“Aquele ali, o do bigodão: fiscal de tributos?”. “Nada! Alto funcionário do Banco do Brasil, mas aposentado”. “Invalidez, né?”. “No laudo do INSS consta cardiopatia grave, mas olha como tá todo pimpão pra cima da loura bonitona, a do batom rosa”. “Sístoles e diástoles mais do que em dia!”. “Também pudera: ela tem uma onça tatuada e fala olhando no olho”. “Percebo intenções firmes ali”. “Há, portanto, consenso?”. E em uníssono à mesa, após um arrã geral: “AMANTES!”.
Na vida —mais precisamente nos bares e nos restaurantes, nas festas chatas e nas filas que demoram para andar—, existem dois tipos de adulto: o que ainda sabe brincar e transforma qualquer lugar em play… E o que deixa a chatice se instaurar de vez, nunca mais se entretendo com bobagem.
Se você pertence à segunda categoria, recomendo pular daqui para a editoria de política. Só atenção: pule com a seriedade necessária, porque corre o risco de ficar divertido. Os demais, por favor, sigam “robertando” comigo.
Dos vários passatempos possíveis quando se está cercado por seres brincantes da mesma natureza e faixa etária, “robertar” é meu favorito. Batizado assim graças a um primeiro personagem que, olhado de longe, tinha cara de Roberto, consiste numa reinterpretação do método dedutivo de Sherlock Holmes —trocando apenas a cocaína do maior detetive da ficção por algumas rodadas de caipirinha.
Partindo do nada, o objetivo desse “imagem & robertação” é observar anônimos e transformá-los em intrigantes protagonistas de histórias de amor, ódio e vingança, a partir de gestos, trejeitos, fragmentos de papo e marcas de chupão no pescoço. Um jogo deveras perigoso, pois sempre alguém de fora pode chegar num pré-flop, queimando etapas do torneio.
“Peraí, vocês estão robertando minha Tia Teca!”. Sim, já aconteceu uma vez. Havíamos, inclusive, acertado o suficiente: viúva, leonina, ás do pôquer e dona de um poodle toy. Faltou apenas chutar seu surpreendente histórico como “affair” do Roberto Carlos na década de 1960, mas aí também seria demais. Iam dizer que a gente estava inventando.
Encerro a partida, então, com uma dica que vale mais do que barras de ouro: seja nessa ou em outra modalidade bocó à sua escolha, não deixe de bater seu pique-bobeira. Ou o robertado triste, sentado sozinho, um dia será você.
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