Lar Turismo Suflê de ‘Ainda Estou Aqui’ não é um suflê – 08/01/2025 – Cozinha Bruta
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Suflê de ‘Ainda Estou Aqui’ não é um suflê – 08/01/2025 – Cozinha Bruta


Uma entidade gastronômica perpassa o enredo de “Ainda Estou Aqui“: o suflê de Eunice, viúva de Rubens Paiva, interpretada no filme pelas Fernandas Torres e Montenegro.

Suflê seria o almoço servido no dia em que agentes da repressão sequestraram o ex-deputado. Na cena final, quando Eunice já sofria de demência senil, sua família fracassou ao reproduzir a receita.

Ocorre que, na vida real, o suflê não era um suflê. Era uma musse de salsão —ou aipo, nome que o vegetal recebe no Rio.

“Naquela época não se fazia tanta distinção nominal”, diz Eliana Paiva —a filha que, aos 15 anos, foi levada com Eunice para um centro de detenção e tortura do Exército.

Pode ser que a família Paiva chamasse de a musse de suflê. Ou pode ser que a produção do filme, por licença poética, tenha trocado o cardápio. O que importa é que as filhas guardaram a receita manuscrita por Eunice.

Eliana conta que a mãe cozinhava muito bem. “Por meu pai ter sido deputado e depois disso ainda figura pública, ela fazia muitos almoços e jantares em casa, já em uma época que tínhamos cozinheira. Mas era a Eunice a decidir sobre os menus.”

Ao examinar a receita em si, você perceberá que ela é um tanto peculiar. Segundo Eliana, a família apelidou a musse de Kolynos — alusão à marca de pasta de dente mais famosa naqueles tempos— devido ao sabor marcante do salsão cru. Picles, ricota, maionese e gelatina de limão completam a lista de ingredientes.

Se a combinação lhe causa espanto, é porque você não viveu a loucura dos anos da Guerra Fria.

Da década de 1960 à de 80, a indústria alimentícia operou uma lavagem cerebral em massa. Convenceu populações inteiras de que misturas químicas e produtos enlatados eram o futuro, o caminho do progresso da humanidade.

Havia um sentimento de que as fábricas produziam alimentos melhores do que os naturais. Tem a ver com a inserção das mulheres no mercado de trabalho, sem poder abrir mão das tarefas domésticas: faltava-lhes tempo para cozinhar, e tais atalhos pareceram convenientes demais.

Assim, receitas de gerações foram incorporando elementos como gelatina, salsichas, presuntada, sopa em pó ou em lata, ketchup, leite condensado.

A receita de Eunice Paiva é totalmente datada e, exatamente por isso, fascinante. Assim como o filme de Walter Salles, é um documento de uma época passada que sempre volta para nos assombrar.

MUSSE DE SALSÃO

Rendimento: 8 porções

Dificuldade: fácil

Tempo de preparo: 10 minutos (mais o tempo de geladeira)

Ingredientes

  • 2 caixas de gelatina sabor limão (ou 2 envelopes de gelatina sem sabor mais o suco de 1 limão)
  • 1 salsão inteiro, picado
  • 500 g de ricota
  • 1 vidro de maionese
  • 1 colher (sopa) de picles de pepino

Preparo

  • Dissolva a gelatina em 2 xícaras de água quente. Reserve.
  • Bata os ingredientes restantes no liquidificador. Transfira para uma travessa e misture com a gelatina diluída.
  • Deixe na geladeira até a gelatina endurecer, pelo menos 2 horas. Desenforme e sirva com salada de batatas, decorada com folhas de alface e fatias de presunto.


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