Maior empresa da indústria cafeeira do Brasil, o grupo 3corações pretende certificar 100% do café verde que adquire até 2030. A meta é anunciada pelo próprio CEO, Pedro Lima, em entrevista exclusiva à Folha.
Filho de João Alves de Lima, que deu início à empresa, em 1959, Pedro recebeu a reportagem no escritório da companhia em São Paulo, no bairro do Itaim Bibi. Com faturamento anual de R$ 9,7 bilhões, o grupo supera, no Brasil, gigantes internacionais, como JDE –dona da Pilão e L’Or– e Melitta.
Com seu estilo despachado, Lima destoa do tradicional perfil de CEO. Filho de costureira e nascido em São Miguel, município de 22 mil habitantes do interior do Rio Grande de Norte, a 430 km de Natal, ele mistura dados importantes da empresa com causos e histórias da família. Ao longo das duas horas de entrevista, se levanta repetidas vezes, dá a volta na mesa para mostrar relatórios e pede para a equipe providenciar documentos para apresentar à reportagem.
O compromisso de adquirir café 100% certificado é tornado público após a Folha publicar uma reportagem na qual analisou os relatórios de sustentabilidade das três maiores empresas do setor e mostrou que o grupo 3corações não só aumentou suas emissões de gases causadores do efeito estufa como não tinha meta de descarbonização.
“Eu vi que você sentou o cacete na gente”, diz, em seu estilo espontâneo e bem-humorado, em referência à reportagem publicada dias antes, para em seguida anunciar seu compromisso com a certificação.
“Nós somos 300 mil produtores de café no Brasil. Eu tenho responsabilidade com o produtor de café brasileiro. Por que eu tenho responsabilidade? Nós somos uma grande empresa, a gente processa mais de 5 milhões de sacas de café aqui no Brasil. Isso significa 8%, mais ou menos, da safra”, diz Lima, antes de anunciar sua meta: “Até o ano 2030 eu quero certificar todo café que eu compro”.
Atualmente, a empresa já aplica o programa de certificação, conhecido como Coffee Verified, para as linhas mais sofisticadas da marca. Mas isso não chega nem a 5% do café que a empresa vende. Por isso, a decisão de incluir todo o portfólio no programa é um objetivo ambicioso, mesmo que ainda não haja uma meta específica para descarbonização.
Enquanto lida com cobranças ambientais, a empresa tenta se manter competitiva em um mercado em que o preço é determinante para a escolha do consumidor.
Esse mercado teve, no ano passado, um movimento importante, sobretudo pela disputa no Nordeste. Isto porque a JDE, que tem a segunda maior operação de café industrializado do Brasil, comprou a Maratá, que era a quarta maior. Como a líder na região é a Santa Clara, que pertence ao grupo de Lima, a aquisição da Maratá promete espelhar no âmbito regional a disputa que as empresas já travam pela liderança nacional.
Questionado se ficou preocupado com a aquisição, Lima é categórico: “Eu adorei! Porque o Maratá era o homem que vendia mais barato do mundo”, diz. “Quando a JDE comprou, ela subiu o preço, porque ela não ia ficar vendendo café do jeito que estava. Então o que ela fez foi ajudar o mercado de café”.
Sobre o preço, que acumula fortes altas no varejo, Lima diz que ainda “vai subir um pouquinho”, para “equilibrar a situação de mercado”. A indústria diz que o preço do grão verde subiu ainda mais do que já foi repassado ao consumidor final. “Nós ainda estamos repassando devagar porque o consumidor não aguenta, e [porque nem] os concorrentes nem o trade deixam”, diz.
Pode-se dizer que o grupo 3corações atira para todo lado, e talvez seja essa a chave de a empresa se manter líder do setor há tantos anos. Ela atende desde o cliente mais apegado às tradições, como os que compram o café Santa Clara, no Nordeste, até os jovens veganos, que consomem os leites vegetais e produtos plant-based da A Tal da Castanha –fruto de uma joint-venture do grupo de Lima com a Positive Company.
A empresa tem ampliado sua participação em festivais, como Rock in Rio, The Town, e também em eventos religiosos, como Círio de Nazaré. Está no Baile da Vogue e no São João de Campina Grande. É há anos o café servido no D.O.M., o restaurante mais vistoso do Brasil, e nas milhares de padarias do sertão nordestino.
Essa união entre o apreço pelo tradicional e a busca por novos mercados forma o DNA do grupo. Aos 65 anos, a empresa fundada em 1959 no interior do Rio Grande do Norte agora quer falar com o Brasil inteiro, dos mais velhos a quem está só começando a tomar café, diz Lima. “Eu não posso me dar o luxo de ficar só com cliente antigo”, afirma. “Isso é a pirâmide do nosso negócio.”
RAIO-X | PEDRO LIMA, 60
Empreendedor, tem mais de 35 anos dedicados à construção e condução do grupo 3corações. Filho de João Alves de Lima, que deu início às atividades da empresa ao começar a vender café verde em São Miguel (RN), em 1959.
RAIO-X | GRUPO 3CORAÇÕES
- Ano de fundação: 1959
- Faturamento (2023): R$ 9,7 bilhões
- Principais concorrentes: JDE e Melitta
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