A Corte Constitucional da Romênia aprovou nesta quinta-feira (28) a recontagem dos votos do primeiro turno presidencial, disputado no fim de semana, em que um candidato de ultradireita pró-Rússia surpreendeu e alcançou o segundo turno.
Calin Georgescu marcou 23% dos votos, enquanto pesquisas anteriores ao pleito o colocavam na casa dos 5%. Dois adversários que acabaram superados, Christian Terhes e Sebastian Popescu, entraram com pedido de recontagem e até anulação do pleito, algo que deve ser apreciado nesta sexta-feira (29).
Popescu afirmou que o rival recebeu ajuda externa. Georgescu, crítico da Otan e da presença de um sistema antimísseis da aliança militar no país, recebeu grande votação de romenos residentes no exterior.
Caso seja confirmado no segundo turno, ele enfrentará em 8 de dezembro Elena Lasconi, candidata de centro e pró-União Europeia.
A agência reguladora de mídia da Romênia, também nesta quinta-feira, pediu a suspensão do TikTok, rede social que catapultou a popularidade de Georgescu nos dias que antecederam a eleição. O argumento é que robôs trabalharam em favor do candidato.
A principal agência de segurança do país acusou a plataforma de ferir as leis eleitorais. O assunto já havia sido encaminhado à Comissão Europeia. Um porta-voz da entidade confirmou o pedido de investigação, que se dará dentro da exigente legislação do bloco. Parlamentares pediram que a empresa seja convocada para se explicar no Parlamento Europeu.
ONGs da Romênia afirmaram que a rede social chinesa foi leniente e permitiu a manipulação eleitoral perpetrada por contas fictícias. Também há suspeita de que influenciadores não rotularam seus conteúdos como publicidade paga. A DSA (sigla para Lei de Serviços Digitais), em vigor no continente, exige que as plataformas moderem todo tipo de publicação, inclusive campanhas políticas.
O TikTok negou qualquer irregularidade em sua atuação no país.
Para Georgescu, as instituições estatais estão tentando negar a escolha do povo no primeiro turno da eleição.
Não é a primeira vez, contudo, que a Corte Constitucional romena interfere no processo eleitoral. No mês passado, outro candidato de ultradireita foi banido da cédula. A autoridade eleitoral afirmou que levará dias para realizar a recontagem. O processo ainda colidirá com a eleição parlamentar, que ocorre neste fim de semana —a Romênia funciona sob um semipresidencialismo, com presidente e primeiro-ministro dividindo as funções executivas.
Analistas veem atuação exacerbada das instituições, mas não descartam um novo ataque híbrido da Rússia em eleições no Leste Europeu neste ano. Nas últimas semanas, Moscou teve que negar interferência em pleitos disputados na Moldova e na Geórgia.
A vitória do partido pró-Rússia, no segundo caso, com fartas evidências de manipulação e fraude, provocou uma séria crise política que paralisa o país. A presidente Salome Zurabishvili, que defende a adesão do país ao bloco europeu, também foi à Justiça pedir a anulação dos resultados, em um movimento mais simbólico do que prático. A corte georgiana é alinhada à sigla que comanda o Parlamento, alvo da ação.
O recrudescimento do conflito no território ucraniano, com retórica bem mais agressiva de Vladimir Putin contra EUA e Europa, tem aumentado o temor de que os ataques híbridos escapem dos ambientes eleitorais Autoridades de vários países alertam para eventuais ciberataques, atos de sabotagem e até atentados.
A queda de um avião da DHL na Lituânia, nesta semana, está sob investigação, mas foi precedida de um aviso do serviço de inteligência alemão sobre o risco de dispositivos incendiários postados anonimamente pelos correios. Autoridades do país descartaram sabotagem.
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