Em Roma, centenas de turistas se acotovelam para fotografar a Fontana di Trevi. Na Espanha, ativistas bloqueiam a passagem dos ônibus diante da Sagrada Família. Em Paris, fila de dobrar quarteirão para entrar no Louvre.
As viagens a destinos tradicionais, que foram sinônimo de luxo não faz muito tempo, estão cada vez mais distantes dos planos de um grupo bem restrito de turistas —os “triple A”, como são rotulados os viajantes de altíssima renda.
Trata-se daquele menos de 1% da população, que não economiza para encontrar atrações quase vazias ou, se possível, fechadas para seu uso exclusivo. Gente que não topa entrar em fila, seja no aeroporto ou no museu, exige paparicos constantes e busca experiências que poucas pessoas tiveram a chance de vivenciar.
Segundo o anuário de viagens de luxo ILTM & Panrotas 24/25, os turistas mais ricos representam um quinto dos viajantes, mas é dos bolsos deles que sai metade dos gastos totais em viagens.
Para atendê-los, não serve qualquer agência. São tantas as demandas, e tão específicas, que um novo segmento dentro do mercado luxo emergiu.
Sócio da agência Perfectrip e um dos organizadores da feira de turismo de luxo The Collection, cuja terceira edição aconteceu em agosto, em São Paulo, Luciano Moura é especialista nesse tipo de viajante. Sua empresa tem o selo Virtuoso, rede global de operadores reconhecidos pela excelência no atendimento.
Os números da agência demonstram o vigor do segmento. “Crescemos 45% desde a pandemia. Só em 2024, o crescimento foi de 33% [comparado a 2023]”, afirma o empresário.
Segundo Moura, o turista brasileiro da classe AAA tem suas particularidades. “O francês, por exemplo, busca isolamento total. O brasileiro gosta de exclusividade, mas escolhe roteiros onde haja alguma diversão.”
Passar perrengue para ter experiências raiz também não é com ele. Moura evita imprevistos antecipando tudo o que pode acontecer na viagem. Ainda assim, há surpresas. “Já acionei helicóptero, de madrugada, para tirar um cliente da selva”, revela.
Para os mais aventureiros, a Perfectrip oferece a viagem às cegas —o cliente chega ao aeroporto sem saber para onde vai e, mesmo depois de embarcar, recebe o roteiro dia a dia. “A mala é preparada por um personal stylist nosso, para que ele leve as roupas certas para cada lugar”, diz o agente, que cobra R$ 27 mil para cuidar de toda a logística, fora o custo da viagem em si.
Reconhecida pela atuação no mercado de luxo, a agência Teresa Perez ganhou uma divisão ainda mais luxuosa há cerca de um ano —a Private, cujos clientes assíduos viajam de duas a três vezes por ano, geralmente para o exterior, e gastam mais de R$ 1 milhão anualmente.
Segundo Mariana Ninno, gerente da Private, saber lidar com mudanças de última hora é um imperativo para seu time de atendimento. “Certa vez, uma cliente não gostou do hotel e pediu um iate de 45,7 metros para o mesmo dia. Temos uma equipe enorme e dedicada 24 horas, para resolver tudo o tempo todo.”
A rede internacional Preferred Hotels & Resorts, com 600 estabelecimentos de luxo mundo afora, também tem uma divisão AAA —a Legend Collection. Além de hotéis de cinema, como o Andara Resort & Villas, na Tailândia, e o Kasbah Tamadot, no Marrocos, a organização oferece experiências para poucos.
Em setembro, foi possível se hospedar na suíte presidencial do Armani Hotel, em Milão, com direito a acesso à primeira fila do desfile da grife, durante a Semana de Moda, e uma prova de roupa privativa no ateliê Armani —o pacote para casal saiu a R$ 623 mil, sem as passagens aéreas.
No segmento dos cruzeiros marítimos, a Norwegian Cruise Line, a NCL, pôs sob o guarda-chuva da Regent Seven Seas Cruises os roteiros mais luxuosos do grupo. Navios menores, que acomodam de 490 a 800 passageiros, têm apenas suítes externas, todas com varanda, closet e banheiro de mármore.
Estela Farina, diretora geral da NCL, diz que as áreas de convivência jamais ficam lotadas, como é comum nos navios de cruzeiro. “Você pode escolher onde sentar. Temos uma média de 1,3 passageiro por tripulante. A sensação é de ter mais gente para servir do que para ser servida.”
