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Venezuela: Manifestação contra regime tem baixa adesão – 01/12/2024 – Mundo


A quase um mês da posse de Nicolás Maduro para seu contestado terceiro mandato à frente da Venezuela, dezenas de pessoas foram às ruas do país em protesto contra o regime. A baixa adesão configura um fracasso para a oposição, que havia convocado atos massivos.

Os manifestantes pediram a libertação de presos políticos, a maioria detida durante os protestos que ocorreram após o ditador Nicolás Maduro ser declarado vencedor. O mandatário reagiu chamando os opositores de “pessoas tóxicas”.

A manifestação foi convocada pela líder opositora María Corina Machado, que está na clandestinidade e não compareceu ao ato.

Os manifestantes pediram que o Tribunal Penal Internacional (TPI) —que já investiga possíveis crimes contra a humanidade cometidos pelo regime venezuelano— pressionasse pela libertação de pouco mais de 1.900 detidos, incluindo 42 menores de idade, segundo a ONG Foro Penal.

“Estou cansada de viver em um país com tanta ditadura, quero ter liberdade”, disse uma manifestante que pediu para não revelar seu nome, temendo ser presa. Ela vive no bairro 23 de Enero, um reduto chavista controlado por grupos aliados ao governo.

Maduro foi declarado reeleito após as eleições de 28 de julho para um terceiro mandato consecutivo de seis anos pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), aliado ao chavismo. A oposição, liderada por Machado, e diversas organizações internacionais acusam Maduro de fraudar as eleições.

“Acho que a situação chegou ao limite”, disse durante o protesto uma mulher que se identificou como María Cecilia Pérez, embora admitisse que não era seu nome verdadeiro.

“Internacionalmente, precisam agir”, continuou, escondendo o rosto com uma máscara marcada com batom vermelho, símbolo adotado pela oposição para representar o sangue das vítimas dos protestos pós-eleitorais.

Em um ato paralelo, Maduro ironizou o uso do batom vermelho: “As pessoas tóxicas que pintam a boca de vermelho em vez de saírem para festejar… devemos pintar nossas bocas de vermelho? O único que temos bem pintado de vermelho é o coração bolivariano e chavista”.

“Senhora tóxica”, disse ele em referência a María Corina, “se você não pode parar de odiar e deixar a Venezuela seguir seu caminho de recuperação e prosperidade, pelo menos não cause mais danos. Basta!”

Embora o ato tenha tido baixa participação na Venezuela, houve adesão em várias cidades pelo mundo, incluindo Bogotá, Buenos Aires, Washington e Madri.

Os atos vinham sendo convocados havia semanas por María Corina. Embora tenha sido impedida de se candidatar nas eleições presidenciais de julho, ela liderou a campanha pelo seu substituto e, segundo a oposição e institutos independentes, verdadeiro vencedor do pleito, Edmundo González.

A eleição foi seguida de massivos protestos nas ruas da Venezuela, que posteriormente minguaram após a repressão do regime prender cerca de 2.000 pessoas —número que inclui jornalistas, ativistas e menores de idade. Em novembro, a ditadura libertou mais de 200 deles, mas ainda deixou centenas deles detidos.

As ameaças de prisão chegam até mesmo a nomes conhecidos da oposição, como González e a própria María Corina. O diplomata se exilou na Espanha após ser alvo de um mandado de prisão pelos supostos crimes de conspiração, usurpação de funções, incitação à rebelião e sabotagem —acusações semelhantes às feitas contra a líder e contra críticos em geral do regime.

As imputações a ambos se referem principalmente à iniciativa de divulgar as atas de votação do pleito. No dia das eleições, a oposição recolheu esses documentos, equivalentes aos boletins de urna brasileiros, e em seguida os publicou em um site.

Segundo as atas, conferidas por diversas entidades, González venceu a eleição presidencial com mais de 67% dos votos, contra 30% de Maduro. Mesmo sem divulgar os documentos que diz ter em mãos, contrariando a lei venezuelana, a ditadura afirma que o chavista venceu a disputa para um terceiro mandato com 52% dos votos.

A oposição costuma afirmar que González vai voltar da Espanha para tomar posse no dia 10 de janeiro —cenário que parece impossível de ocorrer atualmente.

Na última quarta-feira (27), por exemplo, o ministro de Interior e Justiça venezuelano, Diosdado Cabello, ameaçou o diplomata de prisão em seu programa na TV estatal. “Presente para Edmundo González”, lia-se em um cartaz acima de uma caixa transparente com algemas. “São de verdade, não são de plástico”, afirmou o aliado de Maduro.

Além de bravatas como essa, típicas da comunicação do regime, a ditadura avança também no campo legal. Na quinta (28), a Assembleia Nacional da Venezuela, controlada pelo chavismo, aprovou uma lei que prevê prisão de 25 a 30 anos para quem apoiar as sanções internacionais contra o país, além de banimento de cargos públicos por até 60 anos —ou seja, praticamente uma punição vitalícia.

O texto, aprovado de forma unânime, ainda prevê multas de mais de US$ 1 milhão para pessoas físicas, US$ 50 milhões para empresas, e o fechamento de emissoras de rádio e televisão que apoiarem sanções.

A nova onda autoritária no país respingou até no Brasil, considerado até então um aliado de Caracas na região após a volta ao poder do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em 2023.

Na escalada de tensão entre as duas nações, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela convocou o embaixador de Caracas em Brasília para consultas e o presidente da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, afirmou que pediria ao Legislativo para declarar Celso Amorim, assessor especial de Lula, “persona non grata”.



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