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Papa Francisco nomeia 21 cardeais e valoriza diversidade – 07/12/2024 – Mundo


O papa Francisco elevou 21 líderes eclesiásticos de todo o mundo ao posto de cardeal neste sábado (7), no Vaticano, com destaque para a forte presença latino-americana, entre elas do arcebispo de Porto Alegre (RS), Jaime Spengler, refletindo a ênfase do pontífice nas periferias em uma Igreja cada vez mais globalizada.

A escolha do brasileiro se deve à confluência de dois fatores, segundo o próprio dom Jaime em entrevista à Folha. É uma resposta ao trabalho dele em si e à tragédia climática deste ano no Rio Grande do Sul. Mais que reconhecimento, afirma, é sinal da “solicitação de um serviço ainda mais intenso”.

Com este “consistório ordinário” (reunião de cardeais com o pontífice), o décimo desde sua eleição em 2013, o jesuíta argentino, que no dia 17 de dezembro completa 88 anos, continua consolidando sua herança e moldando à sua imagem o colégio de cardeais que deverão escolher seu sucessor.

Francisco terá nomeado quase 80% dos 140 cardeais eleitores, aqueles com menos de 80 anos, que participarão no próximo conclave, que exige maioria de dois terços para a escolha do novo pontífice.

Até completar 80 anos, em 2040, dom Jaime terá pela frente 16 anos com possibilidade de votar em conclaves. Um acontecimento que o arcebispo trata com reserva. A missão dos cardeais num conclave, diz o arcebispo, é identificar os desafios presentes e o nome que demonstre maior capacidade de responder a eles.

Em seu pontificado, Francisco valorizou as dioceses distantes, localizadas no que ele chama de periferias, onde muitas vezes os católicos são minoria, e não abandonou o costume de recompensar sistematicamente arcebispados de grandes dioceses, como Milão ou Paris.

A nova promoção segue a mesma linha, com uma representação importante da América Latina e da Ásia, mas um pouco menor no caso da África.

Além de dom Jaime, os novos cardeais latino-americanos serão os arcebispos de Lima, Carlos Gustavo Castillo; de Santiago del Estero e chefe da Igreja Católica na Argentina, Vicente Bokalic; de Guayaquil, o equatoriano Luís Gerardo Cabrera; e o arcebispo de Santiago do Chile, Fernando Natalio Chomali.

“Temos que aprofundar a linha de uma Igreja aberta”, disse o argentino Bokalic em uma entrevista à imprensa oficial da Santa Sé, Vatican News.

Também há uma importante representação da Ásia-Pacífico, a região com maior expansão na última década, incluindo o arcebispo de Teerã, de Tóquio, de Bogor (Indonésia) ou o bispo da comunidade ucraniana de Melbourne.

De acordo com dom Jaime, uma diversidade regional pode trazer dificuldades na hora de escolher o sucessor de Francisco, já que os cardeais estão espalhados por vários países e convivem pouco.

“Vai exigir um esforço ainda maior no sentido de buscar consenso”, reconhece dom Jaime. Para ser eleito, é preciso que o futuro papa receba dois terços dos votos dos eleitores presentes.

“Eu não sei, por exemplo, quem é o cardeal de Tóquio, da Mongólia, das Filipinas. Mesmo aqui, no contexto latino-americano, não conheço todos. Creio que pode trazer dificuldade e exigir prudência, de não atropelar processos para que realmente se chegue a um consenso salutar”, diz dom Jaime.

A escolha dos cardeais corresponde exclusivamente ao chefe da Igreja Católica, que os seleciona de acordo com seus próprios critérios e prioridades.

Sua missão é auxiliar o governo central da Igreja. Alguns vivem em Roma e assumem funções na Cúria (o governo do Vaticano), mas a maioria exerce seu ministério na diocese de origem.

Ao avaliar o legado de Francisco até hoje, dom Jaime cita a preocupação com a humanidade e a necessidade de atentar para problemas como a mudança climática. E acredita que o papa seja “a voz mais autorizada no mundo, em torno de questões não só eclesiásticas”, mas também em áreas como meio ambiente, relação entre os povos e a necessidade de pensar em um sistema econômico diferente.

Para dom Jaime, o sucessor ideal de Francisco será alguém que seja capaz de construir pontes para superar um mundo que parece sempre mais polarizado. E que esteja à altura do maior desafio da Igreja: o de transmitir a fé às novas gerações com uma linguagem apropriada.



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