O presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, mencionou durante uma entrevista na última sexta-feira (29) a possibilidade de renunciar temporariamente a territórios ocupados pela Rússia em troca de um convite para aderir à Otan, aliança militar ocidental que apoia Kiev no conflito.
A proposta tenta garantir alguma segurança futura ao país em uma negociação que não envolva territórios sob disputa.
Em entrevista à Sky News, emissora com sede no Reino Unido, Zelenski disse que o plano se baseia no pressuposto de que o convite para entrar na Otan deve ser feito a todo o território internacionalmente reconhecido, não apenas a uma porcentagem dele. Como a Ucrânia não poderia reconhecer qualquer porção de seu solo como russo, Zelenski cederia as parte do país reivindicadas por Moscou para a adesão se aplicar apenas ao que é controlado por Kiev.
“É uma solução para interromper a fase quente da guerra, porque podemos dar a adesão à Otan apenas para a parte da Ucrânia que está sob nosso controle”, disse. “Depois a Ucrânia poderá recuperar a outra parte de seu território por vias diplomáticas.”
A declaração representa uma mudança na retórica ucraniana. O país do Leste Europeu não costuma deixar as portas abertas para um acordo que envolva a perda de território para Moscou, que atualmente controla cerca de 18% da Ucrânia. Após anexar a península da Crimeia, em 2014, a Rússia anexou na atual guerra as regiões de Donetsk, Kherson, Luhansk e Zaporíjia, embora não as domine totalmente. Nenhuma das conquistas é reconhecida internacionalmente.
Segundo Zelenski, esse compromisso garantiria que a Rússia não voltaria a atacar seu território. Se por um lado o presidente da Rússia, Vladimir Putin, opõe-se à entrada da ex-república soviética na Otan, por outro ele exige a retirada dos ucranianos dos territórios que Moscou reivindica anexados.
No mesmo dia da entrevista, a agência de notícias Reuters afirmou ter visto uma carta em que o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Andrii Sibiha, pede a seus colegas da Otan para emitir um convite a Kiev durante uma reunião em Bruxelas na próxima semana.
O texto e a entrevista refletem o novo esforço da Ucrânia para garantir a adesão ao grupo —parte de um “Plano da Vitória” apresentado em outubro passado por Zelenski.
Na carta, a Ucrânia diz aceitar a recusa em se juntar à aliança até que a guerra termine, mas argumenta que um convite neste momento mostraria a Putin que ele não poderia alcançar um de seus principais objetivos —impedir que Kiev se torne membro da Otan.
“O convite não deve ser visto como uma escalada”, escreveu Sibiha na carta. “Pelo contrário, com a clara compreensão de que a adesão da Ucrânia à Otan é inevitável, a Rússia perderá um de seus principais argumentos para continuar esta guerra injustificada.”
A mudança de tom ocorre após Donald Trump vencer as eleições presidenciais dos Estados Unidos, no início de novembro. Crítico da ajuda bilionária de Washington a Kiev, o republicano disse durante a campanha que poderia encerrar o conflito em algumas horas, embora não tenha dito como faria isso.
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