Não há como turistar no padrão “triple A” sem um agente especializado na retaguarda. “O viajante comum não vai ter acesso aos melhores restaurantes, aos beach clubs mais exclusivos, aos barcos para ir às praias certas”, avisa Vinícius Nunes, fundador da agência Fuso. A ilha italiana da Sardenha e o balneário turco Bodrum, segundo ele, estão em alta entre os muito ricos.
Veja, a seguir, alguns dos roteiros e experiências desenhados para turistas da classe AAA –e quanto eles podem custar.
Cruzeiro de luxo pelo rio Amazonas
A jornada de 22 noites no navio Seven Seas Grandeur, com capacidade para 744 hóspedes e 548 tripulantes, zarpa da Cidade do Panamá no dia 9 de março de 2027 e cruza o Caribe, até chegar ao rio brasileiro, onde passa por Santarém, Manaus, Parintins e Alter do Chão. Até 40 passeios em terra estão incluídos até o desembarque, no Panamá.
Quanto: A partir de R$ 83,1 mil por pessoa (sem aéreo)
Quem leva: pt.rssc.com
Degustação de caviar na Patagônia
A visita à Kenoz, a produtora de caviar mais austral do mundo, permite ao turista conhecer todo o processo, da criação dos esturjões à extração e cura das ovas. A degustação acontece no restaurante da marca, o Casa de Amalia, com menu de seis tempos assinado pelo chef Rudi Scholdis.
Quanto: R$ 43 mil para duas pessoas, com traslado de helicóptero a partir de Santiago (sem hospedagem e aéreo)
Quem leva: teresaperez.com.br
Espiritualidade no Butão
A viagem começa em Thimphu, capital do país asiático, com check-in no resort Amankora, meditação guiada por um monge e jantar cerimonial. Ao longo de sete dias, são programadas visitas a templos budistas, caminhadas meditativas, piqueniques e rituais de purificação.
Quanto: De R$ 132,9 mil a R$ 212,7 mil por pessoa (sem aéreo)
Quem leva: perfectrip.com.br
Expedição à Antártida
O superiate Legend, equipado com submersíveis, heliponto, jacuzzi, academia, spa, piano-bar e cinema, leva os passageiros por uma semana de navegação, palestras científicas, observação de pinguins e icebergs, passeios submarinos e voos sobre as geleiras.
Quanto: De R$ 3,7 milhões a R$ 5,3 milhões por pessoa (sem aéreo)
Quem leva: perfectrip.com.br
Fórmula 1 em Abu Dhabi
De 4 a 8 de dezembro de 2025, a hospedagem de quatro noites no Conrad Abu Dhabi Etihad Towers inclui programação de três dias ao redor do Grande Prêmio de Fórmula 1, com acesso à Fanzone e à área dos boxes, entradas para os concertos musicais após a corrida, open bar e experiência gastronômica premium.
Quanto: A partir de R$ 19,1 mil por pessoa (sem aéreo)
Quem leva: teresaperez.com.br
Imersão na cerâmica japonesa
Hospedados no luxuoso resort Amanemu, em Shima, no Japão, os viajantes participam de workshop com ceramistas imperiais, visitam ateliês e recebem aula particular de cerâmica. Sessões no spa e jantar privativo em Kyoto, com gueixas fazem parte da programação de sete dias.
Quanto: De R$ 93 mil a R$ 167,5 mil por pessoa (sem aéreo)
Quem leva: perfectrip.com.br
Luxo tailandês
Grupos de até 14 pessoas, que se hospedam por três noites na Chandara Estate, propriedade privada do Andara Resort & Villas, na Tailândia, têm direito a passeio em iate privativo à baía de Phang Nga e à lha Phing Kan, conhecida como James Bond Island, além de visita a um santuário de elefantes e churrasco tailandês à beira da piscina, com música ao vivo.
Quanto: A partir de R$ 372 mil para o grupo (sem aéreo)
Reservas: livelikealegend.preferredhotels.com
Safári em camping de luxo
Abrigado pelas elegantes tendas de lona do Sabora Tented Camp, na Tanzânia, hóspedes aventureiros passam uma semana entre jantares na savana, passeios para observação de grandes felinos, massagens ao pôr do sol, mergulhos e uma visita de hidroavião às ilhas Quirimbas, em Moçambique.
Quanto: De R$ 79,7 mil a R$ 160 mil por pessoa (sem aéreo)
Quem leva: perfectrip.com.br
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