Houve embate entre as autoridades que cumpririam ordem de prisão e equipe de segurança da presidência. Determinação para prender Yoon, válida até segunda-feira, foi definida após ele se negar a depor sobre acusação de insurreição. Agentes de segurança fazem barreira e impedem tentativa de prisão de presidente afastado da Coreia do Sul
Em meio a tumulto e após mais de cinco horas de impasse, autoridades da Coreia do Sul suspenderam nesta sexta-feira (3) temporariamente a operação para cumprir o mandado de prisão expedido contra o presidente destituído Yoon Suk Yeol.
A tentativa de prisão foi frustrada por uma barreira de soldados e guardas presidenciais que impediram que policiais e promotores executores da ordem judicial chegassem até Yoon, que continua morando no palácio oficial da presidência, em Seul. Uma multidão de apoiadores que se aglomeravam em frente à residência também dificultou a operação.
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As autoridades que cumpririam a ordem de prisão chegaram por volta das 8h, no horário local, em frente à casa. No entanto, levaram cerca de uma hora para conseguir ultrapassar a barreira humana de manifestantes em frente ao local.
Após conseguir ultrapassar os manifestantes, foi preciso enfrentar a segurança presidencial. Cerca de 200 agentes do serviço de segurança do presidente destituído e soldados de uma unidade militar localizada dentro da propriedade oficial da presidência bloquearam a ação das autoridades, de acordo com Escritório de Investigação de Corrupção de Altos Funcionários sul-coreano.
Houve embate entre os agentes de segurança da presidência e os responsáveis pelo cumprimento do mandado de prisão, mas não foram sacadas armas. O escritório de investigação informou ter suspendido a tentativa de prisão para garantir a segurança no local. Uma investigação foi aberta para apurar a atuação dos chefes da segurança presidencial (leia mais abaixo).
“Determinamos que seria praticamente impossível executar o mandado de detenção devido ao confronto contínuo [com as forças de segurança presidencial] e suspendemos a execução por preocupação com a segurança do pessoal no local, causada pela resistência”, disse um representante do Escritório de Investigação de Corrupção (CIO) sul-coreano em nota à imprensa.
A ordem de prisão tem validade até segunda-feira (6) e permite que a polícia mantenha Yoon Suk Yeol preso por, no máximo, 48 horas para interrogatórios. O escritório anticorrpução sul-coreano deve tentar prender o presidente novamente durante o final de semana, segundo a agência de notícias sul-coreana Yonhap. Yoon pode ser o primeiro presidente em exercício a ser preso na história da Coreia do Sul.
Autoridades policiais recuam de tentativa de prisão do presidente sul-coreano destituído
Imagem: Reuters
Investigado por lei marcial e alvo de impeachment
Yoon Suk Yeol é alvo de um mandado de prisão expedido no dia 31 de dezembro, após ele se recusar a cumprir diversas convocações para prestar depoimentos à Justiça.
Ele está sendo investigado criminalmente por insurreição após decretar lei marcial, que restringiu direitos civis no início de dezembro. A medida levou Yoon a sofrer um impeachment aprovado por parlamentares. (Leia mais sobre a crise na Coreia do Sul abaixo)
Mesmo afastado do cargo, formalmente Yoon Suk Yeol ainda é considerado presidente. A destituição definitiva do posto de presidente está sendo julgada pelo Tribunal Constitucional sul-coreano, que tem até 6 meses para decidir se acata a decisão do Parlamento. O julgamento está marcado para começar em 14 de janeiro.
Coreia do Sul: polícia suspende operação para prender presidente afastado
Equipe jurídica de Yoon diz que prisão é ilegal
Após a desistência das forças anticorrupção nesta sexta, a equipe jurídica de Yoon afirmou que o mandado de prisão é ilegal e que o CIO não tem autoridade para investigar insurreição.
