Durante quatro dias de outubro, o tranquilo distrito de Trancoso, no sul da Bahia, recebeu uma nova leva de turistas. O movimento foi orquestrado pela quarta edição do Organic Festival Trancoso, evento que promove cultura, gastronomia e sustentabilidade na região.
A abertura do festival aconteceu numa noite chuvosa, mas animada no bar Muru, ponto badalado da noite em Trancoso. Por lá, foram servidos pratos vegetarianos do chef Thiago Medeiros, responsável pelo restaurante Alquimia, do Hotel Serra da Estrela, em Campos do Jordão.
Para acompanhar, as bebidas foram criadas pela bartender Chula Barmaid, que assinou uma dúzia de cartas de drinques ao longo dos dias de festival. Ela praticamente não repetiu os coquetéis que harmonizavam com os diferentes menus servidos no evento.
Durante os dias, os visitantes puderam participar de oficinas e rodas de conversas que relacionavam alimentação, saúde e sustentabilidade. Os eventos do festival eram gratuitos e abertos ao público —geralmente composto por produtores e moradores da região, produtores de insumos orgânicos de outros estados brasileiros, turistas de diferentes regiões do Brasil e estrangeiros.
As atrações do festival se concentravam principalmente em duas casas localizadas no Quadrado, o ponto turístico mais conhecido de Trancoso. A vila construída por missionários jesuítas é formada por uma espécie de campo aberto no centro, cercado por casas de fachadas preservadas com uma igreja branca ao fundo.
A chamada Casa Organic Festival Trancoso é, na verdade, uma das diversas casas que fazem parte do complexo do hotel Uxua e pode ser alugada para hospedagem em outros períodos do ano. A instituição é uma das idealizadoras do Organic Festival.
Já a Casa Conservação Internacional é administrada pela ONG de mesmo nome, que realiza outros trabalhos no local fora do festival.
Durante o evento, as casas sediaram aulas sobre chocolates, oferecida pela Dengo, e vinhos, com Diego Cartier —sommelier e fundador da Vivente Vinhos. Oficinas de compostagem, fermentação —guiada pelos fundadores da Cia dos Fermentados— e alimentação plant-based também fizeram parte da programação.
O especialista Thomaz Scardua promoveu uma roda de conversa sobre abelhas nativas em que os visitantes puderam experimentar mel extraído na hora. Outro destaque foi a exibição do curta “Caiçara” de Oskar Metsavaht, que foi seguido por uma palestra sobre a preservação dos oceanos.
Com tantas atrações, que muitas vezes se sobrepunham, o visitante precisa fazer escolhas estratégicas de roteiro para não perder as aulas a que deseja assistir.
Intercalados aos diferentes conteúdos didáticos, aconteciam almoços e jantares preparados nos restaurantes locais, em parceria com chefs convidados. Roberta Sudbrack, que toca o Sud e o Pássaro Verde no Rio de Janeiro, começou seu menu com uma mandioca colhida no Uxua Roça salpicada com botarga e servida em uma telha.
A apresentação do prato foi por um texto escrito pela chef que relacionava o aconchego e a ousadia de seus preparos ao Organic Festival. Segundo ela, a telha foi uma ideia de última hora, que teve ao observar a casa em que o almoço aconteceria.
O local tem três casas próximas, formando um complexo que leva o nome de Uxua Maré, mas que ainda não foi inaugurado. As residências ficavam em Minas Gerais, onde seriam demolidas, mas tiveram suas partes desmontadas e levadas até Trancoso para serem reformadas.
Além da entrada servida em telhas como as da casa, a chef preparou costela assada por uma noite inteira na brasa morna. Depois do fim do menu, os aplausos à equipe da cozinha tomaram conta do lugar.
Outro restaurante que fez parte do festival se chama Almar Trancoso, que fica à beira da praia. A chef Victoria Fiechter recebeu em sua cozinha Gerônimo Athuel, que comanda o Ocyá, no Rio.
Juntos, os chefs executaram um menu de sete tempos com base em peixe e frutos do mar. Um dos destaques foi a lagosta servida com caju e guasacaca -molho à base de abacate.
Gabriela Barreto, chef do Chou e sócia do Futuro Refeitório em São Paulo, foi a responsável pela comida servida na pool party do festival. A lista de pratos incluía tiraditos de peixe, espetinhos de shitake e salada de camarão grelhado.
Para acompanhar, a carta de drinques de Chula oferecia uma versão mais leve do tradicional bloody mary.
Janaina Torres, eleita a melhor chef do mundo pelo World’s 50 Best, fez parte dos menus de dois jantares. No chamado As Sul-Americanas, realizado no Uxua Quadrado, ela dividiu a cozinha com Narda Lepes e Morena Leite.
As três prepararam pratos que uniam terra e mar. O menu contou com um cozido de milho com porco, frutos do mar e tucupi, seguido por um peixe preparado envolto em folha de couve e acompanhado por um molho servido na hora.
Morena e Janaína voltaram a trabalhar juntas, acompanhadas de Sandra Marques, no Jantar das Veteranas. As chefs criaram duas opções de menu —tradicional ou vegano— para os clientes que foram à pousada e restaurante Capim Santo.
O ponto alto do Organic Festival, tanto para visitantes quanto para moradores da região, é o piquenique, que acontece no sábado do evento. Durante a tarde, todos os chefs, hotéis e restaurantes que participam da festividade se reúnem no Quadrado e oferecem lanches que demonstram sua personalidade na cozinha.
O evento também conta com produtores de diversos insumos do sul da Bahia. Enquanto vendem suas mercadorias, geralmente oferecem degustações para os potenciais clientes.
Muito aguardado pela população local, o piquenique atraiu músicos que deram início a uma roda de samba. A dica para este dia é levar cangas para esticar no chão e sentar para apreciar música enquanto aproveita a comida.
Apesar da extensa lista de pratos servidos ao longo dos dias, a ala de refeições do festival não chegou ao fim. Outro participante do evento foi o restaurante Floresta Trancoso, que foge do estilo das outras casas.
Mais despretensioso, o local oferece um bufê de comidas caseiras em que os clientes montam seus pratos. No evento, as carnes soubeef eram grelhadas na churrasqueira externa do restaurante, que fica em meio a uma floresta de seringueiras.
No outro extremo da comparação está o Fasano Trancoso, que segue a mesma linha e qualidade de atendimento de suas outras unidades. Em uma área de quase 300 hectares, o empreendimento tem suítes e complexos de casas para hospedagem, além de bar e restaurante com vista para a praia de Itapororoca.
A cozinha é comandada pelo chef Zé Branco, que recebeu Vanessa Silva, responsável pelo Bistrot Parigi, do grupo Fasano, em São Paulo. O menu preparado por eles unia características e técnicas da culinária francesa ao ingredientes da Bahia.
A poucos minutos de carro dali, fica a pousada Tutabel, que sediou o almoço preparado pelos chefs Onildo Rocha, do restaurante Notiê, e Ricardo Lapeyre, do Le Bulô —ambos em São Paulo. Os dois exploraram o preparo de frutos do mar no último almoço do festival.
No encerramento do evento é feito organizado um luau na praia. Nesta edição, aconteceu um show do cantor Jota Pe, seguido do set do DJ Ubunto. A chuva que caiu à tarde, reduziu o público do evento, mas quem decidiu sair de casa aproveitou uma bela noite de lua cheia acompanhada por pratos do chef Ícaro Rosa, do restaurante Jiló, em Salvador.
A jornalista viajou a convite do Organic Festival Trancoso
Deixe um comentário