Uma retrospectiva do mundo do vinho em 2024 – 06/12/2024 – Isabelle Moreira Lima

Este foi um ano animado para quem gosta de vinho, com o noticiário constantemente recheado de notícias. As melhores delas aconteceram na taça, com rótulos cada vez mais diversos e interessantes. Houve também notícias terríveis, como as das chuvas no Rio Grande do Sul, que deixaram vítimas e destruíram vinhedos de muitos produtores; os efeitos da mudança climática em diferentes partes do mundo e a promessa de que, por aqui, o preço das bebidas, que já é ruim com câmbio desfavorável e margens altas, fique ainda pior com novas taxações (já ouviu falar no infâme “imposto do pecado”?).

Focando na parte boa, dá para dizer que 2024 foi um ano marcado pelo vinho brasileiro. O mapa vitivinícola do país segue em expansão, com novos focos no estado de São Paulo. Novos produtores surgiram no mercado, outros se consolidaram. Prova dessa abundância é o menu de comemoração de 25 anos do D.O.M., o primeiro restaurante a entrar em listas de melhores do mundo como a 50 Best, sendo harmonizado com quase somente vinhos brasileiros de pequenos produtores de diversas regiões do país. Foi lá que provei um dos meus favoritos do ano, o Chardonnay gaúcho Vinhas do Tempo 2022, supercomplexo e exuberante, com fermentação e estágio em barrica de carvalho e uma nota divina de caju.

Vale dizer que os vinhos brancos como esse foram os mais marcantes e festejados, talvez porque a mudança do paladar dos bebedores de vinho, que agora querem frescor, encontra nesse estilo mais satisfação; talvez porque nossos hábitos alimentares também mudaram e pedem mais leveza na harmonização.

Outro marco dessa época é o winebar, febre mundial que conseguiu atrair muita gente para a cultura da bebida. Tantos foram inaugurados em São Paulo neste ano que parece uma epidemia: Plou, Saída de Emergência, Cacho, só para citar alguns dos mais recentes.

Os eventos pontuais também foram eficazes para a difusão dessa cultura, como o Riesling Day, em março, quando a casta alemã é celebrada e podemos comprar com desconto vinhos fantásticos. Outros dois foram a feira de vinhos naturais Naturebas, em junho, e a Jerez Week, em novembro, ambas assunto desta coluna.

Entre as personalidades que apareceram e marcaram o mundo do vinho, a escocesa Hannah Crosbie, que começou o ano como influenciadora e criadora de memes e o encerra ocupando o cargo de crítica do jornal inglês The Guardian, é a grande revelação e a mais influente entre os jovens apreciadores da bebida. Vale seguir o perfil do Instagram dela e tentar decifrar as piadinhas que só os mais nerds conseguem captar.

Falando em memes, taí uma boa estratégia para estimular o estudo sobre uvas, regiões, produtores. De tão específicas, são quase charadas que funcionam para quem entende da bebida e domina o idioma das redes sociais. Perfis do Instagram como @Shittywinememes e @Bebiodicionário conseguiram gerar debate, espalhar tendências e também zoá-las e os personagens que estiveram sob os holofotes neste ano.

Para quem prefere se informar pelos livros, o grande lançamento de 2024 é da premiada sommelière francesa Pascaline Lepeltier: “A Thousand Vines” (Ed. Mitchell Beazley, R$ 89 no Kindle), que ainda não foi traduzido para o português, mas já é referência. No Brasil, títulos como “Vinho Natural” (Ed. Afluente, R$ 140), de Lis Cereja, os guias editados pela Inner (especialmente o “Descorchados”) e a tradução “A Volta ao Mundo em 80 Vinhos” (Ed. Valentina, R$ 41), do economista e enófilo norte-americano Mike Veseth, são os destaques.

Vai uma taça?

Para encher a taça com os melhores rótulos do ano, aqui vão oito ideias. Entre os espumantes, os brasileiros arrasaram demais nas borbulhas e o destaque vai para o Vita Eterna Nature (R$ 150 na loja da vinícola), que é finíssimo. Também vale provar o Amitié Nature (R$ 164 na Boccati), seco e delicado.

Entre os brancos, amei o uruguaio Pisano Cisplatino Albariño 2023 (R$ 141 na Mistral), que é salino, salivante e chic. A godello figura hoje entre as minhas mais queridas hoje e o branco Luar do Sil Godello Valdeorras D.O. 2022 (R$ 242 na Grand Cru) é maravilhoso, gordinho, bom para acompanhar comida.

O Viapiana Exóticos Laranja 2022 (R$ 199 na loja da vinícola) é um brasileiro que remete a bourbon e impressiona demais, ótimo com comida. O rosado georgiano Pheasant’s Tears Vardisperi Rkatsiteli 2022 (R$ 322 na importadora Europa) vai se transformando na taça, uma delicadeza só.

Entre os tintos, o toscano Poggiotondo Chianti Riserva “Vigna delle Conchiglie” DOCG (R$ 740 na World Wine) é algo que toda pessoa que ama vinho deveria provar na vida. E, como Rioja nunca é demais, o Viña Real Crianza (R$ 178 na Grand Cru) é uma opção clássica e ótima.