com contrato.

O Athletico veio até Paranaguá e ofereceu proposta. Fui conhecer, me apaixonei pela estrutura e foi um amor à primeira vista. A adaptação foi difícil, os Atletibas eram difíceis, porque sempre provocava e ia para cima. Mas foi questão de tempo. Assinei contrato profissional aos 16 anos, fui convocado para a seleção e tive evolução física muito grande no Athletico. Foi uma passagem muito bacana da minha vida e mexeu com o Paraná.

Reação do Coritiba com a ida para o Athletico

Choco: Deu o que falar. Salvo engano, o presidente do Athletico era o Fleury e o Petraglia estava no Deliberativo. E no Coritiba era o Gionédis. O Gionédis entrou em contato com a minha família, mandou diretor na casa dos meus pais, mas já estava no CT do Caju. Os caras ficaram loucos. O Cláudio Marques e o falecido Dirceu Krüger eram os coordenadores da base [do Coritiba]. Eu fui sincero. O Gionédis acusava o Petraglia de roubo e eles se defendiam baseado na lei. Eu realmente escolhi, mas eles vieram com o cardápio. Quando acontece com a gente, pega todo mundo de surpresa.

Poucas chances no Athletico

Choco: Isso acabou me frustrando. Não tem uma receita certa, mas eu assumo 60% de culpa. Não que eu não era profissional, eu me dedicava nos treinos, mas dei azar. Era mais difícil subir para o profissional e falavam que precisava de transição e experiência. Eu respondia que ‘se não me colocarem para jogar, não vou ter experiência’. Não gostavam dessa reação na diretoria e o treinador.

Ainda teve mudança de diretoria no Athletico. Não vou citar nome, mas escutei da boca de um diretor que era um baita jogador, mas era jogador da oposição e não ia jogar. Terminei o noivado, comecei a sair e beber, e as portas começaram a fechar. O Athletico tem muito jogador bom e a minha geração foi passando.

Segunda passagem pelo Athletico e “fundo do poço”

Choco: Entre 2012 e 2014, eu fui para a Europa e joguei em Portugal e na Alemanha. Infelizmente, eu sou dependente quimíco, estou em recuperação hoje em dia. Eu acabei me frustrando, entrei em depressão antes da Copa do Mundo e abandonei tudo no União da Madeira. Bebia demasiadamente, comprava vinho porque era frio e tomava em uma hora. Não era normal, batia a depressão e falei para a minha família que não estava bem. Não estava jogando, treinava bem, apesar de não estar bem fora de campo. Ouvia no vestiário que jogava muito e não sabia porque o treinador não colocava para jogar. Não quero me defender, mas não tive uma sequência. Onde eu mais joguei foi na quarta divisão da Alemanha.

Depois que abandonei em 2014 e voltei para o Brasil, eu me afundei na cocaína achando que ia resolver o problema e piorei. Perdi tudo que tinha conquistado. Em 2015, foi um pedido de socorro. Eu mandei um e-mail para o Petraglia, já tinha passado por uma internação em hospital psquiátrico em Curitiba e estava me desfazendo das minhas coisas. Entrei em contato com o Petraglia e ele ligou no celular do meu pai em menos de 24 horas. Estava até sem falar com ele porque a dependência química destrói tudo. Lembro que meu pai falou que queriam falar comigo e era o Petraglia que disse: “Eu li seu e-mail, me emocionei e vem para cá”. Vou comprar uma briga com o pessoal do clube, a gente sabe da sua história e vai ajudar.

Pode falar o que quiser, mas o Petraglia é um cara muito humano, pelo menos comigo foi. É um cara que gosta de ajudar. Falou que ia ficar três meses no CT, só treinando e se recuperando. Eu conhecia alguns funcionários que gostavam de mim e compraram a bronca. Comecei a treinar, evoluir e me dedicar. Depois dos três meses, eu já tinha assinado contrato. O Petraglia foi no CT, soube da minha evolução, mas não garantiu que ia jogar. Se não jogasse, eu seria emprestado.

O Milton Mendes me chamou e falou que ia treinar com o grupo principal. Estava treinando no grupo B e até treinei umas três semanas com o Walter. Ele subiu nós dois, mas deu duas semanas de treino, voltei para o grupo B e fui emprestado.

No Inter de Lages, tinha dois atacantes titulares, dois reservas e mais uns oito de fora. O treinador foi sincero comigo: “Não sei porque o Athletico mandou você para cá. Eu estou cheio de atacante e estou emprestando”. Aí é sacanagem demais. Liguei para o Petraglia, expliquei a situação para ele e a gente rescindiu.

Consegui ir para o CRAC, em 2016, mas entrava pouco. Quando achei que ia engrenar, nós fomos eliminados e o CRAC ficou sem calendário. Foi quando eu parei, a frustração voltou e voltei a usar droga. Foi o fundo do poço e tive mais uma sete ou oito internações. Sempre estive na luta e nunca desisti. Não tinha mais força e estava quase tirando a minha vida. As pessoas sempre me viam sorrindo na rua, fazendo piada, mas no fundo estava com vazio muito grande. Eu me encontrei com o Espírito Santo, estou feliz.

Reinício da carreira no futsal

Choco: Eu sou conhecido em Paranaguá. Apesar de entrar na vida ruim, eu sempre estava na vida do futebol. Tenho amigos que já jogaram na Apaf e ia torcer por eles. O convite veio do técnico Maykon Zara. Vale ressaltar o que ele e a família dele fizeram por mim. Estava sob efeito de droga no ano passado e lembro dele entrando. Ele me convidou para a Apaf e que sabia da minha índole.

Estava sem usar no dia seguinte que o Maykon voltou e ele perguntou se eu topava. Eu aceitei, mas ele me deu uma condição de que precisava ser internado de novo para desintoxicar. Fui em 04 de janeiro e fiquei na comunidade terapéutica. Em um domingo, ele foi me buscar e falou que ia começar a pré-temporada. Estão sendo as três melhores semanas da minha vida e não troco por nada. Estou focado e feliz. A diretoria ainda falou que se não ganhar, mas me recuperar, já tinha ganhado o ano. Estou vendo uma luz no final do túnel, fazendo o que gosto e com pessoas que acreditam em mim.

O que significa o retorno para o futsal

Choco: Significa alegria. Não sou merecedor, mas é uma coisa que sempre pedi em oração. Apesar de estar no mundo das trevas, eu sempre fui um cara de luz e alegre. Eu fiz mal para pessoas que amam e até quem não me conhecia, mas me viram na rua em estado ruim. Nunca fiquei em situação de rua porque minha família nunca me abandonou. A oportunidade está aí, no que eu sei fazer e onde me sinto bem. Vai dar certo desta vez e Deus capricha. Tem tudo para dar certo.

Assista à entrevista completa com Choco

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