Quando os preços começaram a disparar na capital lisboeta, muita gente correu para o outro lado da ponte. Também pudera, imagine um lugar, na margem sul do rio Tejo, que consegue conciliar história, natureza e belas praias encravadas numa península de mar turquesa.
Ao contrário de Sesimbra, aqui é coisa grande. Cidade industrial, dona de um dos maiores portos de Portugal. Estamos falando de Setúbal, terra do adocicado vinho moscatel e do queijo de Azeitão.
Pelo caminho, uma espécie de flora desconhecida pela maioria dos brasileiros nos faz companhia: os sobreiros, árvores aparentadas com o carvalho e que correm risco de extinção, a partir das quais se extrai a cortiça, tão usada em rolhas. A cidade também é uma das portas de entrada do Parque Natural da Arrábida.
A palavra Arrábida, como ela própria indica, tem origem árabe: significa “o que vincula, o que ocupa”. O lugar abriga mosteiros-fortalezas onde os monges faziam retiro espiritual e defendiam as fronteiras marítimas da então Al-Andaluz, como era chamada a península ibérica de quase 800 anos de domínio muçulmano.
O parque dialoga com vilarejos, assim como se conecta com a cidade, num país tão pequenino como Portugal —semelhante ao tamanho do estado de Pernambuco.
Motivo de orgulho nacional, o Mercado do Livramento de Setúbal é parte dessa experiência tão marcante entre povo e mar, bicho e natureza.
Construído para substituir um outro mercado, demolido em 1876, este aqui inaugurou em 1930. No fim da primeira década dos anos 2000, o espaço foi remodelado. Chamam a atenção os painéis de azulejos no interior, retratando as atividades econômicas da cidade, criação do pintor português Pedro Pinto, datados de 1929.
Preste atenção também na entrada do lado norte do mercado, onde, em ambos os lados, dois outros painéis, pintados em 1944 por Rosa Rodrigues, retratam imagens de Setúbal.
O Mercado do Livramento é reconhecido como um dos melhores mercados de peixe do mundo. Não só. A própria imprensa portuguesa já o classificou como o mais rico, diversificado, divertido e saboroso espaço do país.
Atualmente, calcula-se que trabalhem ali 70 comerciantes de peixe, entre cerca de 350 vendedores no total, numa área de 7.000 metros quadrados.
Outro título ostentado por Setúbal é o de ter a praia eleita a mais bonita da Europa. De águas turquesas, a praia de Galapinhos está inserida no Parque Natural da Arrábida.
Outra encantadora é a do Portinho da Arrábida, de areias brancas e finas, com variados tons de azul das águas límpidas que acabam contrastando com a vegetação verdejante da serra. A baía é muito procurada para a prática de mergulho, pois suas águas também fazem parte da reserva natural.
Habitada pelos fenícios e por romanos, Setúbal teve o seu desenvolvimento desde sempre ligado às atividades marítimas, proporcionadas, sobretudo, por sua localização na foz do rio Sado.
Os vinhos produzidos na região são outro orgulho nacional. O crítico americano Robert Parker, da revista The Wine Advocate, escreveu que os moscatéis de Setúbal “são os melhores vinhos que ainda desconhecemos”.
É também de lá que sai um dos vinhos mais populares aqui no Brasil, o Periquita, conhecido como o primeiro vinho tinto engarrafado em Portugal, em 1850. A bebida, favorita do personagem Mandrake, do escritor Rubem Fonseca (1925-2020), é produzida na vinícola José Maria da Fonseca, cuja história da família tem quase dois séculos de existência, ao longo de sete gerações.
As visitas oferecem um passeio pela Casa Museu, no Azeitão, península de Setúbal. Construído no século 19, o imóvel tem uma bela fachada e um aprazível jardim. O tour inclui as antigas adegas onde repousam os mais antigos moscatéis de Setúbal, alguns deles com mais de cem anos.
Deixe um comentário