Lar Gastronomia Papa Francisco: vinho era ‘presente de Deus’ – 25/04/2025 – Isabelle Moreira Lima
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Papa Francisco: vinho era ‘presente de Deus’ – 25/04/2025 – Isabelle Moreira Lima


O vinho é um “presente de Deus”, uma verdadeira “fonte de alegria”. Essas palavras, das quais não consigo discordar, foram proferidas pelo papa Francisco (1936-2025) há pouco mais de um ano. Morto no último sábado, ele nunca escondeu seu apreço pela bebida e em 2016 já havia dito que um casamento sem vinho deixaria os recém-casados envergonhados —”Imagine terminar a festa bebendo chá”—, o que me fez pensar no primeiro milagre de Jesus, exatamente transformar água em vinho (e não em Camellia sinensis).

Nascido na Argentina, maior mercado de vinhos na América do Sul, era filho de pai piemontês da província de Asti, onde se produz maravilhas do vinho italiano como o Barbera d’Asti e Moscato d’Asti. Quando assumiu o papado e mudou-se para o Vaticano, ganhou uma garrafa de Grignolino do bispo de Asti, uma variedade autóctone: um vinho tinto leve e pálido, com notas de frutas frescas ácidas, ótimo para tomar em noites mais quentes.

No Vaticano, revelam as estatísticas, consome-se mais vinho do que em qualquer outro lugar do planeta Terra per capita: com 800 habitantes, são 79 litros por ano, o equivalente a 99 garrafas, o que dá uma garrafa a cada quatro dias aproximadamente. Mas não se engane com as estatísticas, porque muito desse consumo acontece na ritualística católica, nos cafés voltados aos turistas e nos refeitórios do clero.

De todo modo, com toda uma vida rodeada de vinho, não foi de espantar que o próprio papa Francisco tenha resolvido fazer vinho também. Em 2021, convidou o enólogo italiano Riccardo Cotarella, responsável por 70 projetos vinícolas (entre eles o do cantor inglês Sting), a ser o autor da vinificação de dois hectares de vinhedos de cabernet sauvignon em seu castelo de verão, em Castel Gandolfo, arredores de Roma.

A produção faz parte de um projeto maior de ecologia integral, o Borgo Laudato Si, inspirado na encíclica papal de 2015, e o vinho seria um de seus marcos a serem divulgados em todo o mundo, uma bebida “de alto nível” que tem previsão de lançamento no ano que vem, mas que será vendida apenas no Vaticano.

Ao ler que justo a cabernet sauvignon foi a eleita para o vinho fiquei um pouco decepcionada. Esperava uma uva italiana para assumir a função, considerando a ancestralidade e o histórico de vida do papa. Ou, melhor, muitas uvas. Afinal, o outro vinho que tem ligação direta com o papado, o Châteauneuf-du-Pape, feito no sul do Rhône, na França, pode levar uma dezena de castas em uma garrafa.

A denominação francesa começa sua história ainda no século 14, quando a residência papal é transferida para Avignon e foi iniciada a construção de um castelo de verão no norte da cidade. O papa Clemente 5º teria chegado ao local em 1309 e logo deu ordens para que vinhedos fossem plantados ali. Mas foi só no século 19 que surgiu o primeiro vinho com o nome de Châteauneuf-du-Pape —e sua reputação logo cresceu.

O vinho mais famoso da região costuma ser tinto, bastante alcoólico (a partir de 12,5%), e mescla muitas uvas, muitas vezes sem distinção de tintas e brancas —18 variedades são permitidas na região, como grenache, a mais importante, mourvèdre, syrah, cinsault, entre as tintas; e clairette, bourboulenc e roussanne, entre as brancas.

Fruta madura, especiarias, potência, exuberância, uma coloração intensa, adstringência e generosidade são alguns dos termos que podem descrever os tintos da Chateauneuf, os vinhos mais conhecidos da denominação de origem. Mas os brancos, mais raros, não ficam atrás. São também alcoólicos e generosos, encorpados, cheios de personalidade e originalidade. Não parecem perfeitos para um papa?

Vai uma taça?

Se você ficou interessado em provar o vinho feito na cidade do pai do papa Francisco, indico o Bel Colle Barbera D’Asti (R$ 109 no Altruísta), que é fresco e traz lindas notas de cereja. Mais exótico, o Grignolino Del Monferrato Casalese (R$ 215 na Wines4U) é feito com a mesma uva usada para homenagear o papa quando chegou ao Vaticano. Agora, se o Châteauneuf-du-Pape falou mais às suas papilas, um dos mais tradicionais, o Château de Beaucastel, da Família Perrin (que faz o rosé de Brad Pitt) chega ao Brasil pela Mistral.


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