Os números do Produto Interno Bruto, indicador mais completo da atividade econômica no país, são conhecidos com uma defasagem de cerca de dois meses —nesta terça-feira (2), soube-se que o PIB do terceiro trimestre deste 2024 mostrou outro bom resultado, alta de 0,9% ante o trimestre anterior. Muita coisa aconteceu desde o final de setembro, porém.
A cotação do dólar, que rondava já elevados R$ 5,45, hoje está acima de 6,05; a mediana das expectativas de inflação para o próximo ano subiu de 3,97% para 4,4%, distanciando-se da meta de 3% perseguida pelo Banco Central; a taxa básica de juros, não por acaso, foi elevada de 10,75% para 11,25% anuais, e já se imagina que ela possa ultrapassar os 14,5% em questão de meses.
São mudanças que obviamente conspiram contra a permanência do crescimento econômico, por mais que os efeitos das condições financeiras não se manifestem de imediato em indústria, serviços, agropecuária, consumo das famílias e investimentos.
Pior, o problema que motivou a deterioração está longe de ser sanado —a percepção geral de que o ritmo de aumento das despesas públicas não é sustentável, e o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não está disposto a tomar as providências necessárias para uma correção de rota.
Em tal cenário, a perda de confiança nos títulos da dívida federal leva investidores a procurarem segurança na moeda americana, cuja cotação sobe e encarece produtos e serviços. A inflação também sofre a pressão do consumo impulsionado pela injeção de dinheiro do Tesouro.
Resta ao BC elevar os juros para dificultar o crédito, esfriar a economia e evitar um descontrole de preços. Ao fazê-lo, entretanto, piora ainda mais a situação orçamentária do Estado.
No mundo dos sonhos dos defensores do gasto público como indutor da economia, a prosperidade resultante da expansão fiscal geraria mais receita tributária e equilibraria as contas do governo —e a dívida pública cresceria em ritmo inferior ao do PIB.
Claramente, não é o que se observa. Mesmo com a expansão da atividade bem acima das expectativas, o endividamento governamental saltou do equivalente a 71,68% do produto para 78,64% em menos de dois anos do terceiro mandato de Lula. Se nada for feito, calcula-se que haverá alta contínua até o final da década.
Trata-se de corrida em que a vitória é impossível nas atuais circunstâncias. Quanto mais tempo se levar para fazer os ajustes inescapáveis no Orçamento público, mais dolorosos eles serão.
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