Por Candelaria Grimberg
BUENOS AIRES (Reuters) – Argentinos que vivem com HIV/AIDS e médicos afirmam que os cortes promovidos pelo presidente do país, Javier Milei, estão dificultando o tratamento da doença e podem aumentar o número de casos, com menor distribuição de preservativos e menos testes para detectar o vírus nos estádios iniciais.
O líder de extrema-direita está empreendendo uma política rígida de austeridade, usando sua “motosserra” para cortar o tamanho do Estado sob o pretexto de reverter o grande déficit fiscal que herdou. Isso provocou cortes e congelamentos orçamentários em muitos serviços do setor público.
O orçamento para o tratamento gratuito do HIV/AIDS, cujo país é pioneiro, caiu 67% em termos reais em 2024 e deve ser reduzido em 46% em 2025. Os cortes colocaram pressão no fornecimento de medicamentos essenciais e podem deixar milhares de pessoas sem tratamento no próximo ano, disseram especialistas.
A Síndrome da Imunodeficiência adquirida (AIDS) é uma doença crônica causada pelo vírus HIV. A maioria das pessoas com HIV pode ter uma vida próxima da normal e não sofre com doenças relacionadas, caso seja efetivamente tratada no início da infecção.
“Venho tomando medicamentos vencidos desde maio. Agora em outubro me deram remédios até fevereiro, mas que venceram em novembro”, disse à Reuters Claudio Mariani, de 59 anos, que foi diagnosticado em 1993. “Em meu caso, por exemplo, estou fazendo o teste de carga viral agora, mas não sei quando receberei os resultados.”
De acordo com dados oficiais do governo, cerca de 140 mil pessoas vivem com o vírus na Argentina. Aproximadamente metade delas depende de tratamento providenciado pelo setor público, de acordo com o último boletim epidemiológico divulgado pelo Ministério da Saúde.
O governo não respondeu a pedidos para que comentasse sobre o tema.
A Fundação Huésped, que trabalha para assegurar o acesso à saúde para os pacientes de HIV/AIDS, afirmou que mais de 9.000 pessoas terão o tratamento interrompido em 2025 devido aos cortes orçamentários.
O orçamento do governo para o “Programa 22”, de tratamento ao HIV, terá um aumento nominal de 21 para 23 bilhões de . Com a inflação acima dos 100%, isso significa uma redução real.
O malefício pode ser que pacientes não sejam diagnosticados com a doença, ou que esse diagnóstico ocorra tarde demais, aumentando ironicamente o custo com internações hospitalares, dizem especialistas.
“Essas pessoas precisam de internação, tratamento para infecções e uma grande quantidade de cuidados que poderiam ser evitados se o diagnóstico fosse feito mais cedo”, afirmou Leandro Cahn, diretor-executivo da fundação. “Todos esses cortes, longe de economizar dinheiro, geram mais custos.”
Dados do Ministério da Saúde mostram que, neste ano, o número de preservativos distribuídos pelo governo caiu para 209.328, contra 503.460 do ano passado.
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