Mesmo quem não sabe nada sobre k-pop se lembra da Copa do Mundo que sagrou o Brasil como pentacampeão mundial de futebol, em 2002. Sediada na Coreia do Sul e no Japão, em uma época em que a internet engatinhava e os smartphones eram coisa de ficção científica, o torneio foi a grande oportunidade para os brasileiros darem uma espiadinha em como era a vida do outro lado do globo.
Enquanto o mundo acordava cedo ou até mesmo de madrugada para acompanhar os jogos, fora dos estádios começava a ganhar corpo um fenômeno que, mais de 20 anos depois, já domina o mundo: a Hallyu, como é chamada a onda cultural que invadiu o Ocidente com músicas, filmes, novelas e literatura produzidos na Coreia do Sul.
Com esse soft power até então inimaginável para um país que havia meio século tinha sido devastado pela guerra e sofrido com a pobreza extrema, a Coreia do Sul se tornou um cobiçado destino turístico que mescla uma cultura milenar com o espírito do tempo da nova geração. Um lugar onde grandes templos de pedra e madeira dividem a paisagem com gigantescos arranha-céus de vidro, e onde o senso de coletividade de certa forma ameniza o caos tradicional de uma metrópole global.
Esses contrastes são evidentes logo na chegada à capital. O trajeto de quase 70 quilômetros do aeroporto internacional, na vizinha Incheon, até o centro da cidade passa pela imponente ponte Yeongjong, um verdadeiro colosso de dois andares e quatro quilômetros de extensão, e pelas grandes vias marginais do rio Han.
Mas tão logo se entra propriamente na cidade, a arquitetura coreana tradicional começa a dar as caras, seja nos grandes templos ou nos pequenos pórticos que dão charme ao comércio local.
Ainda que os prédios espelhados chamem a atenção, é quase impossível não começar a explorar a capital sul-coreana pelos palácios, que saltam aos olhos. Existem ali cinco deles, todos construídos entre os séculos 14 e 15 pela dinastia Joseon, a última e mais longeva do país, que governou por cerca de 500 anos, até 1897. Desses cinco palácios, o principal é o Gyeongbokgung, mais central, que se impõe no final de uma das principais avenidas de Seul e abriga uma tradicional cerimônia de troca de guarda.
Mas talvez o mais legal de visitar seja o Changdeokgung, que fica a 1,5 km de distância do primeiro. Entre os dois, fica Bukchon, uma aldeia tradicional que dá um gostinho de como devia ser a vida na era Joseon, mas que de tanto receber turistas, agora até aplica multas a quem passa por lá fora dos horários permitidos.
Changdeokgung é, na verdade, um complexo de palácios dentro de um grande parque que, por 270 anos, foi a residência oficial da família real coreana —e desde 1997 é considerado Patrimônio Mundial pela Unesco.
Não saia de lá sem antes passear pelos jardins secretos do palácio, outrora o quintal da família real. Com belíssimas construções tradicionais em meio à natureza que serviam como biblioteca, sala de estudos, de contemplação e até quarto de visitas, eles são a parte mais bonita do lugar e, sem dúvida, valem o ingresso extra (que sai por 5.000 wons, ou R$ 20, além dos 3.000, ou R$ 13, para entrar no palácio).
Ainda no clima histórico, reserve pelo menos metade do dia para visitar o Museu Nacional da Coreia, no distrito de Yongsan —que também reúne as melhores lojas de eletrônicos da cidade. O museu é gigantesco e impossível de conhecer em uma única visita.
Portanto, vale se guiar pelo seu gosto: há seções dedicadas à pré-história, à caligrafia e pintura e a artesanato e esculturas —algumas de budas feitas de diferentes materiais e que datam do século 7º, além de lindas ilustrações da flora coreana e de animais como o tigre, que afastava os maus espíritos, segundo as crenças locais.
Resolvida essa parte, é hora de viver a Coreia do Sul moderna.
Um bom ponto de partida para conhecer os aspectos mais modernos do país é o bairro de Dongdaemun, onde fica a Design Plaza, um complexo cultural com ares futuristas assinado pela arquiteta árabe e vencedora do prêmio Pritzker Zaha Hadid.
É um lugar que guarda boas surpresas para quem reserva um tempo para explorar o seu interior. Além das exposições temporárias, há ali um museu de história, um playground sensorial para crianças e uma charmosa biblioteca de revistas com publicações do mundo inteiro.
A Design Plaza fica a pouco menos de três quilômetros do centro da cidade. Parece muito, mas quem opta por fazer essa caminhada por dentro do Cheonggyecheon mal percebe a distância. Esse nome, meio impronunciável em português, se refere a um riacho que corta a cidade e que, nos anos 1970, foi coberto por uma via expressa que pretendia resolver o trânsito da cidade, mas acabou por piorá-lo.
Por isso, no começo dos anos 2000, o viaduto foi demolido, dando lugar a um agradável parque linear margeado por arranha-céus que mudou a cara da região por completo. O local se tornou não só num ponto turístico, mas um local de convivência e de prática esportiva para os locais. Um exemplo de urbanismo que seria bem-vindo em muitas cidades brasileiras.
Outro bom exemplo sul-coreano de urbanismo é rua Hongdae, no bairro universitário homônimo, região oeste da capital. Com mais de um quilômetro de extensão e rodeada de centenas de lojas de roupa, restaurantes e baladas, a rua foi transformada em um grande calçadão com arquibancadas, onde grupos de k-pop se apresentam para multidões. Para os fãs do gênero, é uma festa, e mesmo para quem não é fã, não deixa de ser uma experiência divertida.
É uma área muito mais divertida que Gangnam, por sinal. Do outro lado da cidade e do rio Han, o bairro que ficou famoso por ser mencionado na famosa música “Gangnam Style”, de Psy, é como a região da Faria Lima, em São Paulo: com arranha-céus intermináveis e lojas de grife a cada esquina.
É lá que ficam também uma escultura em homenagem ao hit, que o reproduz 24 horas por dia para embalar as dancinhas dos turistas, e a K-Star road, que abriga os escritórios das gravadoras do gênero k-pop —mas são fechados para visitas, o que faz com que os fãs, ao menos por ali, tenham de se contentar em tirar fotos com estátuas de ursinhos que simbolizam os grupos do gênero.
Mas se o k-pop não for mesmo a sua praia, a dica é curtir em Itaewon, o bairro mais diverso, boêmio e cosmopolita de Seul. É lá que se encontram bares e baladas mais descolados, restaurantes de diferentes nacionalidades (ótimo para variar um pouco o cardápio coreano), um belíssimo jardim botânico e até uma charmosa rua de antiquários indispensável num bom roteiro de compras.
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