Únicas das antigas cinco gigantes da construção pesada que sobrevivem entre as maiores do mercado após a Lava Jato, Odebrecht e Andrade Gutierrez querem aproveitar o novo ciclo de investimentos em infraestrutura no Brasil para voltar a expandir seus negócios. Para isso, analisam oportunidades futuras em segmentos como o de concessões.
O movimento representa uma reversão do observado nos últimos dez anos, quando os grupos de ambas entraram em dificuldades e tiveram que vender ativos em diferentes frentes. Agora, as empresas voltam a analisar chances de crescimento em um mercado com mais presença de outras empreiteiras nacionais, grupos estrangeiros e setor financeiro.
A Odebrecht está se reestruturando e identificando oportunidades de volta ao mercado brasileiro de concessões, após vender grande parte de um portfólio que chegou a incluir contratos como o do aeroporto do Galeão (no Rio de Janeiro) e da BR-163 no Mato Grosso. Além disso, a empresa busca negócios desse tipo em países vizinhos.
Já a Andrade Gutierrez, que estuda novos negócios como a recém-criada Evolua (de geração distribuída de energia), também avalia oportunidades futuras em concessões —embora afirme não ter nenhum ativo em vista no momento. A empresa mantém o tema como uma possibilidade pouco mais de dois anos após vender por R$ 4,1 bilhões para Itaúsa e Votorantim sua participação na CCR, empresa de concessões.
No modelo de concessão, o ativo (como uma rodovia ou aeroporto) é administrado durante um período (de 20 ou 30 anos, por exemplo) por uma empresa que fica responsável por investir e contratar construtoras para fazer obras. Em troca, fica com as receitas geradas pelos usuários. Difere-se das obras públicas, quando a empreiteira recebe do poder público para fazer o empreendimento.
O retorno às concessões abocanharia parte de um negócio em crescimento no país. A Abdib (Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base) calcula que os investimentos da iniciativa privada, onde estão as concessões, subiram 35% ao longo dos últimos dez anos e fecharão 2024 em R$ 197 bilhões. Já para os aportes liderados pelo poder público, a estimativa é de queda de 34% no mesmo período –para R$ 62 bilhões.
O ano que vem deve continuar a ter novas oportunidades no segmento. O Ministério dos Transportes sinaliza leiloar ao menos 15 concessões de rodovias em 2025, após já ter feito 8 na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Gustavo Coutinho, diretor-financeiro do grupo Andrade Gutierrez, afirma que a venda de ativos foi uma estratégia-chave nos últimos dez anos, assim como o foco no negócio original da construção pesada e a busca por contratos privados.
“Vendemos [participações em] CCR, Cemig, Sanepar, Light, Oi, hidrelétrica de Santo Antônio. Pagamos dívida, postergamos pagamento de dívida e tivemos desembolsos de R$ 1,8 bilhão vinculados a leniência“, afirma.
O foco na construção, inclusive buscando contratos em outros países, ajudou a manter um negócio no qual as empresas têm experiência e que gera caixa robusto. “Esse é o nosso core business [negócio principal]. Todos os negócios de infraestrutura vieram da geração de caixa da engenharia”.
Atualmente, ambas planejam crescimento das respectivas empreiteiras enquanto avaliam novas oportunidades.
A Andrade chega ao fim de 2024 com uma carteira de R$ 19 bilhões na construção, quase o dobro do observado um ano atrás. “Foi um ano bem representativo, batemos recorde em contratação. A gente sente nosso telefone tocar mais”, afirma.
A atual Odebrecht Engenharia e Construção planeja obter US$ 8,9 bilhões (R$ 53,8 bilhões) em novos contratos até 2027. A companhia monitora 112 projetos, que somam US$ 23,6 bilhões (R$ 142,5 bilhões) em possíveis conquistas.
A empresa quer ser protagonista em projetos de transição energética, em obras no setor logístico, além de fortalecer a atuação na manutenção de plantas industriais. Também quer expandir a presença na África e nos Estados Unidos.
A situação das duas na construção contrasta em diferentes graus com a de antigas “irmãs” que perderam mercado. A Camargo Corrêa, por exemplo, um dos nomes mais tradicionais e anteriormente entre as três maiores, não tem sido mais vista em concorrências e integrantes do setor apontam que os acionistas do grupo paulista (hoje, chamado de Mover) desistiram de vez do segmento.
Um retorno às concessões contaria com novos rivais no caminho. Para se ter uma ideia, os grupos ligados às antigas cinco grandes empreiteiras arremataram 60% dos leilões de rodovias feitos pelo governo federal em 2013 (ano anterior à Lava Jato). De 2015 em diante, o cenário se inverteu e 70% dos contratos foram assinados por representantes de fora do antigo clube.
Venilton Tadini, presidente-executivo da Abdib, afirma que o mercado foi profundamente transformado após os escândalos. “São pouquíssimas as construtoras que continuaram concessionárias. Vieram os fundos de investimento no lugar. Várias instituições financeiras estão se organizando também com fundos captados no exterior”, afirma.
Humberto Rangel, diretor-executivo do Sinicon (Sindicato Nacional da Construção Pesada), diz que a Lava Jato derrubou várias empresas, mas que as sobreviventes estão se fortalecendo apesar de dificuldades que persistem sobretudo em financiamentos.
“Talvez essa tenha sido uma crise diferenciada, porque alcançou empresas de grande dimensão nacional e até internacional. Mas as empresas estão aí se recuperando. E os números mostram isso”, afirma.
Maiores construtoras do país, por faturamento
- Odebrecht Engenharia e Construção (R$ 4,1 bi)
- Acciona (R$ 3,1 bi)
- LCM Construção (R$ 3,1 bi)
- Andrade Gutierrez (R$ 2,9 bi)
- Construcap (R$ 1,6 bi)
- Empresa Construtora Brasil (R$ 1,6 bi)
- Construtora Barbosa Mello (R$ 1,6 bi)
- Grupo A. Yoshi (R$ 1,5 bi)
- U&M Mineração e Construção (R$ 1,5 bi)
- Fagundes (R$ 1,5 bi)
Fonte: O Empreiteiro.
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