Tratei nesta Folha, na terça (4), sobre casos recorrentes de brutalidade policial. Há, no entanto, um outro aspecto pouco explorado nas leituras sobre violência policial na imprensa brasileira: o que pensam os próprios policiais sobre a politização da corporação? De um lado, não se pode negar, há sim uma crescente radicalização das polícias. Dados não faltam: aumentou em 35% o número de representantes de forças de segurança no Congresso em 2022, e quase um terço dos policiais em estudo interagiram em 2021 com conteúdos antidemocráticos nas redes sociais.
Guilherme Derrite não é um acidente de percurso; é fruto direto da radicalização das polícias. Nomear para chefiar as polícias paulistas um ex-PM que já foi investigado por ter participado de operações em que 16 pessoas morreram foi um aceno do governador Tarcísio de Freitas à tropa. O buraco no sapato de Derrite-Tarcísio, no entanto, é que as polícias não são blocos monolíticos.
Compramos facilmente a versão da extrema direita de que as polícias apoiam em uníssono serem usadas como marionetes de políticos do calibre de Derrite. Ouso argumentar que este não é o caso. Apesar de alguns aplaudirem e executarem a barbárie, parte da tropa não está feliz com a instrumentalização de uma corporação cujo mantra institucional é o respeito à hierarquia e à lei, mesmo quando não as respeita.
Parte do comando-geral das polícias está preocupada com a sinalização de impunidade por abusos policiais, porque isso mina a autoridade vertical desses comandantes. Parte das polícias não está satisfeita com o desmantelamento do programa de câmeras corporais porque investiram recurso, tempo e treinamento para trazer inteligência ao trabalho policial. Parte da Polícia Civil está incomodada com a ênfase em operações ostensivas e não em investigação policial séria.
Há policiais apreensivos com o aumento recorde, sob Tarcísio, de suicídios de PMs. Há policiais preocupados em não serem vistos pela sociedade como matadores fardados. Gostariam de fazer seu trabalho com profissionalismo e voltar para casa vivos e não colocarem suas vidas em risco para que Tarcísio ganhe a Presidência em 2026, e eles, o caixão.
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