Nesta quarta-feira (19), o Coritiba rescindiu contrato com o lateral-direito Rafinha depois de o jogador ter pedido dispensa para resolver problemas particulares na Alemanha e ter participado de um jogo festivo promovido pelo Bayern de Munique, um dos times onde atuou na Europa, sem avisar o clube paranaense.
O episódio expõe a fragilidade atual do Coritiba para além do campo, onde coleciona resultados pífios desde 2023, mas também na relação com a torcida e, como se vê, com o próprio elenco de jogadores.
Aos fatos: Rafinha admite que omitiu do Coritiba – e de sua própria assessoria – a informação de que jogaria a partida de exibição na Alemanha. No comunicado que fez em suas redes sociais, ele alega que o motivo da viagem foi outro, devidamente apresentado à diretoria do Coxa, mas que, uma vez estando na Alemanha, aceitou o convite do Bayern de última hora.

Ele não teria imaginado que isso se tornaria um problema porque já havia participado de jogos semelhantes quando defendia outros clubes, como o Olympiakos e o São Paulo.
A “convocação” de Rafinha para a Copa Beckenbauer, no entanto, havia sido publicada pelo Bayern de Munique antes mesmo que o jogador deixasse o Brasil. Foi graças a ela que o Coritiba, inclusive, se viu obrigado a se manifestar sobre a ausência do lateral no amistoso contra o Santos.
A crise já estava criada antes mesmo que Rafinha vestisse a camisa do Bayern e pisasse no gramado sintético em Munique. Mesmo assim, o jogador não viu problemas em jogar. No dia seguinte, pelas redes sociais, pediu desculpas protocolares e assumiu a responsabilidade pela decisão, isentando o Coritiba e sua assessoria de qualquer erro.
O resto é história. Rafinha, que retornou ao clube coxa-branca com status de ídolo do passado, que disse conhecer o Couto Pereira como ninguém, que voltava para lembrar aos jogadores mais jovens o quanto o Coritiba é grande, selou sua saída “amigável” numa reunião fechada. Não jogará a Série B de 2025.

Parte da torcida questiona o clube por ter tomado uma decisão drástica para uma falta que até pode ser considerada grave, mas que não se compara, em tamanho de ofensa, ao que por exemplo fez o atacante Alef Manga no escândalo das apostas. Naquele caso o clube foi muito mais leniente.
Outra parte quer mais é que Rafinha siga seu rumo. Seja pelo pouco caso que fez do Coxa, seja porque, desde que voltou, apresentou desempenho técnico pífio, sem agregar a um time já limitado.
Os mais conspiracionistas falam até que a jogada pode ter sido caso pensado. Que, diante do buraco em que o Coritiba se meteu, Rafinha enxergou no convite uma oportunidade para criar uma situação que inviabilizasse sua permanência.
Prefiro acreditar que o jogador agiu de boa-fé. Acontece que, mesmo tendo Rafinha as melhores intenções, ele não foi capaz de agir como se espera de um ídolo. Se de fato ele precisava estar fora do Brasil na ocasião, bastava ter sido transparente quanto ao convite do Bayern.
E talvez fosse digno recusar o convite, considerando seu compromisso com o Coritiba e a atual situação do time. Certamente os bávaros não pensariam menos de Rafinha se ele tomasse essa atitude.
Decisões de Rafinha terão custo para seu legado no Coritiba
Um jogador não entra para a história de um clube apenas por gols, títulos e glórias. Entra também por demonstrações de fidelidade, comprometimento, respeito. Essa oportunidade Rafinha jogou fora e provavelmente não terá como recuperá-la.
Quanto ao clube, é justo que se questione se tomou a melhor decisão. A impressão que se tem é que os dirigentes parecem pressionados em alguma medida pela combinação de maus resultados e protestos da torcida. Ou podem simplesmente terem achado que houve quebra de hierarquia e isso fere as regras da empresa.
Fato é que o episódio é mais um exemplo da fragilidade interna do Coritiba. Que exibe posturas diferentes ao tratar de casos de indisciplina no elenco – além de Rafinha e Manga, há a memória recente do soco de Diogo Oliveira em Kuscevic, acobertado pelo clube –, falha em estabelecer uma relação de confiança com a torcida e não consegue se apresentar como um local de trabalho estável para jogadores.

O Coritiba apresentou Rafinha no final de 2024 como a grande contratação do ano para a dura Série B da temporada seguinte. Aos 39 anos, não se esperava que o lateral fosse a maior referência técnica do time. Mas que, no mínimo, fosse uma presença viva do tamanho e da importância do Coritiba. Um exemplo de que o clube, por pior que seja a fase atual, tem a dimensão e a força para voltar a um patamar maior.
Rafinha errou em suas decisões e isso terá um custo grande para seu legado. Mas também o Coritiba em não conseguir gerir uma crise com um jogador que ele mesmo classificou como ídolo, como parte importante do propalado projeto, aquele em que só são contratados os que nele acreditam.
O triste episódio do fim de ciclo de Rafinha no Coritiba demonstra que não é apenas dentro de campo que o clube precisa melhorar seu desempenho.
* Ricardo Sabbag é jornalista e torcedor do Coritiba.
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