O que o vinho significa para você? Se sua resposta for “uma paixão”, provar os vinhos da Borgonha é fundamental. Uma vez que beber um gole, há grandes chances de você se tornar um apaixonado. Os bourgognes (agora eles querem que se use o nome em francês) são frescos e delicados, ao mesmo tempo, cheios de camadas de aromas, além de serem marcantes na boca. Sem falar na cor maravilhosa dos tintos translúcidos. O problema é que são caros.
Ainda assim, os apaixonados dão um jeito bebê-los. Compram uma garrafa junto com dez amigos. Descobrem um evento no qual dá para degustar de graça (sim, isso é possível!) ou quase de graça. Fazem cursos que incluem provas desses vinhos.
Tudo indica que o número de aficionados por bourgognes no Brasil esteja crescendo num ritmo mais acelerado do que no resto do mundo. Enquanto as exportações da Borgonha para a maior parte dos países se mantiveram estáveis de 2023 para 2024, as vendas para o Brasil cresceram 17% em volume e 21,8% em valor. Isso, é claro, fez com que os olhos de produtores e negociantes se voltassem para o nosso lado. Resultado, o Brasil foi incluído na campanha “Bourgogne Wines, Take a Closer Look” (Vinhos da Borgonha, Dê uma Olhada de Perto). .
Nesta terça (13), para o meu júbilo, houve o lançamento para a imprensa dessa campanha em São Paulo com degustação de 13 rótulos. Desses, seis eram de Chablis, uma sub-região da Borgonha especializada em brancos frescos e crocantes sobre a qual não vou falar aqui porque é um mundo à parte. A Isabelle Moreira Lima falará sobre eles em sua coluna logo mais.
Quando as pessoas falam em Borgonha, em geral, referem-se aos brancos de chardonnay e aos tintos de pinot noir produzidos numa faixa estreita que vai de Dijon ao Mâcon. Uma região fria, onde predominam pequenas propriedades e onde a terra custa milhões de euros por hectare e, apesar disso, os vinhateiros são pessoas simples, que trabalham na terra e têm uma ligação forte com ela.
Contudo vendem seus vinhos por preços cada vez mais altos (veja link abaixo). Os preços se explicam porque os custos são altos, a produção é pequena e a procura excede muito a oferta.
Há uma classificação pela qualidade dos vinhedos. Um bourgogne pode ser genérico, ou seja, chamar-se apenas Bourgogne. Pode levar o nome da sub-região onde ele é produzido. Por exemplo, Côte de Beaune. Pode ser um village. Ou seja, levar o nome do vilarejo onde está o vinhedo. Ou pode levar o nome do vinhedo. Alguns vinhedos são classificados como premier cru e outros, como grand cru. A qualidade e o preço dos vinhos sobem nessa mesma ordem.
Na prática, algumas sub-regiões são mais valorizadas do que as outras. Os mais famosos (e, portanto, mais caros) vêm da chamada Côte-D’or, no norte da tal faixa. Essa se divide em Côte de Beaune e Côte de Nuit. A primeira é mais famosa pelos brancos, mas produz também tintos. A segunda produz praticamente só tintos de pinot noir. Dentro de ambas há pequenas denominações de origem ultra valorizadas como Gevrey-Chambertin ou Vosne-Romanée, com rótulos que podem custar milhares de dólares.
A ideia da campanha “Take a Closer Look” é mostrar que existem alternativas mais baratas e de qualidade entre as 84 denominações da Borgonha. Pedi uma lista de sugestões e Anne Moreau me passou os seguintes nomes. Para os brancos, os villages Saint-Aubin, Ladoix, Auxey-Duresses (todos da Côte de Beaune), Saint-Véran (Mâconnais) e o regional Mâcon. Para tintos, Givry, Mercurey, Rully (todos da Côte Chalonnaise) e Saint-Romain (Côte-de-Beaune).
Quero acrescentar as denominações Haute-Côtes de Beaune e Haute-Côtes de Nuit, que vêm de vinhedos no alto das montanhas, onde antes era frio demais para fazer um bom vinho. Problema resolvido pelo aquecimento global. Anne deu também uma sugestão que sempre dou: arrume um revendedor que entenda do assunto e cole nele. Por fim, tenha em mente que falar de bourgogne barato é como falar de uma bolsa da Prada ou de um relógio Rolex mais em conta. Barato é relativo.
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