Dona de uma rede de instalações militares que inclui uma grande base aérea e um porto na Síria, a Rússia condenou nesta quarta-feira (11) os ataques de Israel ao país árabe na esteira da derrubada da ditadura de Bashar al-Assad.
Aliado de Vladimir Putin, que o salvou com uma intervenção militar em 2015, o ditador sírio fugiu no domingo (8) para Moscou, após rebeldes liderados pelos radicais islâmicos da HTS (Organização para a Libertação do Levante) chegarem às portas de Damasco.
Nos dois dias seguintes à surpreendente queda, Israel tomou a iniciativa. Bombardeou ao menos 130 alvos com 350 ataques aéreos, visando destruir a infraestrutura militar do Exército de Assad. Depósitos de armas químicas e de mísseis balísticos foram atingidos. Nesta quarta ainda não há relatos de ataques.
O objetivo declarado é o de impedir que os rebeldes, que incluem extremistas mas não só em suas fileiras, tomem posse de armas que possam ser usadas contra o Estado judeu, em particular o arsenal químico ilegal de Assad, empregado pelo ditador na guerra civil iniciada em 2011.
Na segunda (10), dia mais intenso, bombardeios da Marinha israelense atingiram a frota naval síria, concentrada em Latakia, porto que fica a menos de 30 km de Hmeimim, a principal base aérea de Putin no Oriente Médio. Mais 60 km ao sul fica o porto de Tartus, também operado pelos russos.
Além disso, Israel aproveitou a anomia no vizinho para ocupar a zona desmilitarizada estabelecida em 1974, na esteira da Guerra do Yom Kippur vencida por Tel Aviv contra os vizinhos árabes. Ela separa a Síria das Colinas de Golã, anexadas pelo Estado judeu na guerra de 1967 e, por tratado, é patrulhada pela ONU.
Houve incursões classificadas de pontuais pelos militares israelenses, que negaram o envio de tanques. Golã fica a cerca de 60 km de Damasco.
Para a Rússia, os ataques são inaceitáveis e perigosos, e a ocupação da região, uma violação da lei internacional. A porta-voz da chancelaria, Maria Zakharova, disse que as ações “não sevem para estabilizar a situação”.
O Kremlin, um dos derrotados na crise ao lado do Irã, preocupa-se principalmente com o futuro de seus ativos militares na Síria. Eles servem para a projeção de força, ainda que limitada, no leste do Mediterrâneo e de ponto logístico entre Rússia e suas operações na África, como na Líbia.
Os russos mantinham uma cooperação estreita com Israel na Síria, trocando informações sobre ataques pontuais, mas a guerra em Gaza esgarçou o relacionamento.
O maior perdedor —após Assad, é claro— é o Irã. Nesta quarta, o líder supremo da teocracia falou pela primeira vez sobre a queda do aliado e, previsivelmente, colocou-a na conta dos EUA e de Israel.
Diplomaticamente, já que há uma aproximação em curso entre Teerã e Ancara, o aiatolá Ali Khamenei evitou nomear a Turquia, maior vencedora por ter apoiado a HTS e outros grupos. Ele disse que “um dos vizinhos da Síria teve um papel” no desenrolar dos eventos.
Para Tel Aviv, o desmantelamento da ditadura é uma das maiores vitórias geopolíticas decorrentes de sua guerra regional, iniciada quando o Hamas lançou o mega-ataque terrorista de 7 de outubro de 2023.
De lá para cá, ao incapacitar o Hamas e dizimar a liderança do aliado regional Hezbollah no Líbano, Israel enfraqueceu a posição dos prepostos de Teerã na região. Em conflito direto com a teocracia, impediu que ela ou os libaneses viessem em socorro de Assad.
Putin, por sua vez, estava focado na Ucrânia, que invadiu em 2022, sem musculatura suficiente na Síria. O Kremlin usou este viés para tentar minimizar a derrota política do russo nesta quarta.
Para os israelenses e seus fiadores americanos, por extensão, a debacle síria rompe o elo entre Teerã e seus aliados em torno do Estado judeu, que eram municiados por meio do país de Assad. Khamenei também buscou disfarçar o golpe, dizendo que “quanto mais pressão você exerce mais forte fica a resistência”.
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