Vinho combina com Halloween? Pensei um pouco nisso esta semana, tentando achar um gancho para escrever algo aqui sobre o assunto. As comidas da festa, como chegou a nós, via Estados Unidos, certamente não combinam. Com o que você harmonizaria uma barra de pasta de amendoim coberta com chocolate, por exemplo? Vi um post da revista americana Wine Enthusiast sugerindo um sauternes para acompanhar um Snickers! Argh!
Pensei, então, em escrever sobre o conto de Edgar Allan Poe O barril de amontillado, no qual um sujeito morre afogado numa barrica desse jerez. Há até uma gravação bem bacana do ator Vincent Price lendo esse conto. Depois pensei: ninguém com menos de 50 anos sabe quem é Vincent Price e me questionei sobre o número de leitores deste blog que se interessam por literatura. Desisti de falar de Halloween.
Até que, circulando no Instagram, esbarrei com outro post da Wine Enthusiast que me levou a um episódio do podcast da própria revista chamado Histórias assustadoras de vinícolas assombradas. Isso, sim! De assombração todo mundo gosta! Escutei o episódio, é claro.
Nele, a jornalista Samantha Sette entrevista proprietários e funcionários de três vinícolas em três regiões dos Estados Unidos que afirmam de pés juntos que essas vinícolas são assombradas. São elas a Trefethen Family Vineyards, em Napa Valley, Califórnia; Miles Wine Cellars, em Finger Lakes, Nova York, e Belvoir Winery, no Missouri. A última, inclusive, posta vídeos de fenômenos estranhos em suas redes sociais.
Americanos amam um fantasma. Essas vinícolas são pontos turísticos por causa de suas assombrações. Tem gente que se hospeda nelas para encontrar os espectros. Uma delas até promove sessões para tentar contatar os espíritos que por ali rondam. Faz sentido que o Halloween apesar de ter nascido na Europa, derivado de uma festa celta, tenha ganhado a dimensão que ganhou nos EUA.
Para mim, no entanto, as vinícolas europeias têm muito mais cara de mal assombradas. Entra no porão da Caves São João, na Bairrada, em Portugal, para ver do que eu estou falando. Os vinhos, que são trazidos ao Brasil pela Vinci, são espetaculares. O segredo talvez esteja nas teias pretas que cobrem o teto e parte das paredes, algo que não é teia de aranha (tem dessas também), talvez seja um fungo.
Vinícolas na Europa, muitas vezes, ficam em prédios medievais e prédios medievais, todo mundo sabe, têm fantasmas. Eu mesma tenho uma história de fantasma em uma vinícola na Itália. Ou quase.
Em 2019, fiz uma viagem pela Itália na qual visitei a Badia a Coltibuono, na região de Chianti Classico. Os vinhos dessa vinícola, que são importados pela Mistral, eu conhecia bem e era fã. Então, achei que seria incrível passar uma noite no hotel deles que fica instalado num mosteiro do século 11 no alto de uma serra. Ainda mais que faria ali uma aula de culinária (já escrevi sobre isso).
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Realmente, foi incrível. O monastério é majestoso, por dentro, tem uma decoração aconchegante, de bom gosto. Há um jardim francês enorme e muito bem cuidado. A aula foi ótima. Depois dela, fui fazer um tour guiado com um grupo de turistas que estavam apenas visitando a propriedade.
Na hora que chegamos à cave, que como quase toda cave fica num porão, a guia disse sorridente: “Dizem que aqui tem fantasmas”. Olhei para a porta da cave, no alto de uma escada, que dava direto no salão de estar de onde saía outra escada que levava ao meu quarto. “Não fala isso porque eu vou passar a noite aqui”, brinquei. “Não é sempre”, respondeu ela rindo. “Só algumas pessoas viram”.
À noite, jantei no restaurante da vinícola com a super simpática Emanuela Stucchi, que é dona da Badia a Coltibuono junto com seus irmãos. Comemos muito bem e bebemos melhor ainda. Cheguei no meu quarto feliz e nem lembrava do fantasma. Até que tive de descer para o térreo para passar um email. Passei pelo salão de estar já meio apagado (era tarde) e vi a porta da adega aberta. Dentro, tudo escuro. Droga! Por que fui olhar?
Detalhe, como mudei a data da minha estadia na última hora, todas as suítes estavam ocupadas. Então, me arrumaram um quarto menor, muito bonito, mas cujo banheiro, apesar de ser só meu, era fora, no fim do corredor. Já viram tudo né? Eu, que não costumo ter medo de fantasma, confesso que tentei reduzir ao máximo minhas idas ao banheiro, hahahaha.
Não encontrei o fantasma, mas foi por pouco. Ele certamente estava lá, no fundo escuro do corredor do outro lado. As luzes eram daquelas que acendem quando você passa e apagam atrás de você. Spooky!
A solução foi abrir um vinho do Castello di Ama (a vinícola na qual eu tinha me hospedado antes) que eu tinha comigo no quarto e tomar mais umas duas tacinhas.
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