Numa cidade que oferece cada vez mais serviços de entrega à porta de casa, ir à feira provavelmente já virou um programa démodé. Lembro-me de ser criança e de observar com fascínio o abrir do carrinho de feira de metal nas manhãs de sábado, na casa dos meus avós.
Era o meu avô quem ia à feira, e às vezes, tinha a sorte de convencê-lo a me levar junto. Adultos andam sempre apressados, e a minha presença provavelmente dobrava o tempo que ele levava para fazer a feira. Mas a impaciência acabava tão logo chegávamos às barracas e minhas mãos tentavam apalpar as frutas. Aquele passo nervoso logo encontrava o ritmo da roça —urbana, mas, ainda assim, cheia de terra da mandioca fresca e das raízes do agrião.
Tamarindos. Eu me lembro bem de agarrá-los, de quebrar a casca como quem quebra um ovo, e de chupar as sementes como se fossem balinhas agridoce. “Guarda para o suco”, meu avô me dizia, enquanto me dava mais um.
Escolher as laranjas —as mais escuras são as mais doces—, sacudir o melão até encontrar um cujas sementes estivessem soltas, o que indica que a fruta está madura, puxar a folha do abacaxi —se não sair na mão, está ácido. Eu executava cada uma dessas funções como quem escolhe o brinquedo mais atraente de uma loja.
A feira é um lugar lúdico, no qual podemos atravessar um corredor inteiro de comida saudável e ensinar às crianças os nomes das frutas, dos legumes e das verduras de cada estação. Podemos, também, falar dos benefícios daquilo que escolhemos, de um jeito descontraído: a laranja protege da gripe, o melão faz bem para o coração, o abacaxi ajuda na digestão.
A feira é também uma oportunidade de a família descobrir como aproveitar integralmente cada vegetal ou fruta comprada. As cascas da laranja podem ser cristalizadas para acompanhar o café, podem ser raspadas para aromatizar um arroz ou até mesmo ir no bolo, a fruta como um todo. Das sementes de melão faz-se um “leite” vegetal maravilhoso, que pode ser consumido puro, ou incorporado nas vitaminas. Com a casca, podemos preparar uma geleia. Por falar em casca, a do abacaxi rende um ótimo “suchá”: basta lavar bem a casca, triturá-la com água e capim-santo, coar e beber com bastante gelo.
Como eu aprendi tudo isso? Conversando com os e as feirantes, a exemplo do meu avô.
Da última vez que fui à feira com a minha família, preparamos o tal do leite de semente de melão. Uma receita simples, que permite à criança se sentir orgulhosa tal como o meu avô se sentia depois de tirar a polpa da semente do tamarindo para preparar o suco para os seus netos.
‘Leite’ de sementes de melão
Ingredientes
1 xícara de sementes de melão
2 xícaras de água
Preparo
Coloque as sementes numa peneira e lave. Transfira as sementes e a água para o copo do liquidificador. Triture até as sementes se desfazerem. Coloque um voil ou um pano de prato limpo sobre uma tigela média. Despeje o preparado sobre o voil ou o pano, feche e esprema para extrair o “leite”.
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