O presidente afastado havia dito na quinta (2) que vai “lutar até o final para proteger o país”, repetindo retórica utilizada em outros momentos, como quando declarou a lei marcial e também antes de sofrer o impeachment.
Chefes da segurança presidencial investigados
Dada a resistência imposta aos policiais, a unidade conjunta de investigação da Coreia do Sul resolveu abrir investigação contra o chefe e o vice-chefe do serviço de segurança de Yoon por acusações de obstrução da Justiça, intimando-os a depor no sábado (4), segundo a Yonhap.
Esta não foi a primeira vez que a segurança presidencial de Yoon resistiu a ordens da Justiça sul-coreana. Desde o impeachment, em meados de dezembro, os seguranças também impediram cumprimento mandados de busca em endereços do presidente afastado.
Agora, o CIO pretende pedir ao presidente interino, Choi Sang-mok, para exigir que as forças presidenciais colaborem com a execução do mandado de prisão. Choi Sang-mok assumiu o cargo há 7 dias, após a deposição-relâmpago do presidente interino anterior, Han Duck-soo.
Protesto em frente à residência presidencial
Manifestantes pró-Yoon protestam perto da residência presidencial em meio a tentativa fracassada de cumprimento de mandado de prisão contra o presidente destituído em 3 de janeiro de 2025.
AP Photo/Lee Jin-man
Mais de 1.000 manifestantes pró-Yoon se reuniram perto da residência na manhã de sexta-feira. Cercados por cerca de 2.700 policiais enviados para manter a ordem, eles entoavam gritos que diziam: “Mandado ilegal. Totalmente inválido” e “Prendam o CIO.”
Quando a notícia da retirada do CIO foi divulgada, os manifestantes, cujo número havia crescido para 11 mil, segundo estimativa da polícia, explodiram em comemoração e gritaram “Vencemos”. Eles agitavam as bandeiras da Coreia do Sul e dos Estados Unidos e entoavam o nome do presidente.
Centenas de manifestantes contrários a Yoon, liderados pela Confederação Coreana de Sindicatos, também realizavam um protesto perto da residência presidencial para exigir a prisão dele.
Início de julgamento de impeachment
O Tribunal Constitucional da Coreia do Sul anunciou nesta sexta (3) que realizará em 14 de janeiro a primeira sessão do julgamento para decidir se irá destituir definitivamente o presidente Yoon Suk Yeol.
Yoon é obrigado a comparecer à sessão, chamada de primeiros argumentos.
A corte informou também que planejou uma segunda sessão para 16 de janeiro caso Yoon se recuse a comparecer aos primeiros argumentos.
Segundo a Yonhap, a equipe jurídica de Yoon questionou a necessidade do julgamento pela corte, alegando que o presidente afastado deveria ter imunidade presidencial e que o decreto de lei marcial, por conta de durar apenas poucas horas, “não restringiu os direitos básicos do povo”.
O Tribunal Constitucional sul-coreano tem oito dos nove assentos preenhidos e precisa de seis votos favoráveis para aprovar o impeachment.
Relembre a crise política
Presidente da Coreia do Sul decreta lei marcial; entenda o termo
Yoon Suk Yeol surpreendeu o país no início de dezembro ao declarar, em cadeia nacional, uma lei marcial, que substituiria a legislação padrão por leis militares e acarretaria a restrição de direitos civis na Coreia do Sul.
Na ocasião, ele disse que o decreto visava “proteger a livre República da Coreia da ameaça das forças comunistas norte-coreanas”.
O parlamento sul-coreano reagiu rapidamente ao decreto, revogando de maneira unânime a medida e instaurando um processo de impeachment cuja conclusão ocorreu no dia 14 de dezembro.
Yoon teve um mandado de prisão emitido contra ele por um tribunal sul-coreano nos últimos dias de 2024 após pedido Gabinete de Investigação da Corrupção da Coreia do Sul, que investiga o decreto da lei marcial.
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