O cafezinho do brasileiro ficou 39,60% mais caro em 2024. Para quem toma com leite, piorou: o longa vida encareceu 18,83%. Os dados fazem parte do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2024, divulgado nesta sexta-feira (10) pelo IBGE. A expectativa é de que 2025 os alimentos deem uma trégua, embora não deixem de subir.
O tradicional “pingado” e outros produtos, como as carnes (20,84%) e frutas (12,12%), contribuíram para que o grupo de Alimentos e Bebidas atingisse alta de 7,69% em 12 meses. A categoria foi responsável por 33% da inflação acumulada em 2024. Ou seja, dos 4,83%, um terço foi influenciado por esse grupo, o que demonstra seu peso no orçamento das famílias.
Parte da alta nos alimentos é explicada pelas condições climáticas desfavoráveis no ano passado, que afetaram as safras. Fernando Gonçalves, gerente do setor de cálculo do IPCA, cita que as chuvas no Sul e as queimadas no país prejudicaram os produtos in natura.
No caso do café, não foi só no Brasil. Outros países produtores enfrentaram problemas climáticos, o que atingiu a oferta global e mexeu nos preços.
Entre outros itens considerados básicos nas refeições das famílias brasileiras, o arroz subiu, em média, 8,24% e o óleo de soja, 29,21%. Já quanto às carnes, o acém foi o que registrou maior variação acumulada no ano, de 25,25%. Nem mesmo o frango em pedaços fugiu da lista de maiores altas: teve alta de 10,34%. A picanha subiu 8,74%. (Confira a lista no fim desta matéria).
André Braz, coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia da FGV (FGV/Ibre), explica que outros fatores influenciaram o salto na variação de preços das carnes:
“Essa alta das proteínas tem a ver com o ciclo da pecuária, que sacrifica vacas reprodutoras a cada quatro ou cinco anos, o que gera um choque de oferta e encarece muito as carnes. Além disso, a redução de 6% no desemprego e maior consumo no fim do ano aumentam a demanda, também influenciando no preço”.
Desvalorização do real favorece exportações
O economista acrescenta que no ano passado houve aumento das exportações por causa da desvalorização do real frente ao dólar. Com a moeda nacional valendo cada vez menos, fica mais atrativo exportar e ser pago em dólar, só que isso significa que tem menos produto dentro do país e, com menor quantidade e grande procura, os preços automaticamente sobem.
“Isso desabastece o mercado nacional e faz o preço subir. O câmbio depreciado não é favorável para a inflação baixa em alimentação porque essas commodities são cotadas em bolsas internacionais (em dólar)”.
Para 2025, Braz acredita que haverá safras melhores e, com isso, que a influência da alimentação na inflação não será como no ano passado. “Não subirá tanto em 2025, apesar do câmbio depreciado. O efeito vai ser menor do que em 2024”.
Por outro lado, ele pontua que a inflação deve aparecer mais espalhada, ou seja, que vai incidir em diferentes setores e não focada em apenas um, como no caso de 2024, na alimentação.
“O que é ruim, porque vai atingir a população como um todo. Por isso, o Banco Central vai continuar subindo a taxa Selic para conter esse espalhamento”.
O grupo Saúde e Cuidados Pessoais (6,09%), com o reajuste de planos de saúde, bem como o de Transportes (3,30%), com a alta da gasolina, também pesaram para que a inflação em 2024 furasse o teto da meta, de 3%. Com tolerância de 1,5 ponto para cima (4,5%) ou para baixo (1,5%), o IPCA acabou encerrando o ano em 4,83%.
Veja alguns dos alimentos com maior inflação em 2024:
- Café moído: 39,6%
- Óleo de soja: 29,21%
- Alho: 24,7%
- Costela: 21,33%
- Alcatra: 21,13%
- Carne de porco: 20,06%
- Contrafilé: 20,06%
- Carnes em geral: 20,84%
- Leite longa vida: 18,83%
- Frutas: 12,12%
- Frango em pedaços: 10,34%
- Picanha: 8,74%
- Arroz: 8,24%
- Aves e ovos: 6,51%
- Panificados: 2,45%
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